Ao menos uma vez por semana (mas em geral são duas vezes), o advogado e administrador Frederico Logemann, 41 anos, dá expediente no Instituto Caldeira, hub de inovação criado há cerca de dois anos, em Porto Alegre, por 42 empresas de vários setores da economia. Seu endereço de fato fica a 8 quilômetros dali, na sede da SLC Agrícola, onde Logemann é head de inovação há quatro anos, depois de passar por áreas como planejamento estratégico e relação com investidores.
A SLC agrícola tem 22 fazendas em sete estados: Bahia, Piauí, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Maranhão e Goiás. Na safra 2021/2022, foram cultivados 672,4 mil hectares de soja, milho e algodão, uma das maiores áreas do Brasil. “Temos uma sala da SLC no Caldeira e desenvolvemos atividades no local, como reuniões e debates”, afirma Logemann, que também faz parte do conselho do hub. “No hub, o contato é mais direto também com quem não é do agro.”
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Quarta geração dos sucessores da holding Grupo SLC, controladora da SLC Agrícola e SLC Máquinas, entre outros negócios da família, Logemann diz que sua estratégia está muito alicerçada na visão de que a tecnologia pode distanciar a SLC Agrícola da média do agro no país.
“Se a produtividade média da soja é de 60 sacas por hectare, a gente quer fazer 70 sacas, 80 sacas por hectare”, diz ele. “Isso permite capturar margem, porque se o preço da commodity é o mesmo para todo mundo, então a chave é a produtividade. Ela vem com uso de tecnologia – e é o jogo que a gente está jogando.” Dentro da porteira, a SLC Agrícola é reconhecida como uma das mais inovadoras e tecnológicas companhias do agro. O jogo, de fato, é que a SLC está dobrando a aposta.
Em 2021, sua receita foi de R$ 4,36 bilhões, valor 40% acima do ano anterior. O lucro passou de R$ 1 bilhão pela primeira vez. “A agricultura 4.0 é caracterizada pelo uso intensivo do digital. Então, é por aí que podemos nos distanciar dos demais. Os dois primeiros movimentos nós já fizemos.”
Ele se refere aos anos de 1970 a 1990, com a compra das primeiras fazendas, a transformação dessas terras e a criação de um modelo de negócio. O segundo movimento, de 2007 a 2015, veio com o IPO, a abertura de capital na B3, com mais um crescimento agressivo de compra de terras, certificações e joint ventures. “Agora, chamamos a fase atual da tecnologia digital de ‘game changer’.”
Para definir o que vai para o campo, o que será testado e o que será implementado nas fazendas, foi montada uma estrutura de inovação formada por departamentos nos quais 83 pessoas trabalham full time. O SLC Digital Labs nasceu em 2018. Ele serve para desenvolver softwares específicos para a companhia, com foco na coordenação e na gestão da servem exclusivamente a nós”, afirma.
No ano seguinte, foi criado o CIA (Centro de Inteligência Agrícola), destinado a gerenciar novas tecnologias originadas fora da empresa. Por exemplo, ferramentas de uso de imagens de satélite para monitoramento das lavouras, telemetria e conexão de máquinas. “Na telemetria, a gente definiu qual era a velocidade ideal das máquinas para toda a área”, diz. “Se o CIA decide que são 12 km/hora para o plantio, por exemplo, é isso nas 22 fazendas. Antes uma máquina ia a 20 km/h, outra a 8 km/h, e perdíamos eficiência no todo.”
Em 2019 também foi criado o Comitê de Inovação, que tem como tarefa ponderar, direcionar e tomar as decisões do que passa pelo Digital Labs e o CIA, e que vai em frente. “Porque não podemos perder o direcionamento”, afirma Logemann. “Na transformação digital está tudo muito fragmentado, muito diferente da transformação biológica, onde uma semente é igual para todo mundo.”
Dois programas sedimentam esse movimento. O Agro Exponencial e o Ideias & Resultados. O primeiro serve para ligar startups à SLC, e o segundo, para fomentar a inovação entre os cerca de 4 mil funcionários, principalmente os das fazendas. “É importante que o movimento de inovação esteja em todos os cantos, porque as ideias podem nascer de uma prática”, diz Logemann. Para ele, “há funcionários com perfil inovador que devem ser valorizados”. Para que essa roda gire, são investidos anualmente R$ 2 milhões em provas de conceito.
Mas o maior investimento, de R$ 50 milhões nos próximos cinco anos, é no SLC Ventures, criado em 2021. A estrutura está dividida em venture builder e venture capital. O “builder” serve para impulsionar modelos de negócios transformacionais e novos produtos e serviços. “Pode ser até fora do que a empresa faz”, diz Logemann. A mais recente iniciativa foi a seleção da startup maranhense, que está desenvolvendo um ecossistema de apoio ao agronegócio familiar, o Culteverso. A ideia é colocar de pé o primeiro metaverso do agronegócio no país. “O que fazemos é um programa de aceleração.”
Atualmente há cinco projetos além do metaverso, entre eles o de biológicos e o de crédito agrícola. Já o venture capital investe em startups estabelecidas e avaliadas como promissoras. A SLC investiu neste mês de novembro na startup Pink Farms, a primeira e maior fazenda vertical urbana da América Latina, na capital paulista, uma estrutura de 10 andares de cultivo. “São startups que, se decolarem, nós queremos ir juntos como sócios”, espera Logemann. “Podem ser negócios extraordinários e lucrativos no futuro.”.
- Reportagem publicada originalmente na edição 103 da Revista Forbes.