A Marfrig, maior produtora global de hambúrgueres, registrou prejuízo líquido de R$ 628 milhões no quarto trimestre de 2022, contra lucro de R$ 650 milhões um ano antes, pressionado pelo desempenho negativo na operação América do Norte da empresa, conforme balanço divulgado nesta quarta-feira (2).
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado do período atingiu R$ 2,22 bilhões, uma queda de 46,8% no comparativo anual.
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O Ebitda da operação América do Sul no trimestre mais que dobrou para R$ 529 milhões, uma alta de 148% ante o ano anterior, mas que não foi suficiente para compensar a queda de 81,1% no Ebitda da América do Norte, que ficou em R$ 751 milhões.
A unidade norte-americana viu margens menores causadas pelo ciclo do gado e recuo na demanda interna em meio a juros maiores, disse o CEO da operação, Tim Klein, a jornalistas por videoconferência. Para este ano, porém, ele espera uma mudança no cenário.
“Em 2023 vemos margens melhores… Não há nada no nosso horizonte que nos preocupe para frente, considerando o ciclo do gado e expectativas de oferta para os próximos meses do ano”, afirmou o executivo, citando que também houve uma melhora recente da demanda no varejo americano.
A Marfrig ainda consolidou o resultado da empresa de alimentos BRF, cuja geração de caixa operacional foi de R$ 988 milhões. A BRF, que passou a ser controlada pela Marfrig no ano passado, também reportou um prejuízo líquido em balanço divulgado na véspera.
A receita líquida do quarto trimestre somou R$ 37,39 bilhões, aumento de 56,2% no comparativo anual. Deste total, a América do Norte representou R$ 16,05 bilhões, com queda de 10,3%, e a operação sul-americana R$ 6,6 bilhões, com ganho de 9,5%.
A BRF contribuiu com uma receita de R$ 14,7 bilhões, fundamental para o número consolidado da Marfrig ficar no azul.
No acumulado de 2022, o lucro líquido da Marfrig ficou praticamente estável em R$ 4,166 bilhões, o Ebitda ajustado caiu 12,3% para R$ 12,7 bilhões e a receita subiu 53%, para R$ 130,6 bilhões.
CHINA
O CEO da operação América do Sul da Marfrig, Rui Mendonça, ressaltou que a China foi um importante player para os resultados obtidos pela empresa no ano passado e “permanece como um grande mercado”.
Segundo ele, a reunião entre os governos brasileiro e chinês prevista para acontecer em março deve abordar discussões sobre o fim do embargo às exportações de carne bovina do Brasil ao país asiático motivadas por um caso da doença Encefalopatia Espongiforme Bovina, conhecida como “mal da vaca louca”, encontrado em um animal de nove anos no Pará.
“A gente tem certeza que a suspensão vai ter curta duração”, disse o executivo, citando que os chineses seguem atendidos pela Marfrig via unidades da Argentina e Uruguai.
Mendonça afirmou que o resultado do exame realizado no Canadá, para confirmar se o caso de “vaca louca” é atípico, deve sair na quinta-feira.
“Há também uma excelente relação diplomática com a China nesse momento”, acrescentou.
Devido a um protocolo existente entre os dois países, o Brasil realizou um autoembargo à exportação de carne bovina logo que o caso foi identificado, ao final de fevereiro.
Mendonça disse que a indústria do setor também deve discutir uma alteração neste protocolo durante a reunião com os chineses em março, com a proposta de autoembargo somente mediante casos clássicos da doença – algo que nunca ocorreu no Brasil.
“Vai estar em discussão um modelo de modificar esse protocolo com a China”, disse.
Ainda no encontro entre os dois países, o executivo da Marfrig acredita que será possível negociar a abertura do mercado chinês para a compra de outros produtos de origem bovina brasileira, como miúdos e carne com osso.
“A aprovação de miúdos é bem relevante… Essa discussão também está acontecendo com a Indonésia”, comentou.