Segunda-feira (12) foi para o calendário da equipe de planejamento do Cubo Agro um dos dias mais importantes de 2022. Reunidos, o grupo que contou também com startups e empresas investidoras traçou o que poderia ser chamado de ano da consolidação. Isso porque a principal meta é dobrar o número de startups no ecossistema, que hoje conta com 130. As startups do Cubo Agro buscam soluções para desafios do agronegócio em biotecnologia, inteligência artificial, mercado financeiro e outras.
A vertical completou um ano em junho. O Cubo Agro foi a mais recente investida de um projeto maior, o Cubo Itaú, espaço idealizado em 2015 pelo Itaú Unibanco, que tem na presidência do conselho de administração, Pedro Moreira Salles, na lista dos 10 maiores bilionários do Brasil, em parceria com o fundo norte-americano de venture capital Redpoint Ventures. O Cubo nasceu para criar pontes entre empreendedores, empresas, investidores e grupos de ensino. No caso do agro, nasceu para juntar “os dois Brasis que dão certo, o do empreendedorismo tecnológico e o do agro”, diz o economista Pedro Prates, cofundador dessa vertente e que está no Itaú desde 2014.
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Mirella Lisboa, head de corporates do Cubo Itaú, e que já passou por empresas como Dow Chemical, Falconi, Vigor e Basf, onde era gerente de inovação aberta e ecossistemas digitais, diz as conquistas do primeiro ano de funcionamento do Cubo Agro já deram os parâmetros do que precisa ser intensificado. “O país tem um potencial enorme no agronegócio e ainda há muito campo para inovar no setor”, afirma. Sem abrir detalhes, Mirella diz que em breve haverá novidades.
No ano passado, entre aportes e investimentos gerais em startups, o Cubo Itaú movimentou R$ 3 bilhões, destinados a cerca de 400 startups. Para todas as categorias, são 1.500 startups em ESG, varejo, logística, marítimo e portuário, educação, saúde, mobilidade, além do agro. Para as startups do Cubo Agro já foram captados cerca de R$ 940 milhões. As interações entre empresas e startups resultaram em 28 provas de conceito, testando de diferentes maneiras a viabilidade técnica das tecnologias desenvolvidas. Também foram lançados 44 desafios pelas companhias, uma forma de encontrar soluções que ainda não foram criadas para problemas que envolvem grãos, celulose, máquinas agrícolas, entre outras demandas do agro.
Mas a equipe de comando do trabalho no agro diz que fortalecer o setor não se traduz em quantidade de atores conectados. Por isso, ser uma startup nesse ecossistema é quase como pertencer a um clube de elite, sinal de prestígio e possibilidade de ser visto como uma aposta alta no mercado. Entre as maiores empresas investidoras, além do Itaú BBA, estão gigantes como Corteva Agriscience, Grupo São Martinho, CNH Industrial e Suzano. Neste primeiro ano de existência, o Cubo Agro estima ter realizado cerca de 200 conexões entre startups e empresas.
Mais recursos e mais conexões
A aproximação resulta em mais recursos em mãos. Neste ano, um dos principais aportes foi feito pela da Suzano, que está entre as maiores empresas de papel e celulose no país. Para apoiar as startups do agro, em agosto, a companhia lançou um fundo de CVC (corporate venture capital) no valor de US$ 70 milhões (cerca de R$ 370 milhões na cotação atual), que está sendo direcionado a apoiar startups que desenvolvem soluções para a bioeconomia.
Do total de startups do agro, 33 estão instaladas fisicamente na sede do Cubo Itaú, que toma parte dos 13 andares de um prédio na Vila Olímpia, na capital paulista, onde há até um auditório para grandes eventos. As demais startups, que podem ser de qualquer parte do país, estão ligadas ao Cubo Agro de modo digital. Matheus Borella, líder de agrointelligence do hub, diz que para 2023 a intenção é fazer com que as startups estejam mais presentes. “Nossa missão é que a gente se consolide como um local em que as agtechs precisam estar em algum momento, tanto como membro ou consumindo o conteúdo [da plataforma digital]”, afirma Borella.
Segundo Mirella, uma das tarefas é também olhar com cura o perfil de fundadores das startups que se candidatam a um espaço no Cubo Agro. “Analisamos de onde vieram essas pessoas, porque resolveram empreender com tecnologia, se conhecem o mercado e se tem uma história pessoal com o setor”, afirma. “Avaliamos muito o momento da startup, se ela já está numa fase de escala e com o produto validado no mercado.”
Uma das agtechs que participou de processos e que serve de exemplo do que ocorre no Cubo Agro é a Bart Digital. Fundada em 2016, a startup realiza a digitalização de processos de financiamento agrícola. Atualmente, desenvolve projeto com a Corteva, multinacional de sementes que neste ano deve faturar US$ 400 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões).
“Fomos contatados pela empresa que tinha buscado o Cubo para lançar um desafio”, explica Mariana Silveira Bonora, CEO e fundadora da Bart. Para a Corteva, a Bart Digital desenvolveu um sistema para conciliar os pagamentos e o transporte de grãos da companhia. Com os agricultores, a Corteva troca seus produtos por grãos, justamente um escambo (ou troca) que tecnicamente é chamado de bart no mercado. “Para uma startup tracionar ela precisa de clientes”, diz Mariana. “Ter um parceiro estratégico é extremamente positivo. Por isso, queremos aumentar o nosso time no ano que vem e adotar um espaço maior no hub.”
Em busca de startups no exterior
Espaços cada vez maiores, não importa onde estejam, fazem parte da estratégia de aceleração do Cubo Agro e eles não estão restritos aos limites geográficos do país. Algumas das startups que já integram o Cubo Agro possuem sua operação principal fora do Brasil. Entre elas estão a Arable, dos Estados Unidos; a AgroScout, de Israel, e as Agrofy, Agrotoken, Kuna e Auravant, todas da Argentina.
O grupo deve servir de exemplo de atração. A Arable, por exemplo, foi fundada em meados de 2014, está em 30 países nos quais atende 300 clientes e já recebeu US$ 40 milhões para trabalhar a resiliência climática na agricultura e acelerar o desenvolvimento de produtos. Entre eles, criou uma ferramenta de gerenciamento de irrigação habilitada por IoT (Internet das Coisas).
No Brasil, sediada em Piracicaba (SP), a Arable iniciou um processo de prova de conceito com o grupo São Martinho, na usina Iracema (SP), com moagem de 3 milhões de toneladas de cana-de -açúcar, por safra, nessa unidade da companhia. Dois aparelhos foram testados inicialmente. Com o sucesso da ferramenta no campo, hoje são 20 aparelhos espalhados em suas quatro usinas. No total, o grupo processa 20 milhões de toneladas de cana, por safra. “O Cubo nos aproximou do grupo e permitiu um relacionamento mais próximo”, diz Pedro Lian Barbieri, gerente de operações da Arable.
O custo para uma startup fazer parte do Cubo Agro é de, no máximo, R$ 1.300 por mês, que é o preço do aluguel de uma sala no prédio da Vila Olímpia. Para as startups que não ocupam o espaço físico, o custo cai para R$ 750. O valor dá acesso a uma comunidade digital no Slack, plataforma de mensagens corporativas onde estão todas as startups do ecossistema e não apenas as de agro.
Entre outros benefícios, há, também, um banco com 56 mil currículos de profissionais e um espaço para as empresas e startups anunciarem vagas de emprego. Nesse momento, 16 startups têm 36 vagas abertas. Outra atividade permanente é a seleção de startups. Ontem, como ocorre em todas as quartas-feiras, executivos das empresas mantenedoras e do próprio Itaú se debruçam à caça de talentos para integrar o ecossistema, que hoje já está entre os maiores da América Latina.