A proposta da Rússia para uma nova bolsa internacional de grãos pode levar anos para sair do papel, embora o plano tenha sido bem recebido pelos membros do grupo de países do Brics em uma cúpula realizada esta semana em Kazan, na Rússia.
Eduard Zernin, chefe da União de Exportadores de Grãos, cujos membros exportam 80% dos grãos russos, disse que, com base na experiência da criação do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, o lançamento da bolsa conjunta exigiria anos de trabalho preparatório.
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Zernin afirmou que a nova bolsa proposta deveria ter status internacional para protegê-la de possíveis sanções ocidentais. “A principal etapa do processo foi concluída, a iniciativa de criar uma bolsa foi aprovada em nível de líderes dos países do Brics”, disse.
A Rússia tem pressionado para estabelecer a bolsa como parte de um plano mais amplo para criar novos instrumentos financeiros, separar seu comércio do dólar americano e ajudar Moscou a combater as sanções ocidentais.
O presidente Vladimir Putin disse na cúpula que os países do Brics, que estão entre os maiores produtores mundiais de grãos, legumes e oleaginosas, poderiam estabelecer essa bolsa, potencialmente expandindo-a para negociar outras commodities importantes.
O plano para criar a bolsa foi aprovado pelos líderes dos países do Brics, cujos membros incluem Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Os países deram as boas-vindas ao plano de troca de grãos da Rússia em seu comunicado na cúpula e apoiaram as propostas para desenvolvê-lo e expandi-lo posteriormente para outros setores agrícolas. O Irã e o Egito, que agora são membros do Brics, são grandes compradores do trigo russo.
A Rússia, o maior exportador de trigo do mundo, vem se esforçando há anos para desenvolver seus próprios mecanismos de precificação de commodities para combater o domínio das bolsas ocidentais, especialmente após o declínio deste ano nos preços globais de grãos.
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O governo russo, preocupado com os altos volumes de exportação a preços baixos nos últimos meses, acertou informalmente com os principais exportadores que grãos russos não devem ser vendidos a compradores soberanos por meio de intermediários, de acordo com a União de Exportadores de Grãos.
O governo também recomendou que os exportadores não vendam trigo a um preço abaixo de US$ 250 por tonelada métrica, o que está bem acima dos níveis atuais, disseram fontes da Reuters.
Há necessidade de uma nova Bolsa de Grãos?
Alguns analistas do setor questionaram a necessidade imediata de uma nova plataforma de comércio de grãos, dado o bom funcionamento das bolsas internacionais de grãos existentes.
“Devido às vantagens que as bolsas já estabelecidas têm em termos de clientes, infraestrutura, histórico e liquidez, levará algum tempo para que a nova bolsa se equipare”, disse Yaroslav Lissovolik, diretor do think tank BRICS+ Analytics.
Alexander Belozertsev, diretor da consultoria Alexandra Inc, disse que, ao contrário da Rússia, outros membros do Brics, como Índia, China, Brasil e África do Sul, já têm suas próprias plataformas de negociação de commodities bem estabelecidas.
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“Estratégica e tecnologicamente, todas essas bolsas avançaram significativamente no comércio de derivativos agrícolas em comparação com seus concorrentes russos. Será que elas realmente precisam da implementação da iniciativa da Rússia sob o guarda-chuva do Brics?”, disse ele.