Após ganhar R$ 10,2 milhões em uma rodada de investimentos há um mês, a Bem Agro está reforçando sua presença internacional. Com os recursos, a startup de Ribeirão Preto (SP) fechou novos negócios na Ásia e América Latina e tem prospectado clientes nos EUA e Europa. A agtech é especializada no mapeamento das lavouras, com focos diversos, para dar ganhos de eficiência à produção e economizar recursos.
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A fabricante de máquinas agrícolas CNH Industrial, que apoia a Bem Agro desde sua criação em 2018, foi a maior investidora da rodada, embora não revele o valor investido. Os outros três apoiadores foram o fundo paulista Rural Ventures, o capixaba Agroven e a revendedora goiana MMAgro, numa operação estruturada pela Arara Seed, também de Ribeirão Preto — que tem como cofundador Henrique Galvani, escolhido para a última lista Forbes Under30. A liderança da CNH no investimento é parte do apoio que a multinacional de origem italiana, com faturamento de US$ 24,7 bilhões (R$ 123,6 bilhões, na cotação atual), tem dado ao ecossistema de startups.
“Às vezes, uma agtech pequena oferece soluções muito interessantes que, somadas à presença da CNH no mundo todo, que é muito grande, cria oportunidades gigantes”, diz Gregory Riordan, diretor de tecnologias digitais da CNH na América do Sul. Incluindo a Bem Agro, são seis parceiros estratégicos, entre eles a startup meteorológica Agrosystem e a Cropman, que faz análises de solo, ambas brasileiras, num total de dez soluções tecnológicas que a dona das marcas Case IH e New Holland oferece em seu portfólio. “Tendo o agro conectado e soluções para a conectividade, como telemetria, agricultura de precisão etc., por essas características e diversidade dos clientes, tais tecnologias são muito exportáveis.”
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Além de levar para outros mercados as tecnologias desenvolvidas no Brasil, a CNH, presente em 180 países, também conta com parcerias como a gigante alemã Bosch e soma aquisições bilionárias, a exemplo da americana Raven em 2021, trazendo inovações para o mercado interno.
O economista Johann Coelho, 27 anos, sócio-fundador e CEO da Bem Agro, está otimista. Na América Latina, a meta é chegar a 250 mil hectares até 2026, em fazendas do Paraguai, Argentina, Colômbia e Guatemala. Já na Ásia, onde a startup hoje atende 60 mil hectares na Tailândia e Indonésia, a área total deve ser de 150 mil hectares em 2025. “Na Europa, estamos conduzindo testes iniciais em vinícolas da França, com a CNH, e nos Estados Unidos retomamos testes esse ano, e esperamos expandir nossas operações.” A meta da agtech é que 30% de seu faturamento venha de operações internacionais num período de cinco anos, a partir de 2024.
Coelho destaca que num pacote de 20 relatórios oferecido pela agtech, três opções estão sendo negociadas no estrangeiro desde o investimento recebido em fevereiro. Atualmente, a agtech possui 400 clientes e cinco milhões de hectares cobertos no Brasil (63% na soja, 35% na cana e o restante no milho), sendo 800 mil em parceria com a CNH.
“O investimento tem como meta ampliar ainda mais o market share no Brasil e iniciar o processo de internacionalização, replicando o sucesso do modelo que a gente tem alcançado junto com a CNH e usando a rede da fabricante fora do Brasil, que é parruda”, diz Coelho. “Somos essencialmente uma companhia de processamento de dados e imagens. Temos a CNH e outros parceiros que realizam a captura desses dados, ou o próprio cliente quando ele tem o equipamento necessário. Em seguida, extraímos os resultados das máquinas e drones e o nosso algoritmo dá as variáveis necessárias.”
Os serviços da Bem Agro estão no portfólio da CNH desde sua criação, há seis anos. O principal exemplo das soluções oferecidas, agora em franco processo de internacionalização, é otimizar a pulverização com herbicidas a partir da identificação precisa das áreas de lavoura infestadas por ervas daninhas. A tecnologia, considerada user friendly pelos gestores, permite a economia de 60% a 70% no volume do insumo utilizado, o que já vem sendo exportado à Argentina, Paraguai, Colômbia e Uruguai.
O uso da tecnologia, que vem crescendo no Brasil, é um indicativo para a Bem Agro. O agrônomo Flávio Leme, de Campo Verde (MT) – município que tem o quinto maior PIB agrícola no estado – se tornou um empresário por causa da agtech. Em 2022, ele se tornou revendedor das tecnologias da Bem Agro, alcançando atualmente 50 mil hectares monitorados em Mato Grosso. Leme mobiliza os drones e uma equipe de cinco funcionários, que as soluções demandam para serem implementadas nas fazendas.
Sua renda, diz ele, dobrou. “Porque falta mão de obra. É uma profissão nova ser agro digital manager — o céu é o limite”, afirma Leme, explicando que a empresa, conforme as demandas da fornecedora (Bem Agro) e da distribuidora CNH, trabalha com três tipos de drones.
Antes de sua mudança na carreira, Leme gerenciava um conjunto de fazendas que ocupa dez mil hectares de soja, milho e algodão na região, às quais hoje ele presta serviço. Na safra de 2022/2023, o mapeamento das pragas daninhas nessas fazendas, em metade da área total, possibilitou uma economia de 77% no uso de agrotóxicos. “Na ponta da caneta, a economia é de R$ 400 mil por safra”, diz ele — os serviços da agtech custam, em média, de R$ 45 mil a R$ 120 mil, dependendo do tamanho e cultura da propriedade rural. “Em vez de aplicar o herbicida em 100% da área, ele vai só onde tem a erva daninha. Isso falando do defensivo, fora a economia nas manobras do pulverizador, reduzindo o consumo de óleo diesel.”
Outra solução da parceria entre a Bem Agro e a CNH, que está se espalhando nos canaviais do Brasil e da Ásia, baseia-se na digitalização das linhas de plantio da cana-de-açúcar. O objetivo é preparar o terreno para a colheita no piloto automático. Na Tailândia, onde as empresas estão abrindo mercado, havia 1,65 milhão de hectares de cana plantada em 2022, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). A tecnologia brasileira, embutida nas colheitadeiras da fabricante multinacional, possibilita ganhos de 5% a 10% na produtividade dos canaviais, pois a automação coíbe o desperdício da massa colhida, além da diminuição de 25% nas manobras das máquinas, poupando combustível.
“Foi uma das primeiras soluções que desenvolvemos e aplicamos junto à CNH”, lembra Coelho. “O serviço se baseia em digitalizar as linhas de cana-de-açúcar, mesmo que tenham sido plantadas manualmente, gerar um relatório e levar esses dados para a colhedora, que agora tem a capacidade de colher as linhas digitalmente, no piloto automático, com todos benefícios da automatização, facilitando a vida do operador e com menos desperdício de cana que cai da caçamba.”