A segunda safra de milho do Brasil foi estimada nesta terça-feira (23) em recorde de 102,4 milhões de toneladas em 2022/2023, ante 97,2 milhões de toneladas na estimativa anterior, de março, o que deverá permitir exportações históricas, de acordo com projeções da Agroconsult divulgadas antes do Rally da Safra.
Segundo especialistas da consultoria, o clima tem se mostrado favorável na maior parte do país, permitindo um aumento de 11% na produção na comparação com a temporada anterior, graças a ganhos de produtividade.
De outro lado, diante da sinalização da grande colheita que começa em junho, os preços estão sendo pressionados no Brasil, desafiando produtores que venderam em ritmo lento sua safra em 2022/23.
A área plantada com milho segunda safra no Brasil ficou abaixo da expectativa inicial, somando 16,7 milhões de hectares em 2022/23, disse o analista André Debastiani, coordenador do Rally da Safra, expedição técnica que irá a campo levantando as produtividades. A área diminuiu em alguns Estados porque produtores tiveram medo de enfrentar clima adverso depois de terem atrasado o plantio.
A área estimada indica uma estabilidade na comparação com a temporada anterior, já que cortes de área em estados como o Paraná foram compensadas por aumentos em Mato Grosso, segundo o analista. A consultoria viu inicialmente potencial para plantio do milho safrinha em 17,4 milhões de hectares, o que não se confirmou.
Com a colheita próxima de começar, a Agroconsult vê a safra “salva” com elevada produtividade em várias partes do país.
Em Mato Grosso, principal produtor nacional, 85% da safra está assegurada com alto potencial; em Goiás, outro importante produtor, 68% das lavouras também apontam para esta situação favorável.
A consultoria considera que Mato Grosso do Sul já tem 40% da colheita estimada com elevadas produtividades, enquanto Estados como Paraná já têm 39% da safra garantida, São Paulo, 34%, e Minas Gerais, 20%.
Por ora, a produtividade média nacional da segunda safra está estimada em recorde de 102,1 sacas por hectare, também um crescimento de 11%, superando a estimativa de março (96,9 sacas/ha).
A oferta da segunda safra vai se juntar à colheita de verão, estimada em 29,9 milhões de toneladas, 15% acima do ciclo anterior.
Exportação em recorde
A exportação de milho do Brasil em 2022/23 foi estimada em recorde de 54,1 milhões de toneladas, alta anual de 16,3%, de acordo com avaliação da Agroconsult, que vê espaço no mercado internacional para o país colocar sua safra recorde, apesar de desafios logísticos nos portos por causa do escoamento da grande lavoura de soja brasileira.
“A situação nos portos pode comprometer as exportações, estamos lidando com volumes que passam de 200 milhões de toneladas de granéis (neste ano), vai ter pressão nos portos sobre sistemas logísticos o ano inteiro”, disse o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, referindo-se aos embarques de soja, farelo de soja e açúcar, além do milho.
Ele lembrou que a segunda safra de milho chegará enquanto o Brasil ainda estará exportando a soja, o que gera desafios adicionais, já que os armazéns nos portos precisam ser esvaziados com um produto antes de receber outro.
“A nossa expectativa é que existe mercado para 54 milhões de toneladas, existe oferta e preço para liquidar em condições vantajosas, mas a questão logística vai ser grande desafio”, comentou.
Mesmo que existam dificuldades, “muito provavelmente ultrapassaremos 50 milhões de toneladas”, acrescentou.
Pessôa lembrou que este ano o Brasil tem a China como cliente adicional, uma vez que agora estão autorizadas as exportações do milho brasileiro ao país asiático.
“A China é um novo cliente que já chega chegando“, disse ele.
Questionado sobre a demanda daquele país, ele comentou que ela é firme, mas que o país asiático sabe que há oferta e não precisa correr para fazer aquisições.
“China está retomando, mas não é uma retomada feroz”, acrescentou Debastiani.
Além disso, a Agroconsult citou como desafio extra a maior competição com os Estados Unidos em parte do segundo semestre.
Preços em baixa
Após muito tempo, com a oferta abundante do Brasil e as boas perspectivas da safra americana, os preços do milho no Mato Grosso atingiram um patamar mínimo, o que é um “gatilho” para intervenções governamentais.
Entretanto, não há informações se tais intervenções governamentais serão feitas, até porque possivelmente o governo deve definir novos preços mínimos, em conjunto com o anúncio do Plano Safra 2023/24, disse Pessôa.