A CE (Comissão Europeia) está pronta para a inovação na produção de alimentos, incluindo alimentos à base de células, disse Bruno Gautrais, chefe da unidade de Novos Alimentos da CE, durante o 27º colóquio científico sobre alimentos derivados de culturas de células, organizado nesta quinta-feira (11), pela EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos).
Tecnologias inovadoras de cultura de células, engenharia de tecidos e fermentação de precisão estão abrindo caminho para novos alimentos em potencial, como carne ou laticínios. De acordo com o Regulamento Europeu de Novos Alimentos, é tarefa da CE conceder acesso ao mercado para novos alimentos após a EFSA avaliar a sua segurança.
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“Não temos nenhuma ideologia preconcebida em torno de produtos baseados em células, mas eles precisam de ciência inegável”, disse Gautrais na abertura do colóquio.
Até agora, a EFSA concluiu a avaliação de quase 100 pedidos de novos alimentos, que não estavam na mesa dos consumidores europeus antes de 15 de maio de 1997. Isso inclui produtos presentes na natureza, como sementes de manjericão, pastinagas roxas e grilos. No entanto, o corpo científico está ciente de que suas metodologias de avaliação de risco precisam estar bem equipadas para apoiar a introdução de produtos derivados de tecnologias emergentes e avançadas.
“Não sabemos que papel os alimentos à base de células terão em nossa dieta, o que sabemos é que deve ser seguro”, disse Helle Knutsen, do NIPH (Instituto Norueguês de Saúde Pública), no painel de especialistas da Novel Foods da EFSA.
Na verdade, este 27º colóquio teve por objetivo produzir pareceres científicos claros para informar os cientistas e as partes interessadas, envolvidas na submissão de dossiês científicos complexos.
Isso dará às empresas um grau de segurança no ambiente jurídico e trará segurança a elas. Gautrais acrescentou que, enquanto a indústria procura um enquadramento legal, os reguladores visam garantir a segurança sanitária destes produtos, pelo que a Europa deve ter “operadores responsáveis que procurem ser honestos e partilhar dados, também quando os seus produtos vão estar no mercado”.
Até agora, a EFSA não recebeu nenhum dossiê científico de empresas produtoras de alimentos à base de células, pois considera o processo muito rigoroso e demorado em comparação com as estruturas regulatórias de outros países.
“A ideia da carne cultivada nasceu na Europa”, disse Valeria Teloni, especialista em assuntos regulatórios da coalizão Cellular Agriculture Europe. “Queremos contribuir da forma mais clara possível para o aconselhamento científico, para que os produtos cultivados possam entrar no mercado Europeu e não apenas fora dele”.
Com apenas um pequeno grupo de alimentos à base de células atualmente disponíveis para compra em Cingapura, mais e mais empresas estão se mudando para a Ásia para começar a fabricar seus produtos. A empresa holandesa de biotecnologia Meetable realizou em Cingapura, nesta quinta-feira (11), a primeira degustação mundial de linguiças de porco cultivadas, após ter recebido aprovação no início deste ano.
De acordo com a EuropaBio, a maior associação da indústria de biotecnologia da Europa, a UE precisa agir agora e reduzir o tempo de espera da análise de aplicativos para evitar que as empresas saiam do continente.
Por enquanto, as empresas estão esperando estrategicamente, dizendo que o processo correto de alimentação e produção de células precisa ser definido antes de enviar seus dossiês: “Construir um processo e acertá-lo leva tempo. Sabemos que o projeto desse processo vai mudar nos próximos 18 meses”, disse Marianne Ellis, chefe do departamento de Engenharia Química da Universidade de Bath.
* Daniela De Lorenzo é colaboradora da Forbes EUA, jornalista que se dedica a temas sobre sistema de produção de alimentos, meio ambiente e política da União Europeia. Também escreve para Deutsche Welle, Al Jazeera, VICE Media, entre outros. (tradução V.Ondei)