Uma forte onda de calor que se espalha pela maior parte do Brasil nesta semana, em meio aos últimos dias de inverno no Hemisfério Sul, está levantando preocupações entre os agricultores e agrônomos sobre a condição dos cafezais no maior produtor e exportador do mundo, assim como os impactos para a safra de 2024.
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Os meteorologistas preveem temperaturas acima de 40 graus Celsius em muitas regiões produtoras do Brasil nesta semana, sem previsão de chuvas quase até o final do mês.
O calor extremo para esse período do ano pode afetar negativamente os cafezais que tiveram uma floração precoce, reduzindo o potencial de produção para a safra do próximo ano, segundo especialistas.
“Os pés de café arábica são sensíveis a temperaturas acima de 33 graus Celsius durante a fase reprodutiva”, disse o agrônomo Jonas Ferraresso, que presta consultoria a fazendas de café em São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores Estados produtores do Brasil.
Ele disse que as flores podem sentir o calor e não se desenvolver em frutos.
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Ferraresso e outros agrônomos, no entanto, disseram que essa é apenas a primeira ocorrência de floradas no Brasil, e que outras mais importantes são esperadas para o início de outubro, se as chuvas voltarem.
“Impacto, alguma coisa sempre tem, mas não é algo imediato. Os processos da planta não acontecem de um dia para outro, e avaliação também não dá para se fazer de um dia para outro”, disse José Braz Matiello, pesquisador do fundo de pesquisas Funcafé.
Ele disse que o calor em si não seria um problema tão grande se as chuvas voltassem logo, mas poderia ser uma ameaça maior se o período de seca continuasse.
“Pequeno prejuízo pode causar no pegamento, pontas de ramos, áreas de altitude mais baixas, lugares não irrigados…”, disse. “Uma coisa leva à outra, com as altas temperatura, a planta se desidrata mais rápido.”
Os produtores de grãos no Brasil também estão enfrentando dificuldades com o início do plantio da soja devido ao clima.
Jim Roemer, editor do boletim WeatherWealth no site bestweatherinc.com, disse que as temperaturas em algumas áreas de café no Brasil serão até 6 graus Celsius mais altas do que o normal para essa época.
“Há um pouco de preocupação no mercado de café”, disse ele.
Para o agrônomo Adriano Rabelo de Rezende, coordenador técnico da cooperativa Minasul, as lavouras floriram e tiveram pegamento, com muitas já contando com “chumbinhos” (pequenos frutos).
“Então, se esse calor persistir, pode ter perdas sim. Porque temperaturas acima de 34, 35 graus, chumbinhos não resistem, e gemas também podem desidratar e não virar café”.
Ele também ponderou que tudo vai depender da quantidade de dias que o calor intenso vai persistir. “Quanto mais tempo de tempo seco e quente, pior.”