O agronegócio brasileiro ainda tem enorme potencial inexplorado para projetos de biogás de grande escala, contando com oportunidades diversas para monetizar o combustível renovável, seja por meio do uso nas próprias operações ou venda a terceiros, disseram executivos que atuam nesse mercado nesta quinta-feira (17).
Em evento promovido pelo BTG Pactual, o diretor-executivo do grupo Urca Energia, Marcel Jorand, disse ver escalabilidade de projetos do combustível verde produzido a partir de matérias-primas do agronegócio, segmento que contribui para apenas 20% do volume produzido de biometano no país.
“Eu acho que a festa está só começando, o grande está por vir, e esse grande vem do agro”, disse Jorand durante o evento, citando dados da associação Abiogás que estimam que 90% do potencial de biogás no Brasil está associado ao agro.
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O biogás é um combustível renovável obtido a partir de resíduos orgânicos urbanos, como aqueles depositados em aterros sanitários, e agropecuários. Seus principais usos são a geração de energia elétrica e a conversão em biometano, um substituto renovável do gás natural.
Segundo Jorand, a Urca Energia “nasceu” com um projeto de tratamento de rejeitos da pecuária suína no Mato Grosso e busca desenvolver novos empreendimentos que ajudem os produtores a tratar seus resíduos adequadamente e criar receitas adicionais.
“Apesar de depois ter bandeado mais para o aterro (sanitário), a gente quer voltar para onde a gente nasceu, que é no agro”, disse o executivo.
A Adecoagro também está investindo para crescer sua produção de biogás na usina de Minas Gerais, onde a empresa tem um projeto-piloto que utiliza vinhaça da cana-de-açúcar “in natura” para gerar o combustível renovável, afirmou o vice-presidente Renato Pereira, também no evento.
“Hoje estamos utilizando 3% só da vinhaça, e agora estamos com um projeto bem desenhado para crescer isso e sair dos 6 mil normais metros cúbicos para 110 mil metros cúbicos por dia nos próximos três, quatro anos”.
A companhia já abastece hoje alguns de seus veículos com o biometano — combustível renovável obtido após o processamento do biogás e equivalente ao gás natural –, podendo ampliar isso no futuro.
“O desafio é o surgimento de novos veículos movidos a biometano, hoje temos muitas colhedoras no campo, tratores, que ainda não existem motores a biometano”.
Prêmio verde
Para o CEO da UISA, José Fernando Mazuca, o maior desafio hoje para estimular o mercado de biogás e biometano no Brasil ainda é a monetização do “atributo verde” dos produtos.
“Esperamos que a regulamentção do mercado voluntário de carbono ajude a precificar isso de forma mais eficiente e mais próximo da Europa e dos EUA”, disse Mazuca durante participação no painel.
Os outros executivos também apontaram a possibilidade de criação de um “crédito de metano”, que, segundo eles, chega a ter valores muito superiores ao do crédito de carbono em alguns mercados.
“O que temos que mostrar para eles (grandes grupos multinacionais) é que a gente não compete com o diesel e gasolina, (o biometano) é solução ambiental, evita a pegada e resolve o problema dele”, afirmou Jorand, da Urca Energia.