O que pode acontecer com as startups do agro, em um momento de desaceleração das big techs que funcionam como farois de investimentos? As demissões quase em massa das big techs, como Google, Microsoft, Meta, Amazon, Twitter, SAP e PayPal, tem assustado o ambiente de inovação de modo geral. Mas, no particular, para o agro, a impressão é que não deve haver mudanças na demanda por investimentos, embora haja demandas atuais das quais as startups precisam estar atentas neste momento e aperto financeiro geral.
“Em relação aos investimentos nas startups do agro, a gente não via acontecendo, como em alguns outros setores – por exemplo fintech puras –, elas captando e queimando muito dinheiro para crescer”, diz José Augusto Tomé, CEO do hub Agtech Garage, de Piracicaba (SP). “A maior parte delas já vinha com um crescimento mais sustentável, sem esse dinheiro fácil (das bigtechs). Por isso, não acredito em impactos.” De acordo com Tomé, mais do que nunca, vale a máxima de pensar em modelos que não queimam muito caixa, “ainda mais porque não estão surgindo negócios que demandem capital intensivo naquele nível.”
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Os números mostram que agtechs, agfintechs e foodtechs, e outras modalidades de startups do agro, têm permanecido bem focadas nas demandas do setor nas várias cadeias produtivas. No final do ano passado, o Radar Agtech Brasil 2020/2021, mapeamento das startups do setor agro feito por Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens, mostrou que as agrifoodtechs “mostraram resiliência nos últimos anos – mesmo durante a Covid19 – e desfrutaram de um aumento de investimentos no valor de 85% em 2021, quando comparado ao ano de 2020”. Em relação a 2022, ainda sem dados gerais, alguns setores disparam. No ano passado, cerca de 60 agfintechs financiaram ao produtor valores da ordem de R$ 12 bilhões, um crescimento de 59% nos últimos três anos. Além dos grandes fundos e instituições financeiras de olho nesse mercado de agro, investidores iniciantes têm encontrado meios, como as cotas de participação em startups via crowdfunding.
Para Sergio Barbosa, head de agro do hub Cocriagro, de Londrina (PR), “o momento é de consolidação de tecnologias que atuam antes e depois da porteira.” Já as empresas de base tecnológica que atuam dentro da porteira vêm ganhando espaço com a consolidação dos modelos digitais de agropecuária em vários segmentos segmentos, dos marketplaces aos prestadores de serviços.
Em relação aos eixos tradicionais de atuação das agtechs, que compreende o Centro-Sul brasileiro, Barbosa aponta como promissora a região do Matopiba (que compreende a área de junção dos estados do Maranhã, Tocantins, Piauí e Bahia). Entre elas, especialmente a do Vale do São Francisco. “Estão surgindo ecossistemas de inovação com grande potencial no Vale, com soluções para uso racional da água, gestão de risco climático e rastreabilidade, por exemplo”, afirma Barbosa.
Para Tomé, para capturar oportunidades, as startups do agro precisam externalizar, ter no seu discurso os impactos do que elas criam do ponto de vista da sustentabilidade – carbono e clima, por exemplo. “Porque muitas, indiretamente, contribuem nesses quesitos, mas não colocam isso nos seus discursos. Até pouco tempo atrás não existia uma percepção de valor clara, porque não era isso exatamente que ia fazer vender.” De acordo com o executivo, hoje, a percepção já está bem mais clara de que parte dos produtores rurais já vão começar a capturar dinheiro, como no crédito carbono, por exemplo. “As startups precisam externalizar esse impacto e ter isso no seu discurso”, diz. “E, obviamente, entender como participar de soluções mais complexas. Como buscar a intercessão que pode vir a ter com modelos financeiros. Isso pode trazer mais valor para uma solução que está sendo criada.”
Outras tarefas para as startups do setor é estarem de olho na educação do seu cliente para o uso de tecnologia. “Por terem a inovação no seu core, no sangue, como é que elas podem pensar formas de educar e trazer isso para dentro do seu modelo também. Tem oportunidade aí”, diz Tomé. Barbosa afirma que essas oportunidades são muitas e que nesse momento há uma atenção em alguns grandes temas. Confira as tendências mais presentes entre as startups do agro:
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Divulgação Insumos biológicos
Até 2025, a Markestrat estima que o mercado de biológicos some R$ 6 bilhões, crescendo a uma taxa anual de 20%. A biodiversidade brasileira é chave para tal número. As startups vêm se consolidando em agricultura regenerativa. Além da produção de insumos, o mercado de biológicos também demonstra avanço em 2023 em implementos para o setor, como startups de análise do solo e de pulverização, por exemplo.
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IgorBorisenko/Guettyimages Robotização
Diante da escassez de mão de obra, os robôs têm avançado no campo, principalmente para quem está com o pé na lavoura. De câmeras com visão computacional e robôs que alimentam animais no confinamento, a contagem de insetos com pano de batida, diversos são os impactos positivos da adoção de tecnologias dentro da porteira. Além de gerar economia de tempo e permitir que a força de trabalho seja alocada em outras atividades mais estratégicas, o uso de tecnologia no campo permite maior precisão e inteligência na tomada de decisão.
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MontyRakusen/GettyImages Rastreabilidade
Impactadas por consumidores cada vez mais conscientes, as agtechs têm avançado no desenvolvimento de tecnologias para rastrear como produzimos o que comemos. Tecnologias vêm conectando elos da cadeia produtiva para fornecer dados confiáveis e em tempo real para produtores, indústria e varejo.
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Rufino/Embrapa Mercado de carbono
As tecnologias que quantifiquem o sequestro e a pegada de carbono no solo e que também negociem nesse novo mercado. As agclimate techs, como são chamadas, mostram que produtividade e preservação andam juntas no cenário sustentável. Entre as tecnologias disponíveis, há sistemas para predição de incêndios, hardwares para produção sustentável, monitoramento, reporte e verificação do sequestro de carbono no solo e nas florestas.
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Guettyimages Gestão de riscos
Soluções que consolidam informações agronômicas e de outras variáveis para delinear cenários mais confortáveis para os agentes financeiros atuarem. Entram aí demandas de seguro e crédito rural, análise de crédito por meio de inteligência artificial (IA), gestão da originação.
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Wacomka/Gettyimages 9
Tecnologias de gestão ambientalA implementação de políticas voltadas às práticas ESG vai demandar novas tecnologias próprias, especialmente voltadas para a esfera ambiental. Especialistas em Sustentabilidade e Meio Ambiente devem crescer em torno de 33% e 34% respectivamente, o que representa a geração de 1 milhão de empregos.
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Agricultura urbana
A produção de hortifrutis e outros produtos agrícolas em ambientes urbanos, de forma verticalizada e com cultivo protegido, apresenta uma tendência de crescimento relevante. Produzir com menos água, lixo, energia, e com alto rendimento atrai inovadores a busca por técnicas transformadoras de cultivo. Soluções de iluminação artificial e transversalidades, com IA e robotização fazem parte desse setor.
Insumos biológicos
Até 2025, a Markestrat estima que o mercado de biológicos some R$ 6 bilhões, crescendo a uma taxa anual de 20%. A biodiversidade brasileira é chave para tal número. As startups vêm se consolidando em agricultura regenerativa. Além da produção de insumos, o mercado de biológicos também demonstra avanço em 2023 em implementos para o setor, como startups de análise do solo e de pulverização, por exemplo.