Os atletas que vivem na Vila Olímpica lamentaram não estar recebendo a saborosa culinária francesa que esperavam em Paris, com muitos recorrendo ao TikTok para avaliar a comida nada assombrosa que vem sendo servida no refeitório – embora alguns pontos positivos, como os muffins de chocolate se tornaram virais. De acordo com o Washington Post, são 40 mil refeições fornecidas por dia na Vila Olímpica, entre café da manhã, almoço, jantar e lanches.
Rachel Glenn, atleta norte-americana de atletismo competindo no salto em altura e 400m com barreiras, postou um vídeo em sua conta no TikTok comendo macarrão no refeitório da Vila Olímpica com um áudio que diz: “Ajude-me”.
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Outra atleta norte-americana, mas de atletismo, Raven Saunders, que compete no arremesso de peso e no lançamento de disco, postou um TikTok no refeitório com um áudio que diz: “Você me decepcionou”, enquanto ela mostra a comida para a câmera – e seus seguidores não conseguem descobrir qual comida aparece no post.
Emelia Chatfield, uma atleta de atletismo que representa o Haiti, postou um vídeo no TikTok dando à comida do refeitório uma classificação aproximada de 0/10, chamando-a de “nojenta”, mas admitindo que pode ser 2/10 em “em alguns dias”.
Em uma crítica mais amena, a nadadora de Cingapura, Quah Jing Wen, disse que o sabor de alguns dos alimentos que comeu, especialmente um prato de salmão francês Wellington, “a pegou desprevenida”, mas acabou gostando – embora ela tenha dito que a comida sempre carece de sal. A ginasta filipina Aleah Finnegan disse, da mesma forma, que a comida não era ruim, mas não estava temperada o suficiente.
As refeições oferecidas pelo catering aos atletas na Vila Olímpica e em muitos dos locais de competição, gerida pela empresa francesa Sodexo Live, gerou polêmica após uma maior ênfase em “opções de origem local, à base de plantas e amigas do clima”. As opções alimentares irritaram algumas federações, incluindo a Grã-Bretanha. O presidente-executivo da Associação Olímpica Britânica, Andy Anson, disse que as opções alimentares “não eram adequadas”, citando a falta de ovos e carnes como frango, enquanto acusava o refeitório de servir carne crua aos atletas.
Anson disse que a equipe britânica contratou outro chef para acomodar os atletas que não queriam comer nos refeitórios. O CEO das Olimpíadas de Paris, Etienne Thobois, disse no início desta semana que os organizadores “tiveram que fazer alguns ajustes”, incluindo um “reforço em proteínas animais” e ovos para atender às demandas dos atletas. O reforço chegou com 700 kg de ovos e uma tonelada de carne.
Mesmo assim, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) montou um refeitório próximo à Vila Olímpica para atender seus atletas. No cardápio estão arroz, feijoada, strogonoff de frango, bife, massa, farofa, mais opções vegetais, como couve e couve-flor, banana, abobrinha e até opções veganas, como “linguiça”.
Vale registrar que a alimentação também foi um ponto de discórdia de outras Olimpíadas. Em 2008, na de Pequim, uma das preocupações era com a segurança alimentar. No Rio de Janeiro, em 2016, as filas nos refeitórios enlouqueciam os atletas. E em 2021, na Olimpíada de Tóquio, os organizadores pediram desculpas públicas pelo desperdício de 175 toneladas de alimentos.
Críticas e decisões do comitê
Durante uma coletiva de imprensa poucos minutos após a seleção norte-americana de ginástica feminina conquistar o ouro, as atletas criticaram as ofertas do refeitório depois que um repórter perguntou se elas estavam gostando da culinária francesa. Simone Biles se manifestou, dizendo aos repórteres: “Olha aqui. Não creio que tenhamos uma cozinha francesa adequada na vila, como vocês estão comendo aqui na França, porque vocês estão fora da vila”.
Hezly Rivera, o membro mais jovem da equipe de ginástica, disse: “Não acho muito bom, pelo menos o que estamos comendo no refeitório”. Um atleta britânico, que falou anonimamente ao jornal britânico The Times, disse que “a comida é um desafio neste momento”, afirmando que os refeitórios estão mais caóticos e menos organizados do que foram nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020. O que tem chocado os atletas é não contar com o que vem ocorrendo na capital global da alta e premiadíssima gastronomia, como é a França. A expectativa era outra.
As discórdias em torno do cardápio francês começaram em abril, quando o comitê organizador da Olimpíada de Paris declarou que a meta era cortar pela metade a quantidade de produtos de origem animal oferecidos no evento, na comparação com as mais recentes Olimpíadas. Segundo o comitê, cerca de 60% das 13 milhões de refeições planejadas não teriam carne.
Os muffins que salvam
Os atletas elogiaram um único item em particular do refeitório: os muffins de chocolate. O nadador norueguês Henrik Christiansen ficou tão apaixonado pelos muffins de chocolate que postou 12 vídeos no TikTok sobre eles na semana passada.
Em uma análise de todas as refeições que fez na Vila Olímpica, o muffin saiu na frente – Christiansen deu nota 11/10. Em outro vídeo, ele chamou o muffin de “a melhor coisa da Vila Olímpica” e obteve mais de um milhão de curtidas em um vídeo que fez com seu companheiro de equipe no refeitório, dizendo a Christiansen: “Eu me sinto como você’ Só estou aqui para comer o muffin de chocolate”. Christiansen documentou sua relação cada vez mais dramática com os muffins: em um outro vídeo, ele é flagrado comendo um muffin na cama e, em outro vídeo, pede desculpas ao muffin pelo relacionamento “realmente apaixonado” que tiveram.
O alpinista norte-americano Colin Duffy também postou um TikTok elogiando o muffin de chocolate. Uma usuária do TikTok, que não é atleta, mas diz trabalhar nas Olimpíadas, postou um vídeo afirmando que está “procurando muffins de chocolate nas Olimpíadas, mas tenho quase certeza de que o nadador norueguês roubou todos eles”. “Você nunca os encontrará”, comentou Christiansen.
Reclamações dos atletas vão além dos alimentos
Outros aspectos da vida na Vila Olímpica chamaram a atenção nas redes sociais – incluindo as condições de vida precárias. A tenista norte-americana Coco Gauff lamentou como ela e outras nove mulheres dividem dois banheiros em um vídeo no TikTok.
As pequenas camas de papelão da vila também se tornaram virais, com Biles afirmando no TikTok que as camas são “uma droga” e que vão ganhar um protetor de colchão para torná-las mais confortáveis. Numa outra medida para tornar as Olimpíadas mais sustentáveis, os quartos da Vila Olímpica não foram equipados com ar condicionado, o que levou algumas federações, incluindo os Estados Unidos, a trazerem os seus próprios.