“A transição para a economia verde não tem mais volta, mas, como qualquer mudança nessa magnitude vai haver retrocessos no meio do caminho. Não podemos deixar que isso nos iluda, são apenas freios de arrumação. Transitar para a economia verde é algo complexo, trabalhoso, com algumas medidas são mais drásticas e outras menos”, afirmou Roberto Azevedo, ex-diretor-geral daOMC ( Organização Mundial do Comércio), durante o 22º Congresso Brasileiro do Agronegócio, uma realização da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), em parceria com a B3 – a bolsa do Brasil, realizado nesta segunda-feira (7). A Abag congrega grandes empresas, principalmente as exportadoras, entre elas Basf, Corteva, Cargill, JBS, AGCO.
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Azevedo falou no bloco de temas sobre geopolítica e governança. Para ele, as políticas ambientais redistribuem um custo na economia e necessariamente encarecem o parque produtivo e, para equalizar a situação com o mercado interno, pode haver um encarecimento do produto importado. Comentou também que não existe investimento no âmbito empresarial de países desenvolvidos que não se leve em conta as emissões de carbono. “Elas próprias se impuseram disciplinas e compromissos no quesito ambiental”, disse Azevedo.
Uma das presenças mais aguardadas, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, disse que a leitura do governo do Brasil é que as novas regras da União Europeia, que proíbem produtos provenientes de áreas de desmatamento são “uma afronta” às regras da OMC. Essas regras entraram em vigor em junho e estabelecem restrição a produtos a partir de dezembro de 2024, dando ao Brasil e a outros exportadores tempo para se adaptarem.
Segundo o ministro, os registros mostram que “apenas 2% dos agricultores brasileiros cometem crimes ambientais”, enquanto o restante cumpre as regras e deve ser reconhecido. Ele disse que se a UE continuar sem reconhecer os esforços do Brasil para proteger o meio ambiente, o país terá que trabalhar para fortalecer as relações comerciais com outros parceiros comerciais.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG, afirma que é fundamental o país manter o posicionamento do setor no âmbito global. “O Brasil tem um desenvolvimento da ciência tropical, diferentemente de outros países que adaptaram a ciência temperada e não possuem a mesma competitividade”, disse ele.
Para Grazielle Parenti, head de Business & Sustainability no Brasil e LATAM da Syngenta, o país precisa focar em governança e dar transparência e visibilidade para construir credibilidade, mostrando o protagonismo do agro e como o setor é estratégico e sustentável. “Os critérios ambientais e sociais deverão ser os padrões do mercado e precisamos falar sobre agricultura tropical para aproximar a conversa do campo com a cidade”.
Em paralelo, os investimentos, um marco regulatório claro e previsibilidade em relação ao aprimoramento da infraestrutura é o que o país precisa perseguir, acredita Paulo Sousa, presidente da Cargill. Segundo o executivo, “temos uma safra recorde, mas isso traz algumas preocupações como a falta de armazenagem e logística que nos mostram necessidades do setor “, reforçou. A seu ver, apesar da importância do setor para alimentar o mundo, o país precisa resolver o tema do desmatamento ilegal, que ferem a imagem do agro nacional em termos ambientais, que podem impor barreiras comerciais. “Temos o Código Florestal há 11 anos, mas ainda falamos em erradicar o desmatamento ilegal em 2030”.