Um cenário econômico global marcado por inflação alta e riscos geopolíticos persistentes deve limitar o crescimento de alguns dos principais importadores de produtos agropecuários neste ano, como a China e países da União Europeia (UE), o que pode afetar as exportações do Brasil seja em volume ou em preço, avaliou a consultoria Céleres nesta terça-feira.
O complexo carnes deve ter a demanda impactada tanto por parte dos chineses quanto dos europeus, enquanto produtos como soja, milho e farelo de soja têm chance de ver a procura de países da UE diminuir, disse hoje (10) à Reuters o analista da consultoria Céleres Enilson Nogueira.
Com base em informações do Fundo Monetário Internacional (FMI), a consultoria destacou em análise que o Produto Interno Bruto (PIB) da China deve crescer cerca de 4% em 2023, ante média de 6,6% ao ano entre 2013 e 2021; e o país asiático tem participação como destino de quase 40% da pauta de exportações do agronegócio brasileiro.
“A carne bovina, por exemplo, é um produto consumido pela população de renda um pouco maior na China. Se eles crescem menos, a demanda fica prejudicada”, afirmou o analista.
No ano passado, o Brasil avançou 42% em receita com a exportação de carne bovina, para 13,1 bilhões de dólares, tendo o mercado chinês como responsável por 60,9% deste resultado, conforme dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) divulgados na véspera.
A entidade alertou, no entanto, que este cenário tende a mudar em 2023 por possível pressão dos importadores chineses sobre os preços da proteína.
“Vemos suínos e aves também impactados, mas em proporção menor do que a carne bovina”, afirmou Nogueira sobre a demanda da China para as demais proteínas de origem animal.
Para Nogueira, as exportações de aves e suínos do Brasil devem ter estabilidade ou queda neste ano, por influência tanto do desempenho econômico chinês quanto europeu.
Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) divulgados nesta terça-feira indicam que o país bateu recorde em embarques de frango em 2022, com 4,6 milhões de toneladas, mas a China –principal compradora– reduziu em 15,6% o volume adquirido. A UE, por sua vez, avançou em quase 23%.
Em 2023, porém, o analista da Céleres acredita que o apetite de compras dos países europeus pode ficar mais prejudicado. No levantamento da consultoria baseado em informações do FMI, a expectativa é que o crescimento do PIB da UE não supere 1%.
“A Europa talvez seja a região que mais preocupa em relação à demanda como um todo. Os respingos da guerra na Ucrânia devem gerar mais inflação, limitando a demanda por produtos agrícolas”, disse Nogueira.
Ele também acredita em uma recuperação nos volumes de produção de grãos da Rússia e Ucrânia, o que impacta sobre o “efeito substituição” que vinha acontecendo no mercado. Em 2022, a diminuição de produtos do Leste Europeu levou importadores da UE à busca por suprimentos no Brasil, algo que pode diminuir neste ano.
“Este fator de importadores saindo da Rússia e Ucrânia e vindo para Brasil, talvez não venham na mesma intensidade”, acrescentou.
Por outro lado, o que pode estar preservado na avaliação da Céleres é a demanda chinesa para grãos do Brasil, uma vez que o controle da peste suína africana tem elevado a produção de suínos do país e, por consequência, demandado insumos para ração animal.