A crise do desperdício de plástico, na maior parte das vezes, é representada por imagens de garrafas plásticas flutuando no oceano. O tsunami de objetos descartados em cursos de água é um problema imenso, mas a questão do desperdício de plástico é muito maior do que isso. Ele permeia a rotina da humanidade de uma maneira que poucos provavelmente percebem. Uma das áreas frequentemente negligenciadas são as embalagens de alimentos.
Em novembro do ano passado, um relatório da Ellen MacArthur Foundation, organização inglesa focada em economia circular, e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente sobre o Compromisso Global pela Nova Economia do Plástico, alertou que a meta de 2025, de ter embalagens plásticas 100% reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis, estava se tornando inatingível.
O líder da Iniciativa de Plásticos da Ellen MacArthur Foundation, Sander Defruyt, afirmou que um dos principais impulsionadores era a falta de embalagens flexíveis. Ele disse à Forbes que ainda não havia um “plano viável” para lidar com qualquer coisa que venha em um saco ou embalagem, como alimentos.
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Isso inclui filmes plásticos transparentes, que têm sido usados na embalagem de alimentos em todo o mundo há décadas para protegê-los e minimizar o desperdício. No entanto, esses filmes têm um processo de reciclagem mais complexo por serem compostos por várias camadas de plástico, tornando-os difíceis de separar.
Na outra ponta, a celulose é a principal substância nas paredes das células vegetais, ajudando as plantas a se manterem rígidas e eretas. O professor Ali Harlin, do VTT (Valtion Teknillinen Tutkimuskeskus) Technical Research Centre, empresa de pesquisa e tecnologia na Finlândia, afirmou que o processo de dissolver a celulose e convertê-la em folhas transparentes não é novidade e remonta ao início do século 20.
De fato, a celulose era originalmente um ingrediente importante na embalagem de celofane, daí o nome. No entanto, a partir da década de 1940, muitas embalagens modernas de alimentos começaram a usar polímeros plásticos, como o polipropileno, em vez da celulose.
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De acordo com Harlin, o mercado de filmes de polipropileno deve crescer cerca de US$ 16 bilhões (R$ 76,5 bilhões na cotação atual) até 2035. “Nós criamos o problema dos microplásticos e agora precisamos nos livrar dele”, afirmou o professor, em uma entrevista à Forbes.
No primeiro trimestre deste ano, o VTT anunciou que investiu 1,5 milhão de euros (R$ 8 milhões) em uma instalação piloto da CelluloseFilms, que está pronta para ampliar os métodos de produção de alternativas de celulose renovável para filmes plásticos.
Seus cientistas desenvolveram um novo material projetado para substituir o filme plástico usado na maioria das embalagens modernas de alimentos. O investimento permitirá que a instalação inicie os testes e desenvolva processos que possibilitem a produção em massa desses filmes para a indústria de embalagens.
“O mundo está precisando muito de uma alternativa”, disse Harlin. “Estamos animados em criar novos processos para produzir alternativas de filmes plásticos”, completou. Ele acrescentou, também, que os micróbios “amam” as moléculas de celulose e as digerem naturalmente da mesma forma que podem digerir papel e outras substâncias biodegradáveis.
O foco do projeto piloto será melhorar as propriedades de barreira, fabricar filmes para embalagens a partir dos materiais e a utilização comercial das soluções de material em cadeias de valor emergentes. Harlin afirmou que esse material de embalagem poderia ser usado em grande escala industrial dentro de cinco anos.
O VTT já está trabalhando com mais de 30 empresas finlandesas e internacionais interessadas na próxima geração de soluções sustentáveis de filmes.
Até agora, segundo Harlin, o feedback dos clientes do VTT é que eles não conseguem perceber a diferença entre o filme de celulose e as embalagens plásticas tradicionais. “Essa nova instalação é um passo adiante para tornar os materiais sustentáveis mais comuns em uma indústria que depende muito de materiais de embalagem”, disse ele.
Em agosto do ano passado, cientistas do VTT afirmaram ter desenvolvido um novo processo que poderia converter a maioria dos resíduos plásticos do mundo em materiais utilizáveis novos infinitas vezes.
*Jamie Hailstone é colaborador da Forbes EUA. Já foi editor do Air Quality News and Environment Journal, entre outros veículos (tradução: João Pedro Isola).