O Fundo JBS pela Amazônia, apoiado pela JBS, maior processadora de carnes do mundo, lançou na quinta-feira (19) o programa “Juntos: Pessoas + Florestas + Pecuária”, que vai apoiar a inclusão de pequenos produtores de gado de corte na pecuária de baixo carbono, além de impactar na redução do desmatamento. O investimento inicial é de R$ 10 milhões com projeção de chegar a R$ 100 milhões nos próximos 10 anos. A estimativa é atender 3,5 mil famílias de pecuaristas em diversos estados que abrangem o bioma amazônico, começando pelo Pará.
De acordo com Andrea Azevedo, diretora-executiva do Fundo JBS pela Amazônia, somente 8% dos pecuaristas do Pará recebem assistência técnica. “Um produtor de soja, por exemplo, recebe, em média, oito visitas técnicas durante a safra para garantir sua produtividade. Como um pecuarista familiar vai ser mais produtivo com uma, ou às vezes nenhuma, orientação técnica?”, diz. Para chegar em um negócio eficiente, o projeto foi desenvolvido com um grupo de trabalho. “Nós quebramos a cabeça para tentar achar um modelo que ajudasse esse produtor a ter uma pecuária mais produtiva e eficiente, pois sozinho ele não consegue. Queremos também as questões que a gente precisa, como rastreabilidade e compliance ambiental”, afirma Andrea.
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Segundo um estudo do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), citado por Andrea, a Amazônia abriga 80% do total de área assentada do Brasil. Além disso, 77% da agricultura familiar está em assentamentos. Sendo assim, para esses pecuaristas, não dá para incluir no orçamento uma reforma de pastagem. “Se você ganha R$ 200 por hectare e a reforma da pastagem custa R$ 5 mil por hectare, então, para esses produtores, a conta não fecha. O programa vem para dar esse suporte financeiro a essas famílias, através das empresas parceiras do hub”.
O financiamento para os pecuaristas assentados será feito, prioritariamente, por meio do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Em casos que não for possível o acesso pelo Pronaf, o recurso será captado no mercado privado. “O hub é financiado pelo Fundo JBS, dentro de uma lógica de capital catalítico (doações). Para ampliarmos esse capital, vamos montar alguns mecanismos que atraiam dinheiro comercial”, afirma.
O Programa Juntos: Pessoas + Florestas + Pecuária conta com a parceria da Rio Capim Agrossilvipastoril, uma nova empresa, também lançada hoje, que nasce como um braço da Belterra Agroflorestas, companhia que atua na recuperação de áreas degradadas. O CEO da Rio Capim, Valmir Ortega, diz que 99% dos produtores contratados pela Belterra para fazer sistemas florestais com cacau são, na verdade, pecuaristas. “São produtores que têm a pecuária como atividade principal, porém, com uma criação degradada, com baixa rentabilidade”.
A partir desse cenário observado em campo, Ortega decidiu se unir ao Programa do Fundo JBS e criar uma nova empresa para atender a demanda. “Não fazia sentido para a gente apoiar esse produtor em um sistema florestal, que vai gerar crédito de carbono, mas no qual ele vai continuar colocando fogo para renovar o pasto, pois é assim que ele aprendeu e é assim que é a cultura tradicional de pequenos e médios produtores dessas regiões”, afirma Ortega. “Pensar na pecuária foi uma forma de dar uma solução integral para estes produtores e tentar gerar renda com aquilo que eles sabem fazer melhor, que é a pecuária.”
Como funciona
Com o recurso adquirido, os pecuaristas que criam gado vão fazer a recria e a engorda inicial do gado, de acordo com o manejo indicado pela consultoria. Quando esse bezerro atinge 12 meses, os animais passam para as empresas da cadeia produtiva, que fazem parte do hub, e que negociam os lotes com as fazendas que vão engordar o gado até os 30 meses, o chamado Boi China, exigência do país asiático para serem abatidos. O pecuarista criador recebe o retorno financeiro (50%), de acordo com o ganho de peso do animal a partir de sua saída da propriedade até o abate.
Brasil tem 76% da pecuária com produtividade abaixo da média
De acordo com Fernando Sampaio, diretor de sustentabilidade da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), que participou do evento de lançamento do programa, atualmente, 76% da área ocupada pela pecuária brasileira trabalha abaixo da média produtiva do país, que é de 67,7 quilos de peso de carcaça por ano (peso vivo). “Tem uma ponta da pirâmide que usa a tecnologia, é muito eficiente e ganha dinheiro. Mas tem uma base grande, estamos falando de um milhão de produtores, com um nível produtivo muito baixo”, diz Sampaio. “Nesse perfil, tem pequeno produtor, tem quem está lá só para ocupar a terra e não produz com finalidade financeira e tem, ainda, aqueles que produzem para a subsistência. Então, esse é o nosso grande desafio, aumentar a produtividade na base da pirâmide”, afirma Sampaio.
Segunda fase do programa
O pecuarista, Ananias do Nascimento, que mora e produz no Assentamento Tuerê, no município de Novo Repartimento, no Pará, faz parte da segunda etapa do programa, que ainda está em fase de teste. “Em 2017, a média da minha região era de um a dois gado por hectare, o que é muito baixo”, diz Nascimento.
Agora, a realidade e a renda da família mudaram, “o Solidaridad veio e trouxe a tecnologia. Me disseram que essa produtividade poderia dobrar, eu acreditei, mas desconfiando. Graças a Deus deu certo e chegamos a ter cinco cabeça de gado por hectare, prontos para o abate”, afirma. Nascimento recebeu a consultoria da Fundação Solidaridad, uma ONG internacional de desenvolvimento de cadeias produtivas inclusivas e sustentáveis, que atua com o Fundo JBS desde 2021 e será parceira no próximo modelo do Programa, onde o hub trará o foco na assistência técnica.