A Bunge planeja expandir em 140% até 2026 a abrangência da área plantada de seu programa que incentiva agricultores do Brasil a adotarem práticas regenerativas, anunciou a trading e processadora global de alimentos nesta quinta-feira, na medida em que busca incentivar sistemas agrícolas que emitem menos gases de efeito estufa.
A gigante do agronegócio afirmou ainda que pagará prêmio sobre o valor de mercado aos produtores que venderem à companhia soja, milho e trigo cultivados com tais técnicas sustentáveis orientadas e supervisionadas pelo programa.
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Em entrevista à Reuters, o vice-presidente de Agronegócio da Bunge para a América do Sul, Rossano de Angelis Jr., disse que a multinacional quer ampliar o projeto — iniciado em 2023 com 250 mil hectares no Cerrado — para 600 mil hectares, incluindo Estados do Sul e do Sudeste, até 2026.
A companhia projeta investir em três anos pelo menos US$ 20 milhões, que deverão ser destinados para o pagamento dos prêmios, além de ferramentas tecnológicas, rastreabilidade, coleta de dados, assistência técnica e auditoria.
“Dentro dos 20 milhões de dólares que colocamos como incentivo para o programa, vamos ter o pagamento de um prêmio, fixo, em dólar por hectare, para o volume correspondente que o produtor vender para Bunge”, disse o vice-presidente de Agronegócio da Bunge para a América do Sul, evitando divulgar o valor do pagamento adicional.
Ele acrescentou que, embora o programa da Bunge dê condições para o agricultor atuar com técnicas ambientalmente mais sustentáveis, nada impede de ele vender parte de sua produção para outras tradings ou indústrias.
No projeto piloto desenvolvido pela companhia ao longo de 2023, a Bunge identificou entre os pilares da agricultura regenerativa as seguintes práticas que devem viabilizar o pagamento dos prêmios pela Bunge: plantio direto, cultura de cobertura, rotação de cultura, utilização de bioinsumos e fertilização natural, incluindo adubação orgânica.
A adoção dos sistemas colaboram com o sequestro de carbono e evitam emissões de gases, ressaltou Angelis.
“Identificamos esses pilares da agricultura regenerativa… que entendemos que têm escalabilidade maior, tanto em volume quanto em rentabilidade”, afirmou ele, ao comentar as expectativas de ampliação do programa, incluindo com o apoio de novos parceiros, como os próprios clientes da empresa, que se mostraram interessados e poderiam colaborar com recursos.
A companhia avaliou que há interesse de clientes como indústrias do setor de alimentos e biocombustíveis de não apenas adquirir produtos cultivados com práticas regenerativas certificados, como também participarem “ativamente da jornada de transição para uma agricultura de baixo carbono”.
Isso motivou a Bunge a abrir a possibilidade para que esses clientes finais invistam em conjunto com a companhia para apoiar a adoção de práticas regenerativas nas fazendas participantes do programa. “Falando com a indústria de alimentos e biocombustíveis, alguns querem mais do que um certificado mostrando baixa emissão, eles querem ser patrocinadores, eles querem fazer parte do programa”, disse Angelis.
A Bunge está em discussões avançadas com diversos desses clientes e já fechou parceria com alguns deles, mas ainda não pode revelar os nomes por questões contratuais de confidencialidade.
Expansão e compromissos
Na linha de ampliar o programa, a Bunge pretende expandir as regiões atendidas para incluir Pará, Goiás, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, além dos Estados já contemplados no projeto inicial (Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia e Mato Grosso).
Neste processo, a Orígeo, joint venture da Bunge em conjunto com a UPL, tem papel determinante, pois oferece suporte aos produtores a partir de um conjunto de técnicas de gestão e soluções de assistência técnica.
Segundo a Bunge, 100% das propriedades envolvidas nos 250 mil hectares iniciais do programa de agricultura regenerativa já utilizam o plantio direto, enquanto 21% promovem rotação de cultura. O cultivo de cobertura foi registrado em 46% das propriedades do programa.
Questionada, a empresa disse que o plantio de milho segunda safra, realizado amplamente no Brasil após a colheita da soja, não está caracterizado como cultura de cobertura, pelo protocolo do programa, assim como é considerado uma cultura de sucessão, não de rotação — técnica que requer mais de três produtos no ano para ser identificada pelas regras do programa.
O programa faz parte da estratégia de descarbonização da Bunge, que tem metas baseadas na ciência validadas pela Science Based Targets Initiative (SBTi) para redução de emissões.
A companhia, que já rastreia 97% de produtos como soja e milho de fornecedores indiretos no Cerrado — a zona agrícola com maior risco de desmatamentos –, tem compromisso de ter sua cadeia de fornecimento livre de qualquer desflorestamento em 2025.
Isso incluiria áreas desmatadas conforme permite a lei brasileira em parte das propriedades e dependendo do bioma, já que a empresa tem a política de não comprar produtos cultivados em áreas desmatadas ilegalmente.