Termina hoje (18), na cidade de Austin, no Texas, a South by Southwest (SXSW), um dos mais longevos e famosos festivais de inovação do mundo. A Forbes Brasil esteve presente e vários conteúdos estão disponíveis no site, na sessão ForbesTech.
Pessoas de todos os matizes ideológicos, políticos, culturais e profissionais se encontraram nos inúmeros espaços dedicados a investidores, amantes da tecnologia, cinema, arte, design e, cada vez mais, um público engajado nos caminhos de como o mundo resolverá um dos desafios mais prementes da humanidade: a segurança alimentar, para que não falte comida, e a saudabilidade dos alimentos que vão para a mesa. O maior festival de inovação do mundo também passa pelo campo.
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Foram cerca de 150 palestras e 12 eventos paralelos dos mais diversos. Como a exibição de filmes, entre eles Gather, que mostra o resgate da cultura alimentar dos nativos norte-americanos, a desafios sociais na compreensão dos processos de produção alimentar em larga escala. “Sempre somos abordados por pessoas que nos perguntam, você pode explicar o movimento da comida indígena? E isso me intriga. Porque um movimento pressupõe que há um começo e um fim. Mas sempre estivemos aqui, estaremos aqui depois, quando todas essas conversas terminarem”, disse em uma mesa de discussões, A-Dae Romero-Briones, diretora do Native Agriculture and Food Systems, programa do First Nations Development Institute, parceiros na realização do filme. “Em algum momento, nos desconectamos de nossas histórias, assim como nos desconectamos de nossos alimentos”, afirmou A-Dae. “Nós nos tornamos essas máquinas de contagem de nutrientes e calorias… temos que reconhecer que somos todos histórias vivas e respirando.”
Em outra mesa, exatamente sobre estar no campo, um público atento ouviu Soren Bjorn, presidente da Driscoll’s, maior produtora de frutas dos EUA, como morangos, mirtilos, framboesas e amoras, com sede na Califórnia, negócio de um século e na quarta geração familiar. Bjorn foi convidada para a exibição de “The Last Harvest”, filme lançado recentemente. “Se você refletir sobre os últimos dois anos vivendo essa pandemia, a realidade é que há comida nas prateleiras [do supermercado] todos os dias. E isso só foi possível pelo fato de os trabalhadores agrícolas aparecerem para trabalhar todos os dias”, disse Bjorn. Sem o trabalhador agrícola, o setor – e a indústria de grãos em particular – não pode existir, argumenta o executivo.
Ele falou sobre o papel essencial que os trabalhadores rurais desempenham no sistema alimentar, a escassez global de mão de obra e o desafio de manter uma fazenda em alto nível tecnológico. “É por isso que criamos o documentário: para desafiar todos nós a fazermos esse debate.”
O The Future of Food Festival SXSW, ou “O futuro da comida no SXSW 2022” foi organizado pela Food Tank, organização que reúne uma comunidade global de cerca de 50 instituições “em busca de alimentos seguros, saudáveis e nutritivos”. Dentro do espírito do evento, tecnologias e inovações tomaram a maior parte da agenda. De novas formas de se alimentar, proteção da natureza, máquinas e manejos que vão pautar as empresas e produtores rurais.
Por exemplo, “O futuro da tecnologia começa na fazenda” foi uma das mesas do dia 12 de março, sobre os 9,7 bilhões de pessoas no mundo em 2050. Jahmy Hindman, diretor de tecnologia na John Deere desde julho de 2020, foi um dos convidados. Ele colocou como aproveitar a tecnologia avançada e a autonomia para fazer mais com menos, utilizando IA, robótica e outras tecnologias que podem ajudar os produtores a gerenciar suas lavouras e tornar as safras cada vez mais produtivas. Ou seja, como a tecnologia pode tornar uma fazenda autônoma para avançar de forma sustentável na produção de alimentos.
São temas que impactam, principalmente a indústria do alimento. Sobre o mundo corporativo, Julie Kunen, diretora de sustentabilidade da Oatly nos EUA, empresa sueca de alimentos, falou que “as empresas podem regenerar a agricultura”. São as tecnologias sustentáveis nas mãos dos agricultores que darão as respostas que o mundo busca.
Mas os caminhos nem sempre são lineares. Robert Nathan Allen, diretor-executivo da Little Herds, organização educacional sobre benefícios nutricionais e ambientais sobre insetos comestíveis e a agricultura desses insetos, falou sobre disrupções na alimentação, principalmente para as sociedades ocidentais. Em 2014, Allen trabalhou com o Aspire Food Group para iniciar a primeira fazenda de insetos comestíveis no Texas. A pandemia de Covid19, um tema recorrente, voltou nessa mesa: “pandemia da Covid19 mudou o foco de “alimentar pessoas com insetos” para “alimentar pessoas e ponto final”.
As várias maneiras de incluir proteínas na dieta, além das carnes e lácteos como conhecemos hoje, pautou discussões sobre a recente explosão de alternativas lácteas de plantas, aveia e nozes, proteínas de soja, cogumelos, algas e, claro, os insetos. O futurismo foi, também, recorrente nas mesas, como a agricultura celular.
Não por acaso, Emily Ma, engenheira mecânica e head da Food Google, que lidera uma equipe multifuncional para organizar as informações sobre alimentos do mundo, foi uma das presenças aguardadas. Na sessão em “futuras interseções de alimentos, tecnologia e cultura”, ela falou sobre “como podemos aprender com o passado para criar tecnologias que desbloqueiem um sistema alimentar mais justo, equitativo, sustentável e escalável”.