A alemã Bayer avalia que o crescimento da área plantada com algodão no Brasil pode ser limitado na safra 2023/24 após uma derrocada nos preços, mas isso é uma situação provisória já que a multinacional vê o país com potencial para atender o aumento da demanda global, visto como constante nos próximos anos.
Em entrevista à Reuters antes de uma viagem iniciada nesta semana ao Mato Grosso e Bahia, principais regiões produtoras de algodão do Brasil, dois executivos globais da Bayer indicaram que, numa visão otimista, o plantio no país até poderia crescer na faixa de 2% a 3% em 2023/24. Mas eles admitiram que é difícil fazer projeções mais assertivas após os preços globais recuarem quase pela metade na comparação com as máximas do ano passado.
“No Brasil, plantou-se perto de 1,65 milhão de hectares neste ano, no próximo ano vai depender do preço da commodity, talvez 1,65, talvez 1,7 (milhão de hectares)”, declarou o líder global de algodão da Bayer, Shea Murdock.
A Bayer, que diz deter cerca da metade do mercado de sementes geneticamente modificadas de algodão no Brasil, após ter sido pioneira na implantação de produtos transgênicos para a pluma há quase 20 anos, prepara lançamentos para seguir expandindo os negócios no país e consolidar esta liderança.
Apesar de o mercado de referência de Nova York ter caído para aproximadamente 80 centavos de dólar por libra-peso, patamar mais próximo do visto na década passada, Murdock comentou que no longo prazo a demanda mundial é crescente, o que se reflete em “negócio sustentável” para a companhia, especialmente operando em uma nação como o Brasil, que tem áreas disponíveis para avançar com a cultura.
A demanda por algodão do Brasil, que deve rivalizar com os Estados Unidos na disputa pelo posto de maior exportador da pluma em pouco tempo, tem vindo principalmente da Ásia, com destaque para a China, que absorveu cerca de um quarto das exportações brasileiras em 2022.
As vendas externas do Brasil, considerando a fibra e produtos têxteis, somaram cerca de US$ 4 bilhões no período.
“Vamos ter esses altos e baixos, como sempre tivemos no preço do algodão, mas no longo prazo a demanda continua sustentável”, disse o executivo da Bayer, que está há cerca de dez meses na posição e busca conhecer melhor os produtores brasileiros.
Para o líder de Marketing do Negócio de Algodão da Bayer para a América Latina, Eduardo Correa, o Brasil tem “grande potencial de abertura de áreas”, mas algumas questões “macroeconômicas e microeconômicas impactam a velocidade deste avanço”.
“As volatilidades fazem com que o agricultor faça a conta se vai plantar o algodão ou o milho na segunda safra, mas a forma como a nossa economia está colocada talvez segure um pouco o ímpeto de abertura da próxima safra… Esses preços (do algodão) limitam um pouco este crescimento”, destacou.
Nova tecnologia
A Bayer preferiu não detalhar informações sobre vendas de sementes neste ano, a divisão das receitas por país e os investimentos que a companhia líder do setor fará para lidar com concorrentes como Corteva e Basf.
Contudo, os executivos adiantaram que em mais duas safras a Bayer deverá lançar globalmente uma variedade transgênica para algodão mais avançada — e que já é utilizada nos Estados Unidos — com boa receptividade junto a produtores.
A última biotecnologia para o algodão da Bayer lançada em 2021 no Brasil é o Bollgard 3 RRFlex, que oferece à cultura proteção contra os danos causados pelas principais lagartas que atacam as lavouras.
Para a safra 2024/25, a companhia pretende lançar o Bollgard 3 XtendFlex, que acrescenta tolerância aos herbicidas dicamba e glufosinato. A semente ainda depende da aprovação das autoridades regulatórias brasileiras, ainda que ela já seja usada pelos norte-americanos.
O lançamento da nova tecnologia acontecerá a despeito de questionamentos jurídicos sobre a patente da Bollgard 2, lançada no mercado local em 2013, disseram os executivos.
“Em 2019, Bollgard se tornou a tecnologia mais plantada no Brasil e até hoje, já estamos na quarta safra depois disso, é a tecnologia mais plantada. Isso mostra que o agricultor gosta da nossa tecnologia, sendo que atingimos mais de 50% de participação de mercado em alguns momentos”, comentou Correa.