Uma seca histórica que atinge as safras da Argentina está aprofundando a crise econômica do gigante exportador de grãos, arrasando os agricultores na região dos Pampas, aumentando os temores de inadimplência e colocando em risco as metas acordadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O país, que é o maior exportador mundial de soja processada e terceiro maior em milho, está passando pela pior seca em mais de 60 anos, o que levou a repetidos cortes acentuados nas previsões de colheita de soja e milho.
As projeções foram revisadas novamente para baixo na quinta-feira (9) pela bolsa de grãos de Buenos Aires, depois que a bolsa de Rosário reduziu sua perspectiva de produção de soja para 27 milhões de toneladas, a menor desde a virada do século.
“Estamos enfrentando um evento climático sem precedentes”, disse Julio Calzada, chefe de pesquisa econômica da Bolsa de Rosário, à Reuters, acrescentando que os agricultores enfrentam perdas de 14 bilhões de dólares e 50 milhões de toneladas a menos na produção de grãos de soja, milho e trigo.
“É inédito que as três safras fracassem. Estamos todos esperando que chova”, acrescentou.
A seca é um duro golpe para a Argentina. Ela ocorre em um momento em que o país se prepara para eleições gerais em outubro, está lutando contra uma inflação de 99% e enfrenta uma dficuldade com pagamentos de dívidas locais e internacionais aos detentores de títulos e ao FMI.
Com os grãos sendo o principal produto de exportação do país, os planos para reconstruir as esgotadas reservas em divisas estão estagnados, levando a negociações com o FMI para afrouxar as metas de acúmulo de reservas para o ano. Os analistas também cortaram as perspectivas do PIB.
As bolsas de grãos alertaram que as previsões de soja e milho podem cair ainda mais se não chover. A previsão para a soja da Bolsa de Rosário já está no menor nível desde a temporada 1999/2000 e a expectativa de rendimento é a pior desde 1996/97.
“Do que esperávamos (no início da campanha) até a situação de hoje, não sei se vamos produzir metade disso”, disse Miguel Calvo, produtor de soja na província central de Córdoba.