Atrasos nas entregas de potássio aos agricultores na “boca” da safra 2021/22 no Brasil preocupam o setor, em meio à forte demanda por fertilizantes e problemas relacionados à oferta, diante de sanções ocidentais à grande produtora Belarus, que levaram os preços a disparar mais de 200% no acumulado do ano.
Esses atrasos, embora não atinjam os grandes e médios produtores que se anteciparam nas compras, segundo especialistas, preocupam uma parte dos sojicultores, especialmente nos estados do Mato Grosso e na região do Matopiba.
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Eles temem não receber o potássio a tempo de aplicar o produto –se a aplicação não puder ser feita, as produtividades seriam afetadas. O plantio de soja está em fase inicial em Mato Grosso, com as atividades concentradas naqueles produtores que farão a segunda safra de algodão. No Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), a semeadura é mais tardia.
“Existe preocupação de quem não recebeu, de quem tem a promessa de receber, de que não consiga trazer… aí vai ter problema sério, a adubação vai ficar mais baixa, a tendência de produzir menos é grande, caso eles acabem não entregando [o fertilizante] a tempo”, disse o presidente da Aprosoja(Associação Brasileira dos Produtores de Soja), Antonio Galvan.
A aplicação do potássio varia de acordo com o solo argiloso ou arenoso e pode ser realizada até 30 dias após o plantio, disse ele. No primeiro caso, alguns aplicam antes da semeadura, para otimizar os trabalhos.
“Esperamos que não comprometa [a safra] pelo atraso. Agora, se atrasar muito, pode comprometer a produtividade dessas lavouras que não receberam esse fertilizante”, acrescentou Galvan à Reuters, revelando que ele mesmo ainda não recebeu uma parte do potássio que comprou. O agricultor tem promessa de chegada do produto em meados de outubro.
Um operador de uma grande companhia do setor de fertilizantes no Brasil confirmou à Reuters os atrasos, citando a forte demanda, os problemas decorrentes das sanções à Belarus, além da baixa produção local de potássio –o Brasil importa quase a totalidade do consumo desse insumo.
“Esse fatores estão impactando fortemente o mercado, não tenho um número [do setor], mas eu estou com 27% de atraso nesse momento”, disse o negociante, na condição de anonimato para poder falar livremente sobre o assunto.
Com as sanções ocidentais a Belarus, segundo maior produtor mundial de potássio atrás do Canadá, a demanda global por potássio está forte enquanto não entra em vigor, em dezembro, um anunciado embargo dos estados Unidos a empresas do país do leste europeu, disse o diretor da mesa de fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello.
“Como tem o prazo, os importadores de várias regiões do mundo estão tentando garantir a oferta que puderem, e por isso dá essa sensação de que está faltando potássio“, disse ele, avaliando que no Brasil, neste momento, o problema não é tão expressivo porque os agricultores maiores já receberam.
“É um problema que se avizinha, é um problema no mundo, todo mundo que faz comércio internacional é obrigado a cumprir a sanção econômica americana”, disse ele.
Mello também destacou que as importações de potássio, de janeiro a agosto, estão 6% acima do mesmo período do ano passado, mas o consumo cresceu 15% no Brasil. “Então estamos 10% abaixo, ou seja, está apertado o mercado.”
A consequência disso tudo é que os preços do potássio importado estão em US$ 750 por tonelada no porto, mais que o dobro do final de março e uma alta de mais de 200% na comparação com janeiro, disse o especialista.
Apesar disso, Mello avalia que, uma vez que a maior parte dos produtores do Brasil já comprou potássio para a próxima safra de soja, os preços mais altos no mercado global poderão prejudicar os próprios norte-americanos em 2022, caso não haja uma resolução relacionada às sanções de Belarus.
A analista Daniele Siqueira, da consultoria AgRural, também citou casos de atrasos nas entregas, mas ressalvou que eles estão concentrados em estados que plantam mais tarde, como o Matopiba. “Nos estados que começam a plantar antes, não devem ocorrer problemas. Se ocorrerem, serão pontuais”, avaliou.
Procuradas, a Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) e a AMA (Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil) não comentaram o assunto imediatamente. (Com Reuters)
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