O Brasil é um grande importador de trigo, uma planta que se desenvolve em clima frio. Mas ela pode ser adaptada a temperaturas mais quentes, como ocorreu com a soja. Até a década de 1960, a pesquisa sobre soja no Cerrado não existia. Hoje, é uma cultura dominante. Com o trigo, é isso que os pesquisadores da Embrapa vêm fazendo: eles estudam como adaptar esse cereal em áreas além do Sul do país. Na região do Cerrado, as pesquisas já estão bem adiantadas para Goiás, por exemplo.
Agora é a vez da Embrapa Roraima, localizada em Boa Vista, mostrar seu trabalho com o trigo. No início de dezembro do ano passado, os pesquisadores apresentaram a Vitrine Tecnológica, uma unidade de observação em campo do comportamento da cultura do trigo nas condições locais de cerrado. Atualmente, as plantas estão com cerca de 45 dias após a germinação, encontram-se na fase de enchimento dos grãos.
LEIA MAIS: A revolução alimentar: o futuro já está na sua mesa
Neste mês de janeiro também foram iniciados os testes de plantio em escala, em área maior no Campo Experimental Água Boa, em que serão avaliadas sua adaptabilidade às condições edafoclimáticas dos cerrados de Roraima, bem como a qualidade dos grãos produzidos, seu desempenho na entressafra da soja/milho com uso de irrigação, e sua produtividade.
Os pesquisadores vão também definir a densidade de semeadura e os níveis de adubação mais adequados, realizar estudos de sanidade e avaliar a qualidade da farinha produzida, podendo ser uma alternativa para os produtores de grãos nos cerrados de Roraima. A expectativa é que, num prazo de dois anos, a Embrapa Roraima possa recomendar pelo menos uma cultivar de trigo adaptada às condições do Estado.
Segundo Edvan Chagas, chefe-geral da Embrapa Roraima, paralelamente uma rede de pesquisas está sendo estruturada em parceria com a Embrapa Cerrados e Embrapa Trigo, visando estudar todos os aspectos tecnológicos da cultura no estado. O pesquisador Vicente Gianluppi, coordenador da pesquisa, ressalta que essa parceria poderá gerar resultados ainda mais positivos, vez que as cultivares mais adaptadas à região têm chances de ser cultivadas nos cerrados da Venezuela e Guiana, propiciando novos negócios para os agricultores brasileiros.
Produzir o grão em escala poderia aliviar a balança comercial dessa commodity. No ano passado, o Brasil, importou 5,7 milhões de toneladas de trigo por US$ 1,5 bilhão, cerca de metade da demanda. A Argentina é um dos maiores fornecedores do grão.