O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) disse em nota ontem, que os dois pacientes internados para investigação de Encefalopatia Espongiforme Bovina, conhecida como “mal da vaca louca”, estão com suspeita da forma esporádica da Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), “considerando os aspectos clínicos e radiológicos”.
“Esta forma esporádica (de DCJ) não tem relação com o consumo de carne. Reiteramos que os pacientes estão internados no Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19 do INI e que ambos os casos não tem confirmação diagnóstica”, disse em nota o vice-diretor de Serviços Clínicos do INI/Fiocruz, Estevão Portela Nunes.
Mais cedo, a Secretaria Municipal do Rio de Janeiro informou ter recebido notificação de dois casos suspeitos de doença priônica, que em situações raras estaria associada ao consumo de carne bovina contaminada por EEB.
A notificação dos casos foi feita à secretaria pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, que confirmou em nota anterior ter recebido dois pacientes “com suspeita de EEB”.
O Ministério da Agricultura também informou, em nota, que os casos investigados não têm relação com consumo de carne bovina ou subprodutos supostamente contaminados com o mal da vaca louca.
As suspeitas foram verificadas nos municípios de Belford Roxo e Duque de Caxias. Segundo uma nota do órgão municipal do Rio de Janeiro, as notificações sobre as suspeitas foram encaminhadas à Secretaria Estadual de Saúde para desenvolvimento de ações.
Segundo o instituto, ambos estão internados no Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19 do INI. Detalhes que possam identificar os pacientes não serão divulgados em respeito à confidencialidade da relação médico-paciente, acrescentou.
Os seres humanos não contraem a doença da vaca louca, mas há dados epidemiológicos que ligam uma variante de uma rara e fatal doença degenerativa do cérebro humano, chamada doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), com a alimentação de produtos contaminados por EEB.
Esses casos raros da variante são conhecidos como vDCJ.
Desde que a vigilância da DCJ foi instituída no Brasil, nenhum caso da forma vDCJ foi confirmado, ressaltou o Ministério da Agricultura.
Conforme publicação do Ministério da Saúde, as principais formas clínicas de DCJ são esporádicas, o que acontece em 85% dos casos, afetando pessoas mais velhas. Nessa situação não há uma causa e fonte infecciosa conhecida, nem relação de transmissibilidade comprovada de pessoa a pessoa.
Há ainda a forma hereditária de DCJ, entre 10% a 15% dos casos da doença, decorrente de uma mutação no gene que codifica a produção da proteína priônica, e a iatrogênica, que acontece como consequência de procedimentos cirúrgicos, conforme uma publicação do ministério.
Há também a variante de DCJ, essa sim associada ao consumo de carne e subprodutos de bovinos contaminados.
O Ministério de Agricultura reforçou que a maior incidência de DCJ ocorre de forma esporádica e tem causa e fonte infecciosas desconhecidas.
De acordo com informações disponíveis no site do Ministério da Saúde, entre os anos de 2005 e 2014, foram notificados, no Brasil, 603 casos suspeitos de DCJ.
Mais cedo, a Reuters informou os casos suspeitos com base em duas fontes com conhecimento do assunto.
VACA LOUCA ATÍPICA
A notícia da investigação pela Fiocruz é divulgada dois meses depois de o Brasil registrar dois casos “atípicos” da chamada doença de vaca louca em bovinos, um em Minas Gerais e outro em Mato Grosso, o que resultou em um embargo nas exportações para a China desde o início de setembro.
Os casos foram considerados “atípicos” por serem de um tipo espontâneo, e não por transmissão no rebanho.
De acordo com a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês), casos “atípicos” não oferecem riscos à saúde humana e animal, e são em geral detectados em bovinos mais velhos.
O embargo da China, entretanto, fez as exportações de carne bovina do Brasil, maior exportador mundial, despencarem pela metade em outubro.
(Com Reuters)