Após o Brasil colher em 2021 a menor safra de café em quatro anos, a indústria torrefadora lida com custos em disparada, dificuldade de repasses no varejo e incertezas sobre o tamanho da colheita em 2022, que ainda depende da chegada de chuvas mais expressivas para as floradas, disse o diretor-executivo da Abic, Celírio Inácio da Silva.
Em entrevista à Reuters hoje (29), ele citou ainda que o setor carece de informações sobre os estoques no Brasil e no mundo, dados esses que seriam importantes para um melhor posicionamento após o custo da matéria-prima ter mais que dobrado ante 2020 na esteira da quebra de safra pela seca e geadas severas em julho.
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“Tem muitas especulações, muitas perguntas e poucas respostas. [A oferta em 2022] vai depender muito da florada que vai acontecer daqui a duas semanas, essa florada vai nos dar alguns índices de segurança”, afirmou Silva, diante da expectativa de chuvas no início de outubro que possam despertar as floradas.
“Estamos com vários fatores que estão nos deixando sem respostas, o que é quase imensurável é a seca que houve no segundo semestre do ano passado e ainda o primeiro semestre deste ano”, acrescentou ele, dizendo que, no caso das geadas, é menos complicado ter indicações sobre as perdas para 2022.
Uma demora na publicação dos estoques privados de café do Brasil, um trabalho realizado pela estatal Conab, também reduz as informações sobre o mercado de café do país, que além de ser o maior produtor e exportador global da commodity, é o segundo consumidor mundial atrás dos EUA, disse o executivo.
“A gente também não sabe quais são os estoques dos países importadores. Fica muito complicado saber qual vai ser a necessidade de cada um. Todas essas incertezas estão culminando em aumentos absurdos, a saca de café cada vez mais alta”, disse Silva.
Tanto o café arábica quanto o robusta/conilon subiram mais de 100% em relação ao valor do mesmo período do ano passado, para mais de R$ 1.100 e R$ 800 a saca, respectivamente, de acordo levantamento do Esalq/USP.
O cenário do mercado também deixa o cafeicultor “inseguro” neste momento, comentou Silva, o que prejudica os novos negócios.
À medida que as floradas ocorram e os produtores tenham de participar mais do mercado, para pagar contas em outubro e novembro, o dirigente da Abic avalia que pode haver mais oferta de café no mercado, com mais vendas dos cafeicultores. Ele também acredita que, enquanto houver gargalos logísticos para exportação, com falta de contêineres, o mercado interno pode se beneficiar.
REPASSE DE CUSTOS
Ele disse que a indústria tem negociado com os supermercados o repasse dos custos de forma gradativa, e que seriam necessários mais aumentos de 35% a 40%. “Há uma queda de braço, a indústria precisa repassar o preço, e o varejo não consegue repassar os preços, há uma discussão para que esse aumento seja paulatino.”
Ele comentou que a indústria já havia conseguido repassar 6% dos custos e mais recentemente fez o repasse de outros 12%.
MAIS CONILON
Uma das poucas certezas neste momento é que a indústria está ampliando o uso de café conilon/robusta nos “blends” da torrefação, após uma safra recorde dessa variedade no Brasil, que não chegou a compensar toda perda vista no arábica, tradicionalmente mais caro.
Segundo ele, a indústria costumava usar cerca 80% de arábica e 20% de conilon nos “blends”, mas essa fatia está mudando.
“A qualidade do conilon melhorou muito, e dentro dessa melhoria pode usar um pouco mais de conilon”, destacou Silva, sem especificar um percentual predominante no “blend”.
“Este percentual atualmente está mudando, por conta da safra menor de arábica”, acrescentou, lembrando que o conilon também é mais barato.
Procurada sobre o comentário da Abic referente aos dados de estoques privados, que em 2020 foram divulgados em agosto, a Conab disse que seus técnicos estão analisando as informações. (Com Reuters)
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