A Argentina consertou sua economia instável com uma taxa de câmbio preferencial chamada “dólar soja” para impulsionar as exportações de grãos e trazer a tão necessária moeda estrangeira, que analistas disseram que daria espaço para o governo respirar, pelo menos temporariamente.
As medidas, que entraram em vigor nesta segunda-feira (10), dão aos exportadores de soja uma taxa de câmbio melhor do que a taxa oficial controlada, com o objetivo de estimular exportações de cerca de US$ 15 bilhões de soja no segundo e terceiro trimestres do ano para reabastecer as reservas esgotadas.
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“O ‘dólar agrícola’ não criará moeda estrangeira extra, mas pelo menos acelerará sua entrada e fornecerá alívio temporário”, disse o economista Gustavo Ber, acrescentando que as reservas em moeda estrangeira atingiram “níveis críticos”.
A Argentina, que caminha para eleições gerais em outubro, nas quais a coalizão governista peronista enfrenta a perspectiva real de derrota, foi castigada pela seca no ano passado, que está pesando na produção de grãos, seu principal produto de exportação.
Isso espremeu a quantidade de dólares que o banco central tem em reserva, vital para fazer pagamentos de importações e lidar com as obrigações da dívida externa, mesmo quando a Argentina luta contra a inflação de mais de 100% e a pobreza que aumentou para quase 40% da população, de acordo com dados do governo.
“O que (o ministro da Economia) Sergio Massa está tentando fazer é ganhar tempo e impedir que a bomba exploda”, disse o economista Rodrigo Álvarez a uma rádio local.
O país sul-americano, maior exportador mundial de soja processada e número três em milho, está lutando para consertar sua economia problemática após anos de crises e calotes. A nação tem um programa de empréstimos de US$ 44 bilhões com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que recentemente ficou sob tensão quando o fundo reduziu as metas do país para reservas estrangeiras.
O chamado “dólar soja” foi usado duas vezes no ano passado e ajudou a impulsionar as exportações, pelo menos no curto prazo, contribuindo para facilitar a disponibilidade de moeda estrangeira.
O economista Roberto Geretto, da Fundcorp, estimou que, na melhor das hipóteses, o banco central da Argentina poderia ganhar cerca de US$ 4 bilhões nos próximos dois meses, embora a receita em moeda estrangeira caísse novamente devido ao esgotamento das colheitas.
“Esta nova medida visa comprar dois meses, o que no contexto atual não é insignificante”, disse Geretto à Reuters.
Ber concordou que o impacto seria temporário, mas acrescentou que o preço mais alto dado às exportações poderia aumentar a inflação doméstica, um tema-chave para os eleitores antes da votação de outubro.
“O efeito destas iniciativas – tal como aconteceu no passado – voltaria a ser transitório, mais do que tudo tendo em conta que a emissão monetária associada pode acabar por colocar ainda mais pressão sobre a inflação nos próximos trimestres”, disse.