O algodão trouxe luz às passarelas da 56ª edição da SPFW (São Paulo Fashion Week), nesta quinta-feira (9), no badalado bairro da Mooca, na capital paulista. De saias com babados arrastando no chão até a clássica calça, o desfile Sou De Algodão – Tributo ao Jeans, marcou presença na semana fashionista mais importante do país. A semana contou com 38 desfiles.
“O jeans precisa ser celebrado nesse momento da moda nacional. É uma peça versátil e básica, mas, ao mesmo tempo, pode-se criar inúmeras coleções”, diz Theo Alexandre, estilista da Thear Vestuário, que assinou junto com outros nove estilistas o desfile do Sou de Algodão. “Eu quis ressignificar o jeans. Nessas peças desmanchamos as tramas para refazer um novo tecido a partir do jeans.”
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Natural de Goiânia, outra celebração de Alexandre é ter ultrapassado a barreira do eixo Rio–São Paulo, estados renomados no segmento, colocando Goiás no mapa da moda e do denim (nome do tecido que origina o jeans). “Minha cidade já é conhecida pelas modelagens em denim e eu sempre faço questão de trabalhar com esse conceito regionalista”, afirma. “Para essa coleção, quis trazer movimento, curvas e franjas que remetem ao agro sertanejo, muito comum no meu estado. As roupas trazem tudo isso, mas com looks sofisticados e contemporâneos”.
O mundo quer mais o jeans brasileiro
O algodão é a matéria prima essencial em qualquer peça jeans. A composição nessas roupas varia de 70% até 100% feito da fibra. O Brasil é o quinto maior produtor mundial de denim, com chances de avançar mais posições no ranking, puxado pelo interesse do mundo no algodão brasileiro. De acordo com a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), para essa safra, das três milhões de toneladas esperadas da pluma, cerca de um terço da produção (700 mil a 1 milhão de toneladas) fica para indústria interna e o restante é exportado, sendo o maior destino a Ásia.
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“O Brasil hoje é o terceiro maior produtor de algodão e o segundo maior exportador. Em relação ao denim, o país é hoje o quinto maior produtor. Então, se pensarmos que temos uma matéria-prima de qualidade e condições de escalar essa produção, temos muito mais espaço para crescer, também, na exportação do nosso jeans”, diz Silmara Ferraresi, gestora do Movimento Sou de Algodão.
Para conquistar mais clientes é preciso, porém, atender a nova tendência de mercado e exigência do consumidor final que prefere, cada vez mais, peças rastreáveis. Quem compra o jeans nas lojas de revenda quer saber de onde vem a matéria-prima e como foi feito o processo em toda a cadeia da indústria.
“Essa é uma exigência não só no consumidor de outros países, mas também aqui no Brasil. Rastrear todo o processo é uma das metas do Sou de Algodão”, afirma Ferraresi. “A marca Dendezeiro, uma das parceiras nesse desfile, por exemplo, pertence ao programa SouABR que faz todo o controle de produção dos fardos que foram utilizados nos lotes, faz o mapeamento do fio, passando pela fabricação do tecido e, por fim, a transformação da peça. Tivemos todos o processo rastreável e assim deve ser daqui para frente”.
Roupas com mais sustentabilidade e processos mais limpos na indústria têxtil são outras exigências do consumidor. “As peças para esse SPFW, por exemplo, eu usei o mínimo de sintético, nem 5%, para que quando essa roupa chegue ao final da vida útil dela não se torne um problema na decomposição no meio ambiente”, afirma o estilista Alexandre.
Por que do tributo ao jeans
O desfile do Sou de Algodão no SPFW deste ano comemora os 150 anos do jeans. A história dessa peça tão icônica traz relatos de surgimento na França, em uma tentativa de reproduzir um tecido de algodão durável conhecido como “jeane”.
Mas foi em 20 de maio de 1983 que os norte-americanos Jacob Davis de Reno e Levis Strauss patentearam a calça jeans reforçada com rebite de cobre. Já o Brasil recebeu os primeiros rolos de pano denim no início do século 21.
Com o passar do tempo, deixou de ser um look para jovens rebeldes e se tornou um símbolo, clássico de qualquer guarda roupa com opções que vão do básico ao sofisticado. O resto veio depois com a história, que se reinventa a cada década, ganhando novo brilho e luz em passarelas, como a da SPFW de 2023.