O setor de soja em Mato Grosso, maior produtor agrícola do Brasil, está apreensivo no início da temporada 2023/24, com chuvas escassas e temperaturas elevadas que devem resultar no replantio de muitas lavouras ressecadas e ameaçam as produtividades das demais áreas, avaliou nesta quinta-feira a associação de produtores Aprosoja-MT.
A conjuntura deve elevar custos no caso do replantio e pode aumentar os riscos climáticos para a segunda safra, semeada após a colheita da oleaginosa, com milho ou algodão. O Estado responde por pouco menos de 30% da colheita de soja do Brasil, maior produtor e exportador global dessa commodity.
A safra está atrasada atualmente em relação ao mesmo período do ano passado e pode sofrer mais atrasos, dependendo da abrangência do replantio e das condições climáticas, que não se mostram muito mais favoráveis na próxima semana, com chuvas ainda abaixo da média.
“Temos muitos lugares com necessidade de replantio, mas a avaliação será feita depois que chover e quando chover”, afirmou o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, em declaração enviada à Reuters.
“Então preocupa muito nesta fase de emergência (germinação da lavoura). Quem plantou, não está consolidado. Com temperatura alta, existe o risco de tombamento, cozinha pelo excesso de temperatura no solo. É muito preocupante a situação, extremamente adversa”, acrescentou Cadore.
Até sexta-feira da semana passada, o Mato Grosso havia plantado 35% da área estimada, atrás do ritmo registrado na mesma época da safra passada (41,35%), mas à frente da média histórica para o período (28,13%), segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
A precipitação acumulada nos últimos sete dias ficou abaixo da média, segundo dados da LSEG, somando menos de 20 milímetros de chuvas no período nas áreas em que choveu mais.
De acordo com o Aproclima, projeto de monitoramento climático da Aprosoja-MT, algumas regiões do sul do Estado têm registrado temperaturas acima de 44 graus.
Ele disse que as lavouras precisam de água nos próximos dias sob pena de se perder.
Ainda segundo Cadore, as plantações poderão ter uma redução na produtividade em razão do calor, além de o atraso comprometer o plantio do milho de segunda safra.
“Isso traz grande preocupação pelo custo, porque é uma ressemeadura e principalmente por conta da janela da segunda safra, que vai se estreitando”, disse ele, lembrando que quanto mais tarde se planta a segunda safra, maiores os riscos climáticos no Centro-Oeste.
Pela última previsão do Imea, a estimativa de área plantada em Mato Grosso é de 12,22 milhões de hectares, com uma produção de 43,78 milhões de toneladas, queda de 3,39% em relação ao ano passado, por produtividades menores.
Algodão
Apesar das dificuldades com a safra da oleaginosa, o cultivo de algodão de Mato Grosso, maior produtor da pluma no Brasil, deverá seguir dentro das expectativas em 2023/24 após a colheita da soja, disse à Reuters o diretor-executivo da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Décio Tocantins, no início da semana.
Os produtores de algodão na segunda safra geralmente são aqueles que plantam a oleaginosa prematuramente, para obter a melhor janela climática, enquanto no caso do milho é possível semear um pouco depois da pluma.
Tocantins afirmou que o ritmo atual da soja “não é o ideal, mas poderia estar melhor”.
Ele disse, contudo, não acreditar que produtores possam migrar o planejamento do algodão para o milho na segunda safra, considerando que o cereal está remunerando menos atualmente.
Dessa forma, ele afirmou que por ora estão mantidas as projeções do Imea, de um aumento de 9% na área plantada de algodão no Estado em 2023/24, para 1,3 milhão de hectares, sendo a maior parte na segunda safra.
Se o clima colaborar, o Mato Grosso pode colher 2,3 milhões de toneladas da pluma, de um total de 3 milhões estimadas para o Brasil.