A central de registros financeiros CRDC, recém chegada ao mercado de Cédula de Produto Rural (CPR), superou em cerca de 200% sua expectativa para títulos deste segmento registrados no primeiro trimestre deste ano, com a prestação de um serviço focado em pequenos e médios, como cooperativas agropecuárias e revendas de insumos.
Em entrevista à Reuters, o diretor da CRDC, Othavio Paulino da Costa Parisi, disse que a entidade teve sua plataforma homologada pelo Banco Central (BC) no ano passado e somente em 2023 foi a mercado para iniciar os registros de CPR.
“Desde janeiro de 2023, a gente já registrou quase 200 milhões de reais em CPR. A velocidade está acima da nossa expectativa trimestral em 200%”, afirmou o executivo da CRDC, criada em 2015 pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
A CPR é um título que representa uma promessa de entrega futura referente a um produto agropecuário, funcionando como uma maneira de obtenção de crédito rural para custear a produção e comercialização no setor.
Ao adquirir uma CPR, a instituição financeira antecipa os recursos ao produtor ou cooperativa, que se compromete a resgatar a cédula em seu vencimento.
Parisi lembrou que o BC tornou obrigatório o registro de CPRs com valores a partir de 50 mil reais, exigência que passará a valer para qualquer cifra relativa ao título em 2024.
Com a medida do Banco Central e o desempenho visto nos registros da CRDC até o momento, o executivo acredita que havia uma demanda represada por emissões de CPR para valores menores, na faixa de 50 mil reais.
“A tendência é aumentar muito mais a emissão desses papéis pela segurança que ele dá no ambiente de crédito”, ressaltou.
Concorrência
Ele disse que, até a entrada da CRDC neste segmento, as duas únicas registradoras de CPR eram a B3 e a Cerc, que realizam apenas o registro do título, sem serviços adicionais.
“A CRDC entrou e pensou como poderia competir com as demais. A nossa estratégia foi ampliar uma plataforma para ajudar e preparar a emissão da CPR”, disse.
Assim, a plataforma da CRDC realiza todos os atos jurídicos e administrativos que a emissão de uma CPR exige, como, por exemplo, a assinatura digital, por meio de uma esteira tecnológica, que verifica o lastro e valida o teor da cédula, apresentando uma análise de risco por meio de serviços de parceiros especializados.
“Fazemos o monitoramento e processo de ponta a ponta, conectando desde o emissor e credor, passando ainda pela operação com partes não obrigadas, que têm o interesse na rentabilidade do título”, afirmou o executivo, citando ainda que a CRDC também possui contato com cartórios, que são necessários no processo de registro.
“O foco é apoiar as cooperativas, as revendas, que precisam de um apoio.”
Com base em dados do Banco Central, Parisi disse que o volume de CPRs emitidas e registradas atingiu 252 bilhões de reais em 2022, uma evolução de mais de 1300% no valor das cédulas em pouco mais de dois anos.
O forte crescimento ocorre enquanto se tornou obrigatório o registro de CPRs com valores menores, nos últimos anos.
Ele comentou ainda que um dos motivos que justificam esse avanço é a necessidade cada vez maior de buscar recursos privados para o financiamento das atividades agropecuárias, à medida que o governo federal “não vai conseguir financiar todo o setor” com o Plano Safra.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, solicitou neste mês ao Ministério da Fazenda um montante de 1 bilhão de reais para equalização de juros do Plano Safra, para permitir a liberação de 30 bilhões de reais em crédito adicional aos produtores até o final do ciclo 2022/23, em vista do esgotamento de recursos das linhas.
Neste contexto, a busca de recursos em outras modalidades tem se tornado cada vez maior.
O colegiado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) chegou a aprovar em janeiro acordos com entidades do setor para impulsionar o agro no mercado de capitais.
No ano passado, reportagem publicada pela Reuters já citava essa tendência, com especialistas destacando um “boom” de CPRs e fiagros, por exemplo.