Os produtores rurais são bastante questionados pela sociedade sobre o processo de produção de alimentos, fibras e energia e o seu reflexo no meio ambiente. Em conversas com amigos de fora do setor do agronegócio, é sempre recebida com surpresa a informação de que existem áreas de preservação dentro de todas as propriedades rurais. Ouvimos muito falar sobre o desmatamento associado ao agro e por outro lado, ouvimos muito pouco falar sobre a preservação realizada pelo agro.
Retomo a esse assunto tão familiar ao produtor rural, mas ainda tão pouco conhecido do público em geral nesta oportunidade, pois a Embrapa Territorial (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) divulgou na última semana, um estudo baseado nos dados do CAR 2021 (Cadastro Ambiental Rural), trazendo dados atualizados sobre a preservação de vegetação nativa feita pelos produtores rurais brasileiros dentro de suas propriedades.
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Mas vamos por partes, como funciona esta preservação feita por produtores rurais? No Brasil a nossa lei ambiental, o Código Florestal determina que todas as as propriedades rurais do país, sem exceção, preservem, dependendo da região onde estão localizadas, sendo 80% da cobertura nativa no imóvel situado no bioma Amazônia, 35% no Cerrado e 20% nos demais biomas.
De acordo com a Embrapa, a área destinada à preservação ambiental dentro das propriedades rurais corresponde a 282,8 milhões de hectares, o que equivale a 33,2 % do território nacional. Portanto, 1/3 do território nacional por lei é preservado dentro das propriedades rurais.
Até fevereiro de 2021 haviam 5.953.139 imóveis rurais registrados no CAR. A maioria das áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo mundo rural está em áreas privadas. Elas representam, em média, 49,4% da área dos imóveis rurais. Essa porcentagem varia regionalmente, mas o agricultor brasileiro só utiliza, em média, 50% do seu imóvel rural. A outra metade é dedicada à preservação da vegetação nativa.
A totalidade dos imóveis rurais brasileiros não está cadastrada no CAR, no referido estudo, os dados do CAR 2021 foram cruzados com o Censo 2017 (Censo Agropecuário de 2017 do IBGE) e desta maneira obteve-se o mais atualizado e abrangente panorama sobre as áreas preservadas no nosso país. O CAR é autodeclarado, portanto existia uma controvérsia de que haveriam áreas sobrepostas. Entretanto, de acordo com a Embrapa, as áreas sobrepostas foram retiradas por meio das técnicas de geoprocessamento.
De acordo com o estudo, “a natureza e o estado dessas vegetações nativas, as fitodinâmicas existentes e as exigências de recuperação de cada uma delas, em cada imóvel rural ou estabelecimento agropecuário, requer conhecimento técnico, recursos financeiros e um grande esforço de gestão por parte do mundo rural. São milhões de casos particulares a serem considerados”. Este é o ponto onde eu queria chegar, 30% do território nacional é preservado pelos produtores, às suas expensas sem pagamentos por serviços ambientais.
Estudos como estes da Embrapa são de extrema importância, pois trazem dados científicos a uma realidade vivida pelo produtor rural, onde a preservação vem antes da produção, sem CAR, APPS (áreas de preservação permanente) e RL (reserva legal), o produtor não consegue registrar a sua propriedade, não consegue financiar, nem vender a sua produção.
Se até a década de 1970, se obtinha aumento de produtividade somente através de pecuária extrativista e abertura de novas áreas, hoje, o cenário é diferente. O aumento da produtividade é obtido de maneira sustentável e legal, através da implementação de ferramentas de gestão nas propriedades, recuperação de pastagens degradadas, seleção de cultivares adequados, pressão de seleção genética, sistemas como Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta e aumento maciço em tecnologia e pesquisa.
Convido vocês a levar estes assuntos a debate quando estiverem com amigos e família, colocando estes dados na mesa e mostrando o agronegócio de verdade, que preserva enquanto produz.
*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
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