O novo relatório publicado pelo EAC (sigla em inglês para Comitê de Auditoria Ambiental) na Câmara dos Lordes, advertiu que o impacto do consumo do Reino Unido nas florestas do mundo é maior do que o provocado pela demanda chinesa. O relatório foi o primeiro deste ano, expedido no dia 4 de janeiro.
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Os integrantes do comitê pedem aos ministros britânicos que desenvolvam um indicador de pegada global para demonstrar esse impacto à população. Também solicitam aos ministros que estabeleçam uma meta firme para reduzir o impacto da Inglaterra no desmatamento global e que trabalhem com parceiros internacionais para melhorar a supervisão sobre essa questão, tanto no país quanto no exterior.
De acordo com o relatório do comitê, o governo britânico se comprometeu a estabelecer um regime para exigir que as commodities de base florestal sejam certificadas como sustentáveis para serem vendidas no mercado interno. Na recente conferência sobre mudanças climáticas na COP28, realizada em Dubai, o Reino Unido anunciou que as quatro primeiras commodities serão produtos bovinos (exceto laticínios), cacau, óleo de palma e soja (destas, duas atingem as exportações brasileiras, carne e soja).
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Mas o relatório do comitê afirma estar preocupado com a “aparente falta de urgência” na implementação desse regime. Por exemplo, o grupo acrescenta que nenhum cronograma foi oferecido sobre quando essa importante legislação será introduzida, e sua abordagem em fases de incorporação gradual de produtos ao regime não reflete a urgência de combater o desmatamento.
O comitê também recomenda que os ministros incluam outras commodities de risco florestal, como milho, borracha e café, no regime de certificação o mais rapidamente possível. O presidente do comitê, Phillip Dunne, disse em um comunicado que há pouco senso de urgência em controlar rapidamente o problema do desmatamento.
“Países de todo o mundo contribuem para o desmatamento e a comunidade internacional, é claro, precisa fazer muito mais para combatê-lo”, disse ele. “No entanto, em algumas medidas, a intensidade do consumo do Reino Unido de commodities com risco de desmatamento é maior do que a da China”, acrescentou. “Isso deve servir como um alerta para o governo.”
Em resposta, um porta-voz do governo afirmou em uma declaração que o Reino Unido está liderando o caminho, globalmente, com uma nova legislação para combater o desmatamento ilegal. “Essa legislação já foi introduzida por meio da Lei do Meio Ambiente e é apenas uma das muitas medidas para deter e reverter a perda global de florestas”, disse o porta-voz. “Também estamos investindo em programas internacionais significativos para restaurar florestas, que evitaram mais de 410 mil hectares de desmatamento até o momento, além de apoiar novos fluxos de financiamento verde.”
Nicole Rycroft, fundadora e diretora executiva da organização ambiental sem fins lucrativos Canopy, disse em um e-mail que a conservação das florestas é fundamental para limitar o aquecimento a 1,5°C e para manter a biodiversidade vibrante e os sistemas planetários. Rycroft acrescentou que o relatório do comitê é claro ao exigir “ações urgentes e substanciais” do governo. Ela disse que espera que o relatório motive o governo do Reino Unido a se posicionar ao lado de outras jurisdições que adotaram medidas regulatórias rigorosas para interromper e reverter o desmatamento até 2030, como o EUDR (Regulamento de Desmatamento da União Europeia) e a regulamentação nacional inovadora da Costa Rica.
“Estamos satisfeitos em ver o governo do Reino Unido começar a priorizar o desmatamento e a conservação das florestas por meio de compromissos com o Fundo Amazônia e a exigência de que certas commodities florestais sejam certificadas como sustentáveis para serem vendidas nos mercados do Reino Unido”, acrescentou Rycroft. “Pedimos que o Reino Unido aplique rapidamente essa regulamentação a outros produtos comercializados, como celulose, papel, embalagens e têxteis de viscose, e garanta que os esquemas de certificação sejam rigorosos e não permitam o fornecimento de florestas com alto teor de carbono ou biodiversidade.”
Kate Norgrove, diretora executiva de defesa e campanhas da WWF, disse que o relatório do comitê mostra que o governo do Reino Unido precisa fazer muito mais para salvar as florestas. “Cada hectare de floresta que perdemos nos aproxima de uma mudança climática descontrolada que será devastadora para todos nós”, acrescentou. “Pedimos a todas as partes que adotem o plano de ação abrangente do comitê para acabar com a contribuição do Reino Unido para o desmatamento global. Não temos um momento a perder para trazer nosso mundo de volta à vida.”
*Jaime Hailstone é colaborador da Forbes EUA, editor do Air Quality News e do Environment Journal.