Na noite de ontem (31), em um dos cinemas do Conjunto Nacional, local dos mais tradicionais entre os cinéfilos paulistas, um público de cerca de 200 pessoas assistiram à premiere do documentário “Brasil Novo – Conflitos do Desenvolvimento”. Caio Penido, ambientalista da pecuária que foi mentor da Liga do Araguaia, hoje um instituto agroambiental, e presidente do Imac (Instituto Mato-grossense da Carne), é o responsável pela obra.
Mas nela, ele se identifica como Caio Vecchio, como é conhecido entre os artistas por conta de sua vida exclusivamente dedicada ao cinema desde meados dos anos 1990, quando começou sua carreira como assistente de produção. Não por acaso, Caio se tornou sócio diretor da Encruzilhada Filmes e, claro, produtor rural na Agropecuária Água Viva, no município de Cocalinho (MT), no magnífico Vale do Araguaia, que por muito tempo foi chamado de Vale dos Esquecidos. Caio é um dos protagonistas que vem ajudando a mudar essa pecha.
Em seu documentário – o produtor, rural e artístico –, propõe uma reflexão sobre as dores de uma juventude encurralada pelo medo de um desastre climático global. Em forma de uma grande entrevista, ele vai em busca de respostas para o que hoje é denominado ansiedade climática da juventude, termo cunhado com base em um estudo recente que aponta nessa parcela da população um descrédito no futuro, levando-os a repensar em um projeto de família.
“Nos últimos tempos estava nessa bolha do agro ambiental, circulando com as ONGs e com os produtores de Mato Grosso, fazendo bastante coisas, mas não estava conseguindo atingir o público urbano”, diz Caio. “Então, fui resgatar meu lado comunicador, o velho Caio da juventude, e daí nasceu a vontade de escolher o cinema para dialogar com essa população urbana e jovem.” Até domingo (4), haverá exibições do documentário no Centro Cultural São Paulo, sempre no final da tarde, com entrada gratuita. A obra também estará disponível no site da Encruzilhada Filmes.
Para o restante do país e uma agenda internacional, como levar o filme para a COP27 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), das Nações Unidas e que acontece em novembro no Egito, Caio diz que está trabalhando nessa agenda. Além dos depoimentos de personalidades brasileiras, entre eles artistas, comunicadores, pesquisadores, acadêmicos, entre outros, o documentário traz cenas dos protestos ocorridos na COP26, realizado em novembro de 2021 em Glasgow, Escócia, basicamente liderado por jovens, como um dos elementos de reflexão no documentário.
Caio acompanhou esse movimento e como colunista da Forbes Agro, trouxe um retrato do que estava acontecendo. “Acho que esse filme tem um papel importante no debate internacional, porque traz o debate também sobre o PSA (Pagamento por Serviço Ambiental), uma justiça ao Brasil seria essa remuneração pelo serviço ambiental prestado ao planeta.”
Após a exibição do documentário, o público presente à premiere participou de um debate com Caio e dois convidados: o engenheiro agrônomo André Guimarães, diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e Edmara Barbosa, escritora e roteirista de telenovelas brasileiras, com trabalhos que marcaram época, entre ele Velho Chico, escrita em parceria com seu pai, o também dramaturgo Benedito Ruy Barbosa. Ela também é produtora rural, onde pratica a chamada agricultura sintrópica, que é um modelo desenvolvido pelo pesquisador e agricultor Ernet Götsch no qual os processos naturais sustentam o manejo no campo, como ocorre em uma agrofloresta.
“A gente precisa contar o que tá acontecendo, porque as pessoas têm o direito de saber. E também contar para essas pessoas que têm solução”, afirma Edmara, que falou sobre suas experiências como produtora de conteúdo e como agricultora. Para ela, o documentário propõe uma agenda humana, de vida e carinhosa. Guimarães, que há 30 anos trabalha como conservação ambiental aliada à produção de alimentos, resgata essa proposta. “A gente tem que conectar alguns sensores que ficaram desconectados ao longo do tempo.
Porque a vida da gente é como um chão com as raízes que nos trouxeram”, afirma. “Estamos vivendo na humanidade um momento de transição difícil porque a gente está no olho do furacão dessa mudança de paradigma que o filme do Caio coloca. Evoluímos ao longo de 250 mil, 300 mil anos, com uma visão expansionista, mas esse modelo está fadado. O filme traz essa agenda que transcende o nosso dia a dia e as decisões que a gente tem que tomar.”