Pela primeira vez desde sua criação em 1995, a COP (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) conta com um pavilhão dedicado inteiramente à “Alimentação e Agricultura”. São 250 metros quadrados onde empresários e produtores brasileiros e de outros países estão se encontrando para fechar negócios. A 27ª edição do evento, que acontece até o dia 18 de novembro, reúne representantes de 196 países e é um marco anual nos debates sobre soluções para frear as mudanças climáticas em escala global. A criação do novo pavilhão é reflexo do peso que o agronegócio e a produção de alimentos vêm ganhando para sustentabilidade e redução de emissões de gases de efeito estufa.
“Há muitas caravanas, com diferentes missões, vindas do Brasil. O estande é o maior já montado pelo país no evento e ele está sempre cheio”, afirma Rodrigo Dias, CEO da ConnectFarm, agtech convidada pelo CSS (Centro Sebrae de Sustentabilidade) e pelo MMA (Ministério do Meio Ambiente) a integrar a delegação brasileira da COP27. “Em todos os lugares ouvimos que essa é a COP do ‘vamos fazer’. Ela marca o momento de realmente assumir os acordos, porque nas últimas convenções houve muita discussão e praticamente nenhum dos países se comprometeu a fazer as coisas acontecerem”.
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Segundo Dias, mestre em agricultura de precisão pela Universidade Federal de Santa Maria (RS), o principal destaque brasileiro no evento é a Amazônia e o que pode ocorrer com a floresta. Governos e entidades presentes na COP27 enxergam o bioma como “um grande potencial sequestrador de carbono e grande fornecedor de carbono para o mundo”.
Não à toa, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) lançará amanhã (11) na conferência o “Projeto Rural Sustentável – Amazônia”. Com cerca de R$ 50 milhões, o programa vai fomentar, durante os próximos quatro anos, seis cadeias produtivas sustentáveis situadas no bioma: açaí, cacau, castanha-do-Brasil, pirarucu (de manejo), peixes redondos e café. O projeto é parte de um investimento de US$ 84 milhões (R$ 445,9 milhões) anunciado em 2012 pelo Financiamento para o Clima do Reino Unido, por meio do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), e que vem sendo aplicado desde então. O fundo apoia tecnologias como recuperação de áreas degradadas, ILPF (Integração Lavoura, Pecuária e Floresta) e manejo sustentável de florestas.
Para Luis Felipe Adaime, fundador e CEO da Moss, climatech brasileira que comercializa crédito de carbono, apoiar florestas e programas de agricultura regenerativa são as principais estratégias para o país se fortalecer como o maior player mundial de sustentabilidade e reduzir o desmatamento na Amazônia. “O Brasil é a Arábia Saudita do carbono. Temos o potencial de gerar metade dos créditos de carbono do mundo, mas hoje só geramos de 5 a 10%”, diz.
Adaime, que é formado em administração pela Universidade de Stanford, acredita que mostrar o potencial do mercado de carbono é uma das principais estratégias para aumentar a geração de créditos ao Brasil. “As pessoas ainda não sabem que gerar carbono dá muito dinheiro”, afirma. “Os produtores vão aumentar a rentabilidade das florestas que possuem sem perder suas propriedades. Já os investidores, ao financiar os custos de certificação, que são muito altos, são pagos em créditos de carbono e têm tido um retorno de mais de 30% ao ano.”
O potencial também é reforçado por um relatório publicado em setembro pela consultoria McKinsey. O levantamento indica que até 2030, ano-limite para o Brasil reduzir sua emissão de carbono em 50%, a demanda por créditos de carbono voluntários pode atingir entre US$ 1,4 bilhão (R$ 7,4 bilhões) a US$ 2,3 bilhões (R$ 12,2 bilhões). Aproveitando o clima de COP27, ontem (9) a McKinsey complementou seu levantamento e indicou que “projetos de agricultura regenerativa e redução de metano podem cortar as emissões da agricultura no Brasil de 373 milhões para 160 milhões de toneladas de CO2 equivalente até 2030”.
O relatório também afirma que uma das avenidas associadas à economia verde, em que o país pode se destacar, é a da geração de energia renovável. Grandes empresas do agro já têm se movimentado para aderir a essa tendência, como o grupo Bom Futuro, um dos maiores produtores de grãos do país, que opera 11 usinas hidrelétricas e 3 usinas fotovoltaicas em Mato Grosso. Uma delas utiliza o formato híbrido, misturando hidro e solar, em uma parceria com a Enerzee, de Cuiabá (MT), empresa de placas fotovoltaicas e que também está presente na COP27.
Alexandre Sperafico, CEO da Enerzee, acredita que o agro também ganha força na corrida à sustentabilidade por sua boa adesão aos projetos de energia renovável. “O agronegócio tem adotado essas soluções cada vez mais em suas áreas agrícolas, onde o consumo energético é maior. Então, a chave é continuar o que vem sendo feito e controlar cada vez mais o gasto com energia elétrica.” O setor da agropecuária representa 13% da energia solar produzida no país, com 1,9 gigawatt produzidos diretamente em propriedades rurais, segundo dados da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) divulgados em outubro. “O agro do Brasil já está muito evoluído em várias práticas de sustentabilidade, mas ainda tem espaço para colocar cada vez mais energia limpa dentro dos grupos de agronegócio”, afirma Sperafico.