Se confirmadas as expectativas do mercado e a mistura de biodiesel ao diesel atingir 15% (B15) em março de 2023, a Caramuru Alimentos pretende utilizar toda sua capacidade produtiva para elevar a fabricação e as vendas do biocombustível em até 40%, disse à Reuters uma executiva da empresa hoje (08) em estimativa preliminar.
Atualmente, a companhia produz entre 380 milhões e 390 milhões de litros de biodiesel, mas a capacidade de produção da empresa pode chegar a cerca de 550 milhões de litros com três plantas, informou a coordenadora de mercado da Caramuru, Janaina Lemes.
“Se vier B15, a Caramuru vem com capacidade total de produção… e a meta vai ser vender toda (a produção), vai trabalhar para vender”, afirmou a executiva durante evento em São Paulo.
Nesse cenário, a companhia fez um exercício com dados de órgãos como USDA, Abiove e ANP sobre o complexo soja, projetando vendas totais de biodiesel do Brasil em torno de 9,03 bilhões de litros para o ano que vem, versus 5,64 bilhões em 2022, quando a mistura foi de 10%.
A projeção para 2023 considera aumento para B14 em janeiro e B15 a partir de março, conforme um cronograma do governo que foi abandonado em 2022, quando a mistura deveria ter sido de 14% na maior parte do ano.
No cenário de B15 na maior parte de 2023, segundo a executiva, o consumo de óleo de soja para a produção de biodiesel poderia avançar a 8,13 milhões de toneladas, ante 5,08 milhões neste ano.
O subproduto da soja é a principal matéria-prima do biocombustível, responsável por cerca de 70% de sua composição.
“O que seria mais penalizada é a exportação de óleo de soja, que pode cair a 300 mil toneladas no ano que vem… Nós queremos ser um país que investe primeiro no mercado interno e depois na exportação”, disse ela.
Em 2022, as exportações de óleo de soja estão estimadas em elevado patamar de 2,2 milhões de toneladas, diante de uma lacuna de óleo de girassol no mercado internacional deixada pela Ucrânia, em função da guerra com a Rússia, e aumento de demanda da Índia ao produto brasileiro.
Nos dados compilados pela Caramuru, a tendência é de que a produção de soja na safra 2022/23 alcance o recorde de 152 milhões de toneladas, fato que, somado à demanda adicional para o biodiesel, permitirá um incremento na fabricação de óleo em 3%, para 10,2 milhões de toneladas.
“Oferta tem mais do que suficiente para atender o B15”, acrescentou a coordenadora.
Na véspera, representantes da indústria de biodiesel presentes em evento da BiodieselBR se mostraram confiantes com a manutenção do cronograma previsto para o aumento na mistura do biocombustível ao diesel para o ano que vem. Eles pretendem começar a interlocução com a equipe de transição do novo governo federal para enfatizar esse pleito.
Apesar de divergências ideológicas de parte do agronegócio com o PT do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o setor de biodiesel reconheceu que as gestões petistas sempre tiveram uma atenção especial com o biocombustível, e desta vez não esperam que seja diferente.