A fabricante de pesticidas e sementes Corteva vai levar até três vezes mais tempo para se consolidar no mercado brasileiro de soja transgênica em relação ao seu desempenho nos Estados Unidos, segundo avaliação da própria empresa.
A Corteva está lançando duas novas sementes de soja geneticamente modificadas no Brasil, onde a rival Bayer AG desfruta de um virtual monopólio desde o início dos anos 2000, quando a soja transgênica começou a ser cultivada aqui.
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A Bayer tem uma vasta rede relacionamentos com vendedores e produtores, além de alianças com desenvolvedores de sementes e fabricantes no Brasil, relacionamentos que a Corteva está fortalecendo agora.
A adoção de sementes geneticamente modificadas pelo Brasil ajudou o país a se tornar o maior produtor e exportador mundial de soja. Mas ervas daninhas e pragas se tornaram resistentes aos produtos químicos que essas plantações podem suportar, levando as empresas a lançar novas tecnologias.
Estão em jogo bilhões de dólares em vendas anuais de sementes e herbicidas para no mercado brasileiro. Ganha a empresa que conseguir convencer o maior número de produtores brasileiros a adotar a suas soluções.
Além da briga por participação de mercado, as sementes que o produtor escolhe determinam o tamanho da sua produção, influenciando a oferta e os preços globais da soja. A oleaginosa anda escassa, o que levou seu preço ao nível mais alto em sete anos.
Tanto aqui como nos Estados Unidos, Bayer e Corteva dependem de empresas de melhoramento genético, que adaptam novas variedades de sementes para as condições locais de solo e clima. São as empresas de germoplasma, como também são chamadas as companhias de melhoramento, que criam cultivares nas quais suas novas biotecnologias podem ser “embarcadas.”
O desenvolvimento de novas cultivares pode levar anos, como também a capacidade das sementeiras de multiplicar as variedades que chegam.
“Inicialmente, espera-se que a adoção do Sistema Enlist no Brasil demore um pouco mais do que nos Estados Unidos”, disse a Corteva por e-mail à Reuters, pois a quantidade de variedades de sementes contendo esta biotecnologia ainda é limitada por aqui.
Nos Estados Unidos, onde o lançamento comercial da Enlist ocorreu em 2019, já havia muito mais variedades desenvolvidas quando esta recebeu as aprovações regulatórias.
A Bayer disse por e-mail que mais de 30 variedades de sementes foram desenvolvidas com a tecnologia Intacta2 Xtend para o mercado brasileiro, referindo-se à terceira geração de sementes de soja transgênica que a empresa lançou este ano, exatamente quando a Corteva chega para lhe fazer frente.
A abundância de variedades confere uma vantagem à Intacta2 Xtend sobre o Enlist da Corteva, que ainda precisa ser adaptada às condições tropicais do Brasil por empresas de genética.
A Corteva, desmembrada em 2019 após a fusão da Dow Chemical e Dupont, capturou 35% da área plantada de soja nos EUA com a Enlist em três anos.
No Brasil, a Corteva estimou que levará de cinco a dez anos para atingir esse patamar.
VANTAGEM DA BAYER
A investida da Corteva, que também lançou uma semente transgênica de soja chamada Conkesta E3 este ano, coincide com a chegada da nova plataforma Intacta2 Xtend da Bayer, que herdou os ativos da Monsanto após adquirir a empresa em 2016.
Com vasto domínio no mercado, a segunda geração de sementes de soja geneticamente modificada da Bayer – chamada Intacta RR2 Pro e lançada há sete safras – tinha 80% de market share no Brasil na safra 2020/2021, segundo a empresa alemã.
A terceira geração de sementes transgênicas da Bayer resiste ao herbicida dicamba – um produto químico no qual a empresa aposta globalmente, à medida que as culturas se tornam resistentes ao glifosato, que ainda é amplamente usado no Brasil.
E o fator dicamba pode funcionar a favor de Corteva no Brasil. Por causa do herbicida, a Bayer foi alvo de processos judiciais nos Estados Unidos, além de ter enfrentado maior escrutínio regulatório naquele país.
A Bayer concordou em pagar até US$ 400 milhões para resolver processos judiciais nos Estados Unidos, onde produtores alegram que sua produção foi danificada por vizinhos que pulverizavam dicamba.
Os problemas com a dicamba, inclusive, encorajaram os agricultores americanos a recorrer aos produtos Enlist da Corteva.
No Brasil, os produtores estão abertos a testar as novas biotecnolgias desde que elas aumentem a produtividade, mas não necessariamente aplicarão o dicamba.
“Não vou comprar o herbicida (dicamba)”, disse Eduardo Godoi, fazendeiro do Mato Grosso, Estado que é maior produtor de soja do Brasil, que experimentará o Intacta2 Xtend pela primeira vez. (Com Reuters)