A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) criou a primeira coleção que compila diferentes espécies da baunilha no Brasil. O banco de germoplasma, como é chamada a estrutura que armazena o material genético, reúne cerca de 70 amostras de orquídeas do gênero Vanilla e é o único do mundo com um grande volume focado em plantas com origem na América do Sul. Segundo nota da entidade, a coleção apoiará o melhoramento genético da baunilha e a domesticação da espécie no Brasil, pois sua produção ainda ocorre de maneira extrativista.
“A nossa coleção é inédita porque o Brasil possui inúmeras espécies silvestres do gênero Vanilla que nunca foram exploradas e que recentemente passaram a ter valor, podendo ser usadas não só no segmento da gastronomia como na indústria de cosméticos”, explica Roberto Vieira, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) e líder do projeto de pesquisa sobre as baunilhas.
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As orquídeas de baunilha estão presentes em todos os estados do Brasil, mas hoje apenas três espécies se destacam no mercado: Vanilla bahiana, Vanilla chamissonis e Vanilla pompona. A primeira delas, por exemplo, já é utilizada na produção de um perfume avaliado em cerca de R$ 200 e produzido pela Natura. O potencial econômico da baunilha também pode ser explorado na gastronomia. No Madagascar, principal produtor da espécie no mundo, o quilo de favas gourmet da especiaria chega a ser vendido por cerca de US$ 80.
Justamente por esse potencial econômico, a Embrapa já está trabalhando na criação de uma cartilha com informações técnicas explicando desde a produção de mudas até o processamento dos frutos da baunilha. A ideia é disponibilizar o conteúdo até o final de 2022. “A expectativa é sair do modelo extrativista e passar para o cultivo”, explica Vieira sobre o projeto.
A baunilha além da gastronomia e cosméticos
A criação do banco coloca a Embrapa ao lado de importantes entidades científicas como a Universidade da Califórnia, o Indian Institute of Spices Research e o Cirad (Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento), instituição francesa que mantém 200 acessos de 30 espécies da baunilha.
O banco também traz a oportunidade de pesquisadores brasileiros estudarem o potencial da espécie na busca e criação de materiais resistentes a doenças. “A baunilha sofre muito por problemas sanitários, como viroses e fungos. Do material genético coletado pela equipe do projeto também esperamos encontrar materiais com genes resistentes a essas doenças, especialmente Fusarium, que é um fungo muito crítico nas baunilhas”, afirma Vieira.
A descoberta de formas para manter a saúde da baunilha e auxiliar sua produção em maior escola pode colocar o Brasil à frente do Madagascar e Indonésia, os dois maiores produtores da espécie. Hoje ambos os países estão passando por uma redução de produtividade e não têm a capacidade de ampliar sua base genética para estudos de proteção da cultura.