A pequena região de Napa Valley, no norte da Califórnia, nos EUA, abriga 300 vinícolas em 48 quilômetros entre uma ponta e outra. Pode parecer que em um local tão pequeno não há necessidade – e nem espaço – para mais uma vinícola, mas a fama de solo fértil e aberto natural para rótulos famosos sempre atrai sangue novo.
Hoje, o sangue novo em Napa Valley atende pelo nome da vinícola Crosby Roamann, comandada por Sean McBride e sua esposa Julianna. O nome da marca é uma homenagem às avós de Sean, Norma Crosby e Sally Roamann. A adega fica localizada na cidade de Napa, de 78 mil habitantes, e a produção de uvas, em cerca de 1,5 hectare, fica na pequena Carneros, a 10 minutos de carro.
A história de seus vinhos começou mesmo em Nova York. Foi no apartamento do casal, que saiu a primeira leva da bebida, fabricada no Brooklyn. O bairro é o segundo mais importante da Big Apple, atrás apenas de Manhattan, conhecido por sua culinária e diversidade cultural. Para se ter uma ideia da mudança de McBride, a população do bairro do Brooklin é de 2,6 milhões de pessoas. O primeiro rótulo, já na nova adega, foi o Cabernet Sauvignon 2007, seguido pelo Sauvignon Blanc, em 2009.
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“Achei um desafio fazer algo que fosse muito parecido com Sancerre, o clássico vinho branco francês. E não tenho interesse em fazer algo que seja muito ao estilo da Nova Zelândia”, afirma McBride. Explicando: Sancerre é uma das regiões vinícolas mais antigas da França, ou seja, tradicional no cultivo da uva e na produção da bebida. A Nova Zelândia é um país relativamente jovem na produção de vinho, longe de seguir tradições e afeita às experimentações.
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A produção atual conta com Sauvignon Blanc, Cabernet Sauvignon, Merlot e um pouco de Chardonnay, todos do vinho de Carneros. Amante do Pinot Noir, ele também produz alguns rótulos com uvas da região de Mendocino, também na Califórnia.
“Gosto dos sabores de frutas de caroço mais maduras, parece um pouco com suco de pêra. Sempre digo às pessoas que se você vem uma lata de posturas ou peras na infância vai lembrar dessa sensação na boca, uma espécie de formigamento e confusão. Temos frutas chinesas e de qualidade para isso”, afirma Sean.
Os vinhos selvagens biodinâmicos
A adega tem no menu tipos de Pinots com cinco uvas produzidas na região, incluindo outros vinhedos além de carneros. Ele prefere, por exemplo, os Pinots produzidos com as uvas da fazenda Filigreen, em Anderson Valley. O cultivo é feito com porta-enxerto no sistema biodinâmico, manejo realizado desde meados do século XX, na Califórnia, no qual os cuidados, segundo os praticantes desse modelo de cultivo, vai um ponto a mais do que os produtos orgânicos. Por exemplo, o conceito de produtos biodinâmicos utiliza princípios da homeopatia e também acompanha o calendário astronômico, como manejar o vinhedo segundo as fases da lua e outros outros.
Mas o que, afinal, MCBride vê de tão especial nas uvas Pinot Noir produzidas em Anderson Valley?“Acho que por ser cultivado de forma biodinâmica, temos mais complexidade nas notas e no terroir. O sabor pode ser um pouco mais selvagem, um pouco mais parecido com um cogumelo ou com casca úmida. E, definitivamente, não encontrei esses sabores em Carneros.”
A vinícola tem planos de lançar um novo rótulo que combina Merlot e Cabernet Sauvignon, além de pitadas de Cabernet Franc e Petit Verdot, em uma mistura vermelha de Bordeaux. A ideia é que uma nova bebida substitua as garrafas de uvas únicas de Merlot e Cabernet Sauvignon. “Então esse é o futuro. É o tipo de Bordeaux que sempre adorei quando aprendi sobre vinho. Acho que fará muito sucesso no nosso vinhedo”, afirma ele.
Em relação à capacidade de produção, como se pode imaginar, o volume é baixo, compatível para uma pequena quantidade. Por ano, são fabricadas de 1.500 a 2.000 garrafas. “Não tenho ambições de crescer. Meu foco realmente é fazer o melhor vinho possível e se isso por apenas 20 toneladas por ano, estou feliz.”
*Tom Hyland é colaborador da Forbes EUA. Escreve sobre vinhos há 40 anos, como a Decanter, na Inglaterra, e a wine-searcher, sendo autora de “Beyond Barolo and Brunello, The Wines and Foods of Piemonte”. (traduzido e adaptado por ForbesAgro)