O Quênia é dono da economia mais robusta da África Oriental, com o país se esforçando para melhorar em vários setores. O ano de 2023 foi importante, porque marcou os 60 anos de sua independência do Reino Unido como estado, uma condição de submissão iniciada lá nos anos 1880 (em 1963, o país se tornou membro da Commonwealth, organização intergovernamental composta por 56 países).
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A criação de oportunidades de investimento tem sido foco de lideranças de vários setores. No campo, é a produção com tecnologia que pode alavancar a economia do país. “O Quênia tem uma economia diversificada e resiliente, com setores como a agricultura, a indústria transformadora, os serviços, o turismo e a energia que oferecem oportunidades de investimento”, afirma Carole Kariuki, CEO da Kepsa, organismo que reúne cerca de 600 associações empresariais e startups de vários setores.
Kariuki acrescenta que o desejo sistemático de posicionar o país como um centro de investimento fundamental está dando frutos. “Algumas das oportunidades de investimento no Quênia incluem ser o principal produtor e exportador regional de produtos agrícolas como chá, café, flores, frutas e vegetais”, diz ela. “Há potencial para agregação de valor na agroindústria de processamento, irrigação e mecanização no setor.”
O Quênia é uma das economias de crescimento mais rápido da África, com uma taxa média anual de 4,8% entre 2015 e 2019 e um crescimento esperado de 5% em 2023. O país reduziu a pobreza de 36,5% em 2005 para 27,2% em 2019 e melhorou a sua classificação global no índice de facilidade de fazer negócios do Banco Mundial, de 136º em 2015 para 56º em 2020. O agro representa 30% do PIB do país, que tem uma economia da ordem de US$ 110 bilhões.
Enquanto líder em inovação e tecnologia no continente, com um forte ecossistema de startups e infraestrutura digital, o Quênia é o lar de algumas das empresas tecnológicas africanas mais bem-sucedidas, como os serviços de telecomunicações Safaricom e BRCK; o M-PESA, serviço de transferência de valores lançado no Quênia em 2007 e hoje presente na Europa e Ásia. No agro, o grupo se destaca com nomes como Mhogo Foods, Cersum Agro Processors, Selina Wamucii Kenya Limited, Sorghum Pioneer Agencies, entre outras.
No entanto, existem desafios. Os elevados custos de energia não têm sido bons para a economia. No final de 2023, várias empresas deixaram o país por causa das elevadas despesas operacionais e, segundo Kariuki, esse é um ponto estratégico. “A indústria transformadora tem uma base industrial bem desenvolvida da qual o Quênia se orgulha”, diz ela. “O setor produz uma variedade de bens, como têxteis, couro, alimentos e bebidas, produtos químicos, farmacêuticos, plásticos e produtos metálicos. O governo já identificou a indústria transformadora como um dos principais pilares da sua Agenda de Transformação Econômica da Base para o Topo.”
Apesar dos ambiciosos planos do país para aumentar a contribuição do setor para o PIB, é necessário algum trabalho pesado para fazer face aos elevados custos de energia. Indo para os próximos 10 anos de crescimento, Kariuki diz que o crescimento econômico acelerado será impulsionado pelo aumento do investimento no comércio, transportes, comunicação e inovação.
“O país tem uma rede de infraestruturas bem desenvolvida, uma mão-de-obra qualificada e um quadro regulamentar propício à realização de negócios. O Quênia está bem posicionado para arrancar na próxima década, pois tem muitos pontos fortes e oportunidades para aproveitar”, afirma ela.
Com uma idade média de quase 20 anos e uma taxa de alfabetização de 81,5%, conforme reportado em 2018, o país, afirma a executiva, está apto a um futuro novo e próspero. O país tem 53 milhões de pessoas, dos quais cerca de 75% estão na zona rural (para comparação, o Estado de São Paulo tem 44 milhões de habitantes).
Mas, apesar de o Quênia ser um centro regional, a frágil governança ainda poderá prejudicar as perspectivas do país. “Devemos intensificar a guerra contra a corrupção. Qualquer funcionário público que se encontre envolvido estará sujeito a enfrentar toda a ira da lei”, disse William Ruto, presidente do país em outubro do ano passado, quando a nação assinalou as celebrações do Dia de Mashujaa, o dia da independência.
Isso porque o Quênia preparou-se para ser a porta de entrada para o corredor comercial da África Oriental, um bloco que possui um mercado de mais de 300 milhões de pessoas (cerca de um quarto da população de África) e um PIB combinado da ordem de US$ 305,3 bilhões. De acordo com Kariuki, a implantação da AfCFTA (Zona de Comércio Livre Continental Africana) dá acesso preferencial aos produtos e serviços do país a estes mercados.
“Uma agenda de desenvolvimento visionária e ambiciosa que visa transformar o Quênia num país de rendimento médio até 2030 necessita de um foco renovado na garantia de segurança alimentar, habitação a preços acessíveis, cobertura universal de saúde, indústria transformadora e desenvolvimento de pequenas e médias empresas. Isso exige enormes investimentos para colocar o Quênia no pedestal da industrialização”, afirma ela. “A Kepsa continuará desempenhando um papel importante em questões políticas transversais e programas para o desenvolvimento social e econômico do país.”
Em relação ao Brasil, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o país tem cooperado com o Quênia em diversos setores. “ Atualmente, estão em execução programa trilateral na área de alimentação escolar, bem como iniciativas bilaterais em agricultura (mandioca e setor algodoeiro); educação superior; formação de diplomatas; e capacitação de militares”, afirma o ministério.
*Reportagem publicada originalmente na ForbesÁfrica (tradução: Forbes Agro)