A Serra da Canastra, na cabeceira do Rio São Francisco, em Minas Gerais, está localizada em uma típica região de Cerrado. Em 2008, a Canastra recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial por causa de seu queijo, que com sutis variações possui uma receita que o identifica como único no mundo. Agora, chegou a vez do café da Canastra iniciar sua jornada em busca de uma marca territorial.
A Acanastra (Associação dos Cafeicultores da Canastra), e o Sebrae Minas, vão apresentar na próxima terça-feira (27), no município de Piumhi, a marca território Café da Canastra. “Ao longo dos anos, desde a introdução da cafeicultura na região, criamos um jeito único de produzir café, integrado com a valorização do ambiente e de nossa cultura”, diz José Carlos Bacili, produtor e presidente da entidade.
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A região da Canastra produz cerca de 750 mil sacas de café de 60kg, em mais de 1,1 mil propriedades rurais. São 33 mil hectares de área plantada, em um território formado por 10 municípios. São eles: Bambuí, Capitólio, Delfinópolis, Doresópolis, Medeiros, Pimenta, Piumhi, São João Batista do Glória, São Roque de Minas e Vargem Bonita. A atividade gera 21.500 empregos diretos e indiretos na região.
A Acanastra nasceu em 2019 a partir da junção de duas associações de produtores na região. Na época, elas buscaram o apoio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) de Minas para estruturar o trabalho associativo, que hoje conta com 35 membros. A meta do grupo é criar uma identidade própria para os cafés produzidos na região e colocar a origem Canastra no mapa das regiões produtoras de cafés do Brasil.
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“Nossas plantações são indústrias a ‘céu aberto’ e a natureza governa tudo. Desta forma, estamos sempre atentos a novas tecnologias e manejo que possibilitam o armazenamento de água no solo. Isso gera maior produtividade e qualidade nos cafés”, diz Bacili. “A criação da marca território é um importante marco em todo esse processo.”
Como tudo começou na Canastra
A Canastra é a sétima região de Minas Gerais na qual o Sebrae fecha um projeto de valorização da origem do café. Atualmente, são elas: Cerrado Mineiro, Matas de Minas, Mantiqueira de Minas, Chapada de Minas e a Região Vulcânica, sendo as três primeiras já com a IG (Indicação Geográfica).
O registro de IG é conferido a produtos ou serviços que tenham características, reputação, valor e identidade próprias, mediante um estudo reconhecido por lei e registrado no INPE (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), que é a instituição legal para o reconhecimento das IGs no Brasil. No ano passado, a Acanastra deu entrada ao pedido de registro de IG, na modalidade DO (Denominação de Origem). Além de DO, outra indicação geográfica pode ser a IP (Indicação de Procedência).
Para os produtores que estão no projeto do café da Canastra, o grão difere de outras regiões do estado por possuir características climáticas e geográficas que influenciam na qualidade do produto, além de métodos de cultivo e colheita utilizados pelos produtores locais. Por exemplo, apresentam aroma e sabor de mel, frutas amarelas, tropicais e cítricas e chocolate ao leite com nuances de castanha, limão-cravo e laranja, além de notas altas de açúcar mascavo e cana de açúcar.
Vale lembrar que as IGs, como instrumentos legais, asseguram a exclusividade no uso do nome geográfico do produto do território, sob a gestão de uma entidade representativa dos produtores. A opção pela modalidade de DO garante que o nome do território ou localidade do produto possui qualidades e características exclusivas ou essencialmente ligadas ao meio geográfico, incluindo fatores naturais e humanos.
Na região da Canastra, entre 2021 e 2022 foram realizados estudos para a delimitação da área geográfica do Café da Canastra, além da organização da governança, elaboração do Caderno de Especificações Técnicas da DO, constituição do conselho regulador da DO e a criação de um estatuto da Associação dos Cafeicultores da Canastra, com o apoio do Sebrae.
“Essa estratégia expressa e comunica o propósito, valores, identidade, tradições e o posicionamento da região no mercado”, diz Marcelo de Souza e Silva, presidente do conselho deliberativo do Sebrae Minas. “E mais do que isso, serve para mostrar que não se trata de um simples café, mas de um produto com origem determinada e controlada, gerando valor para o território, produtores, compradores e consumidores.”
Com o lançamento do projeto, a marca território Café da Canastra será incluída, gradativamente, nas embalagens dos produtos, assim como em materiais promocionais da região, enquanto esperam pelo registro no INPE e a partir daí também a inclusão do atributo DO nas embalagens.