Apenas 1% da população dos EUA é produtores rurais e não são muitos os norte-americanos que têm uma opinião sobre a verdadeira natureza da agricultura e pecuária modernas feitas no país. Poucos deles vivem perto de propriedades agrícolas e, à medida que a influência da Homestead Act (lei que autoriza a venda de terras públicas a investidores privados) enfraquece, são raras as famílias que ainda têm parentes produtores rurais no país).
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Realizado a cada 5 anos, o Censo Agropecuário de 2022 foi apresentado em fevereiro deste ano pelo USDA (Departamento de Agricultura dos EUA). Atualmente, o país possui 1,9 milhão de propriedades rurais que são operadas por 3,37 milhões de “produtores”. As estatísticas e tendências detalhadas que este inquérito especial documenta fornecem orientações para a política agrícola governamental e para o planejamento de negócios relacionados com a agricultura e pecuária.
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O censo envolve uma grande quantidade de dados, mas as principais conclusões estão bem documentadas no Briefing do Conselho de Estatísticas Agrícolas disponível no site do NASS (Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas) do USDA. Para listar o que é mais importante a Forbes ouviu algumas lideranças, entre elas Lance Honig, presidente interino do NASS. Confira:
Lição 1 – Área agrícola diminui
Nos últimos 20 anos, a área cultivada caiu de 379,6 milhões de hectares em 2002 para 356,1 milhões em 2022, uma queda de 6,5%. Nos últimos 5 anos, essa queda foi de 2,2%. No evento de divulgação dos dados do censo, o secretário da agricultura dos EUA, Tom Vilsack, colocou isto na perspectiva de que os ganhos de produtividade agrícola (três vezes maior, desde 1948) garantem que este grau de contração não gera problema de abastecimento alimentar. A perda de hectares agrícolas é parcialmente uma questão de desenvolvimento urbano e seus arredores, mas recentemente também envolve a instalação em grande escala de parques solares.
As reduções de área foram observadas em terras agrícolas, pastagens e florestas. Mesmo assim, as propriedades rurais ainda ocupam uma área equivalente a 46% da área terrestre nos EUA e está presente em 90% ou mais dos condados (que são as regiões administrativas dos estados)
Lição 2 – Número de propriedades rurais também continua a diminuir
Para o censo, uma fazenda é definida como um local que produz e vende, ou normalmente venderia, pelo menos US$ 1 mil em produtos agrícolas. De acordo com essa definição, o número de propriedades rurais vem diminuindo lentamente nos EUA, de 2,2 milhões em 2007 para 1,9 milhão em 2022, o que inclui uma queda de 6,9% desde o censo de 2017.
Vilsack manifestou preocupação com o impacto dessa tendência nas pequenas cidades. O governador do Missouri, um dos principais estados agrícolas, também disse o mesmo, embora Mike Parson tenha minimizado o impacto nos municípios porque eles vêm mantendo serviços essenciais, entre eles as escolas.
Lição 3 – O tamanho das propriedades permanece variado, com queda geral para a área
O maior número de propriedades rurais nos EUA situa-se nas categorias de 10-49 e 50-175 acres (4-19 hectares e 20-70,8 hectares). Mas todas as categorias das explorações agrícolas diminuíram de tamanho, exceto o grupo mais pequeno, de 1-9 acres (0,4-3,6 hectares, que tendeu a aumentar, mas depois caiu 14% nos últimos 5 anos.
Algumas dessas pequenas explorações cultivam produtos para venda local, tem vacas para cria de bezerros, ou são aquilo a que alguns observadores chamam “explorações por hobby”. Esse quadro varia de acordo com a região. Parte do declínio ocorre porque as propriedades rurais são vendidas quando não há nenhum sucessor familiar disposto a assumir o controle do negócio.
Lição 4: Há uma relação inversa entre o número e a dimensão das propriedades rurais
Em 2022, 85,3% das propriedades rurais dos EUA tinham menos de 200 hectares. No entanto, 82,5% da área usada estava nas explorações maiores, com mais de 200 hectares. Particularmente nas principais regiões de culturas em áreas planas, apenas uma exploração relativamente grande é financeiramente viável e, por isso, as propriedades rurais tendem a expandir-se por meio da compra de terras e do arrendamento de terras – áreas muitas vezes de filhos de produtores que já não estão envolvidos na produção.
Lição 5: Maior parte da renda das fazendas vem das operações de maior dimensão
Em 2022, o setor agrícola dos EUA tinha um valor total de produção de US$ 543,1 bilhões (R$ 2,732 trilhões), dos quais 78,3% provenientes de explorações com um volume de vendas de US$ 1 milhão (R$ 5,03 milhões), pelo menos, apesar dessas explorações representarem apenas 5,5% das operações agrícolas.
O valor da produção agrícola continuou a ser dividido quase equitativamente entre os setores da pecuária e da agricultura – 48% da pecuária e 52% das culturas. Mais uma vez, com margens de lucro tipicamente modestas e riscos climáticos e de mercado, as operações de maior dimensão tendem a ser mais viáveis e com maior capacidade de gestão, como por exemplo os investimentos em máquinas e equipamentos.
Lição 6: Propriedades rurais continuam a ser majoritariamente empresas familiares
Uma narrativa comum, mas falsa, sobre a agricultura dos EUA é que a consolidação que ocorreu no setor significa uma mudança de “fazendas familiares” para “agricultura corporativa”. De fato, 94,7% das explorações agrícolas dos EUA, no censo de 2022, eram familiares e representavam 84% das terras agrícolas do país. O perfil de risco/recompensa da agricultura não se adequa bem a um modelo de negócio empresarial.
Lição 7: Idade média dos produtores rurais está aumentando, mas há jovens interessados no agro
A idade média dos “produtores” rurais continuou a aumentar e atingiu 58,1% em 2022. Mas a taxa de aumento desta medida foi mais lenta do que nos recenseamentos anteriores. A evolução da distribuição etária é complexa e deve certamente envolver vários fatores.
Algo considerado encorajador é o fato de o número de jovens produtores (menos de 35 anos) ter aumentado, com um ganho médio de 3,9% para o conjunto dos EUA entre os inquéritos de 2017 e 2022. Existem diferenças significativas de estado para estado nessa tendência, com os maiores aumentos ocorrendo em muitos dos principais estados com grandes áreas de cultivo no meio-oeste. Existem programas nacionais e estaduais destinados a incentivar os jovens e os novos agricultores, e os elementos de alta tecnologia da moderna “agricultura de precisão” são atrativos para a geração mais jovem.
Lição 8: Grande parte das terras agrícolas está arrendada
Em 2022, 31% das terras agrícolas foram arrendadas a agricultores que também possuem as suas próprias terras e 9% foram arrendadas a produtores que não possuem terras. As propriedades rurais que utilizam a totalidade das suas terras representam apenas 35% do total.
Há várias razões pelas quais os agricultores optam frequentemente por expandir as suas atividades por meio do arrendamento, em vez de comprarem mais terras. Os preços das terras têm subido rapidamente e, se os agricultores contraírem dívidas hipotecárias substanciais, correm riscos, no caso de um ano de mau tempo ou de um ciclo de baixa dos preços dos produtos cultivados.
O que será cada vez mais importante é que os contratos de arrendamento incentivam os agricultores a fazer o investimento necessário em práticas agrícolas “inteligentes do ponto de vista climático” e “regenerativas” que melhorem a saúde do solo, o potencial de rendimento das lavouras e a resiliência climática nos campos administrados por eles.
Lição 9: Um retrato de quem cultiva
O Censo recolhe informações pormenorizadas sobre os “produtores” – os indivíduos envolvidos de várias formas no funcionamento das explorações agrícolas dos EUA. As estatísticas mostram quem são os produtores.
9A – Diversidade limitada:
Por gênero: 63,7% dos produtores em 2022 eram homens e 36,3% mulheres
Por raça:
95,4% de brancos
3,5% de origem hispânica, latina ou espanhola
1,7% de índios americanos ou nativos do Alasca
0,7% de asiáticos
1,2% de negros ou afro-americanos
0,1% de havaianos ou outras ilhas do Pacífico
0,9% se identificaram como sendo de mais de uma raça
9B – Mão de obra:
Mais da metade das propriedades rurais dos EUA são geridas por mais de uma pessoa. Entre 2017 e 2022, a mudança das operações continuou essa marcha, saindo de um único produtor para aquelas propriedades com várias pessoas envolvidas
O censo também recolheu dados sobre a gama de funções que estes produtores desempenham na atividade agrícola. As principais ocupações são: operacionais diárias, destinação das terras e escolhas das variedades de culturas, decisões relativas ao gado, decisões de comercialização, manutenção de registros e/ou gestão financeira e planejamento da propriedade/sucessão.
Em termos de experiência agrícola, a maioria dos produtores (70%) exerce a atividade há 11 ou mais, outros 15,7% de 6 a 10 anos e 14,3% há 5 anos ou menos.
9C – Os agricultores não se limitam a cultivar:
A atividade agrícola nem sempre é exercida em tempo integral. Sobretudo nas explorações mais pequenas, um ou mais membros da família precisam de rendimentos adicionais para fazer face às despesas e às variações anuais da produção e do valor.
Embora 70,5% dos produtores vivam na exploração agrícola em que estão envolvidos, apenas 42% classificam a agricultura/pecuária como a sua atividade principal. Nos EUA, 61% dos produtores passam pelo menos algum tempo trabalhando fora das propriedades e 39,7% afirmam que a sua vida profissional envolve 200 ou mais dias de trabalho fora do agro.
*Steven Savage, colaborador da Forbes EUA e escreve sobre tecnologias relacionadas à alimentação e agropecuária. É biólogo formado na Stanford, mestre e Ph.D em fitopatologia.