José Tomé, 40 anos, é um nome relativamente conhecido no agro e altamente reconhecido no Vale do Piracicaba, como foi batizado o polo de inovação criado a partir de investimentos do município paulista, a 160 quilômetros da capital, e do apoio da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP (Universidade de São Paulo), em 2016.
Tomé acaba de anunciar que deixou o hub AgTech Garage, o primeiro a se instalar no vale, onde ele permanecia como CEO, após sua venda no final de 2022 para a PwC, gigante mundial de serviços de consultoria e auditoria. Agora, Tomé vai se dedicar a outro negócio, um projeto próprio, o Chaac Capital, a partir dos EUA. “Saio de um ecossistema de inovação para investir em um ecossistema de negócios”, diz ele. “Cofundei o AgTech como um projeto de vida e estar nesse ambiente de empresas do agro continua em mim.”
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O AgTech Garage nasceu em 2017, um hub de inovação do agro, considerado o mais ativo, reativo, barulhento e atrativo polo de startups das cadeias de produção de alimentos e bionergia. Junto com Tomé estavam os engenheiros agrônomos Marcelo Pereira de Carvalho, fundador também do MilkPoint em 2000, consultoria e plataforma do setor leiteiro, e Adriana Lúcia da Silva, hoje coordenadora no IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).
A Chaac Capital, por ora, é um fundo proprietário com tickets de R$ 100 mil a R$ 1 milhão e a intenção é investir até o final de 2024 em, no máximo, cinco empresas, basicamente startups adiantadas no processo de escalabilidade. “É natural dos empreendedores ter um extra para investir em novas startups, num círculo virtuoso no ecossistema. É importante no Brasil que isso aconteça e fico feliz de ser mais um nessa estatística”, diz Tomé. “Tivemos a transição para a PwC e não havia um compromisso fechado de quanto tempo mais eu ficaria.”
Em novembro de 2023, o hub foi reconhecido entre os Top 3 dos ecossistemas de startups e empreendedorismo do Brasil pelo ranking da 100 Open Startups. Entre elas, o hub piracicabano foi o único focado no agronegócio e que começou com empreendedores “bootstrapping”, ou seja, um negócio a partir de recursos limitados, sem o apoio de investidores, seja financeiro ou corporativos e institucionais. “O AgTech Garage foi uma jornada fantástica, mas agora é um momento novo”.
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Tomé está de malas quase prontas para um sabático, ou como ele descreve “um semi-sabático” já no início do segundo semestre – porque vai tocar em paralelo a Chaac Capital –, em Austin, no Texas (EUA), cidade chamada de o “novo Vale do Silício”, ou “Silicon Hills”, por causa do grupo de empresas de tecnologia em sua na área metropolitana, as big techs do porte de Apple, Microsoft, Google, Meta, Dell, HP e IBM.
“Quero estudar ecossistemas de negócios, temas estratégicos, entre eles agricultura regenerativa, robótica, carbono biológico”. De certa maneira, ele repete sua história lá em 2012, época em que já estudava sobre inovação e descobriu um artigo publicado no MIT Technology Review, do consultor Scott D. Anthony, da Innosight, que versava sobre a “nova era das garagens corporativas”, ou a chamada quarta era de inovação. Na cabeça de Tomé, foi a semente plantada do que viria a ser o Ag Tech Garage.
Os contatos em Austin já começaram a ser feitos. “Mas não quero fazer para ontem”, diz ele. “Austin tem uma pegada interessante (de networking) e esse é o meu universo.” Ele explica exatamente o que pretende fazer quando diz sobre “trazer muito do meu background de orquestrar ecossistema de inovação para pensar em ecossistemas de negócios”.
Os estudos e possíveis parcerias que Tomé deve iniciar vão nessa direção, mas ele já tem uma ideia clara do ecossistema que pretende estudar. Por exemplo, uma empresa que verticaliza seu negócio, mas faz tudo sozinha, não constrói e nem pode ser considerada formadora de um ecossistema. “É preciso trazer para junto outros players e gerar e capturar valor dessas relações – como se fossem redes colaborativas – , para formar o ecossistema de negócio.”
É justamente esse o ponto. Como fazer? Na teoria parece simples, mas o fato é que ainda há muito pouco de literatura sobre os novos ecossistemas de negócio. “É uma super fronteira no mundo inteiro. Estamos todos olhando como reinventar uma nova geração de valor para startups ou modelos diferenciados de captação”, diz Tomé. “Me vejo muito fazendo a ponte Brasil, Estados Unidos, acredito ter um propósito e gostaria de explorar e passar o bom do Brasil no exterior. Negócio que tem a característica de ser orquestrador tem muito potencial.”