A nova safra de laranja do cinturão produtor de São Paulo e Minas Gerais foi estimada nesta sexta-feira em 232,4 milhões de caixa de 40,8 kg, queda de 24,36% na comparação com o ciclo anterior, em meio ao tempo seco e quente e impactos da doença greening, de acordo com a primeira estimativa do Fundecitrus para a temporada 2024/25.
O volume da safra que começa oficialmente em julho, se confirmado, será o mais baixo em 36 anos na região citrícola que responde pela maior parte da oferta da fruta para a indústria do Brasil, o maior produtor e exportador global de suco de laranja, segundo dados do setor apresentados na divulgação do levantamento.
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“O número nos surpreendeu, em dez safras, é a menor safra que estamos tendo”, disse o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, durante evento que marcou os dez anos de realização de estimativas de produção feitas pelo fundo de pesquisa.
“Vivi mais de 40 ciclos da citricultura, nunca vivi um ano como este, este ano foi o mais atípico”, disse Ayres, lembrando que os laranjais tiveram quatro floradas, mas também intensa queda de chumbinhos (frutos em formação) pelo calor intenso.
A principal região produtora de laranja do Brasil, que vem registrando safras menores nos últimos anos, já chegou a produzir quase o dobro do que se projeta para a nova temporada. Por volta do ano 2000, teve recorde de 436 milhões de caixas, segundo números apresentados no evento. Enquanto isso, a menor produção da série histórica foi registrada em 1988/89 (214 milhões de caixas).
Safras fracas no Brasil, assim como colheitas menores na Flórida, também afetada pelo greening, têm sustentado os preços globais do suco de laranja, que estão sendo negociados perto de máximas históricas desde o final do ano passado, na bolsa de Nova York.
“Somou-se o efeito climático com o efeito do greening”, disse Ayres.
Um laranjal infectado pelo greening, que é causado por uma bactéria transmitida pelo inseto psilídeo, sofre drástica queda de produtividade, que pode ser 60% menor em relação a uma árvore sadia, segundo pesquisas do Fundecitrus.
O greening se espalhou como nunca nos pomares no ano passado, e consultores privados citam o risco de a doença causar uma queda de safra de cerca de 25% ao final de uma década, conforme reportagem anterior da Reuters.
Além do tempo seco, o especialista do Fundecitrus destacou temperaturas acima da média por vários períodos, o que causou a derrubada das flores e chumbinhos para a nova safra.
Segundo ele, quando a laranjeira tem um estresse climático muito forte, ela “joga os frutos no chão”.
“Como este ano a temperatura foi muito alta, este processo aconteceu de forma consecutiva”, afirmou o especialista.
O Fundecitrus também trabalha com um cenário de menor volume de chuvas nos próximos meses, o que pode impactar na queda dos frutos.
Exportações
Para o diretor-executivo da associação de exportadores de suco, a CitrusBR, Ibiapaba Netto, os dados de safra do Fundecitrus mostraram a continuidade de uma situação que se estende pelo quinto ciclo consecutivo, “em que oferta será menor que a demanda, mesmo com certa acomodação que deve ter havido no mercado por conta dos altos preços”.
Segundo ele, o último evento de bianualidade positiva na safra de laranja, quando o setor conseguiu produzir algum excedente para formar estoques, foi na safra 2019/20.
“Desde então, ano após ano, algum evento climático tem acontecido e diminuído a capacidade de produção”, afirmou ele.
Netto evitou fazer projeções sobre o impacto da menor oferta para a exportação brasileira.
Em meio a preços mais altos e oferta limitada, os embarques de suco de laranja do Brasil, em equivalente congelado e concentrado, registram queda de 33,76% no acumulado da safra 2023/24, de julho a março, para 776,7 mil toneladas, segundo dados compilados pela associação de exportadores CitrusBR.