Terminou neste domingo (26), a exposição Food & Fashion no museu FIT (Fashion Institute of Technology), de Nova York, destinada a explorar o impacto da comida e da cultura alimentar no design de moda. Foram apresentadas mais de 80 roupas e acessórios de icônicos designers e estilistas, entre eles Chanel, Moschino, Stella McCartney, Delvaux, Judith Leiber, Perry Ellis e Mimi Prober, entre outros.
O que as curadoras do FIT, Melissa Marra-Alvarez e Elizabeth Wayb mostrou, por meio da exposição que começou no dia 13 de setembro, e do lançamento de um livro, é que não só há um fascínio pelos dois pesos pesados da expressão que atravessa séculos, a comida e a moda, mas hoje elas estão mais presentes do que nunca e, definitivamente, se tornaram mais popular.
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Basta uma olhada em uma das plataformas mais populares, o Instagram, para ver coisas como a sacola de hambúrguer “Nice Buns”, de Betsy Johnson, as joias Delicacies Pasta ou a colaboração Tiniest Croissant Charm, de Catbird e L’Appartment 4F. Recentemente, um vídeo no YouTube, mostrava o chef Stefano Secchi, do Rezdora de Nova York, criando pasatelli en brodo e usando uma camiseta preta gráfica, com a mensagem Tutto Fa Brodo, em branco brilhante na frente.
A frase, que se traduz como “tudo vira caldo” poderia, por um lado, ser vista apenas como um grafismo divertido, mas, por outro, poderia ter mais peso, já que as ideias em torno do desperdício têm hoje um senso de urgência mais do que nunca antes.
Não é por acaso que, ao caminhar pela exposição, declarações como “Você é o que você come” também tenham sido transformadas em “Nós comemos o que somos”, demonstrando a indefinição dos limites entre como nos identificamos e nos expressamos – culturalmente, politicamente, sexualmente, etc. – e como e o que comemos.
Uma semana após a inauguração da exposição, em setembro, em entrevista, a curadora Way e Alvarez dizia que o cerne da ideia da exposição começou com um conceito em torno dos sentidos e, embora o tom tenha sido recebido com desconfiança e positividade, as duas curadoras rapidamente perceberam que poderia se tornar muito complicado.
Decidiram então levar para a exposição um tema que fazia mais sentido no dia a dia das pessoas. Foi durante um almoço em 2018, lembra Marra-Alvarez, quando escolheram focar em sabor. “Enquanto estávamos pesquisando, começamos a perceber o quão vasto era o assunto, e foi aí que a ideia realmente decolou”, afirma ela. Até a palavra sabor conecta instantaneamente os mundos da comida e da moda.
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Como acrescenta Diamond, o momento é propício à exposição e ao livro. Comida e moda nunca estiveram tão intimamente ligadas como hoje. Com tendências recentes, como roupas com estampas de alimentos e a estética Grocery Girl, até Girl Dinner e Tomato Girl Summer, as conexões entre comida e moda, e a expressão pessoal e as decisões por trás delas, são ilustradas em todas as mídias sociais. E embora as imagens tomem conta de lugares como Instagram e TikTok de forma ousada e visual, elas também criam conversas virtuais que falam simultaneamente sobre a alegria que cerca as interseções criativas, bem como a intensidade em torno de tópicos como gênero, desigualdade, religião, positividade corporal e meio ambiente.
“A exposição é organizada tematicamente”, diz Way. “Começando no início do dia com café da manhã na cozinha da moda.” Completa com uma geladeira e torradeira ornamentadas, a cozinha acena de volta aos anos 1950 com uma homenagem a clientes icônicos e donas de casa vestidas com esmero. Os visitantes então vão ao mercado, almoçam em fast food e até vislumbram a linha McDonald’s da Moschino’s de 2014 ou designers de estampas de alimentos, como o Pasta Puffer de Rachel Antonoff. Em seguida, é possível seguir para a loja de doces e um restaurante sofisticado para jantar, com cada sessão temática apresentando moda de designers de todo o mundo.
Ao longo do livro e da exposição, os espectadores têm uma experiência dupla, onde o lado divertido e caprichoso da moda chama a atenção, então logo se percebe, como explica Way, “as muitas maneiras metafóricas pelas quais a moda se aproxima do mundo da comida para falar sobre tendências, consumismo ou consumo. Uma das seções finais da exposição aborda a sustentabilidade e o meio ambiente, apresentando muitos designers de roupas reaproveitadas a partir do desperdício de alimentos.
A comida tem muito a ver com identidade. Quer uma pessoa use uma bolsa que se pareça com uma baguete ou use roupas feitas de leite ou bananas, muitas vezes eles se tornam outdoors que mostram a maneira como pensamos, votamos, agimos e comemos. Para as curadoras da mostra, ela é uma maneira de abrir a porta a conversas sobre grandes assuntos que povoam nossa consciência coletiva, podendo também divertir por meio da moda.
*Kristin L. Wolfe é colaboradora da Forbes EUA. Escreve sobre gastronomia, restaurantes, arte e cultura.