
O Brasil está desequilibrando o “jogo” da alimentação global, e isso incomoda! O incômodo, vindo de países concorrentes, ficou evidente nas últimas semanas e ressalta que a produção brasileira não é apenas essencial para a alimentação sustentável mundial, mas também é economicamente muito competitiva, a ponto de assustar a frágil pecuária francesa, altamente subsidiada.
Adianto a todos: a carne brasileira é sustentável por natureza e – de hoje em diante – vem temperada com o combate ao protecionismo francês!
A narrativa, vinda de representantes de empresas e parlamentares franceses, é mais uma peça no intrincado jogo político e econômico que envolve o mercado global de carne bovina. O Brasil, com destaque para Mato Grosso, é uma potência nesse segmento, mas ainda enfrenta barreiras, muitas vezes sob o pretexto de preocupação ambiental, de países pobres em biodiversidade que tentam proteger seus mercados domésticos.
Diferente do que muitos pensam o fato é que, mesmo sendo fundamental para o equilíbrio da nossa balança comercial, exportamos pouco do que produzimos. Até agora, no ano de 2024, apenas 35% da produção de carne de MT teve como destino a exportação, enquanto aproximadamente 65%, incluídos os cortes mais gourmets, foram destinados ao mercado interno.
Atualmente, a China é o grande destaque, comprando mais de 42% do volume de carne bovina exportado por Mato Grosso neste ano. Vejam que é um mercado muito estratégico! Conforme temos constatado em viagens à China nos últimos seis anos, embora a carne bovina represente apenas 6% da proteína animal consumida pela enorme população de chineses, a tendência é que consumam cada vez mais. E é preciso que entendam: somente o Brasil tem a possibilidade de intensificar sua produção de forma sustentável e assim aumentar o volume de produção conforme a demanda for aumentando! Nossos concorrentes já estão próximos do limite da intensificação.
Ao contrário do que nossa concorrência prega, a carne produzida e exportada pelo Brasil e Mato Grosso para a China é de gado jovem e de altíssima qualidade. Acho até que deveríamos vendê-la melhor, deixando claro sua precocidade e maciez, talvez chamando-a de Brazilian Beef Steers, como foi sugerido por um exportador no stand de Mato Grosso em Shangai.
Enquanto isso, mercados mais restritos e específicos, como os de países da União Europeia, com menos de 4% de participação no volume das exportações de carne bovina de Mato Grosso, são os que mais difamam nosso sistema produtivo, desqualificando nossa qualidade e controles sanitários, dando a entender que somos incapazes de originar alimentos de qualidade ou de cuidar da nossa biodiversidade.
A declaração recente do CEO Global do Carrefour, rede varejista francesa, de que as lojas francesas do grupo deixariam de adquirir carnes vindas de países do Mercosul, causou grande indignação. Na verdade, não deveria nem nos surpreender, já que tudo isso é fruto de um conhecido posicionamento bairrista, que atende às pressões do setor agrícola francês há anos, expondo um protecionismo que vem disfarçado de preocupação com o meio ambiente. Será que fingem se preocupar com nossas florestas e biomas? O deslize do CEO despreparado nos leva a acreditar que sim!
Ficou evidente que a pecuária francesa enfrenta grandes dificuldades e; com seus produtores rurais envelhecidos, com um modelo de produção pouco sustentável, com altas emissões de gases do efeito estufa e dependente de altos subsídios; estão correndo sério risco de “extinção”! E essas já apertadas margens de lucro ainda vão piorar com a implementação da nova legislação ambiental da União Europeia (EUDR), que tem por objetivo reduzir a crescente perda de biodiversidade no planeta, mas na prática está expondo a falta de competitividade da agropecuária europeia.
Mas afinal, qual a importância do mercado francês para a carne bovina de Mato Grosso?
Dados divulgados pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, a Sedec, mostram a pouca relevância da França na importação de carne bovina mato-grossense. De janeiro a setembro de 2024, Mato Grosso exportou apenas 26 toneladas de carne bovina para a França, o equivalente a 0,01% de tudo que foi exportado pelo estado para o mundo.
Mas a quantidade negociada não é o foco da polêmica! Independentemente do volume comprado pelos franceses, o que não podemos é nos calar e aceitar que lancem mentiras que gerem dúvidas sobre a falta de sustentabilidade e segurança sanitária da produção brasileira. A resposta do Brasil e de Mato Grosso tem sido firme e necessária. Infelizmente (para a França), o Brasil detém a maior biodiversidade do planeta.
Nossa carne bovina não apenas atende às rigorosas normas sanitárias e ambientais, mas também é sustentável de verdade e já lidera, com seu modelo de produção a pasto em clima tropical, ou seja, temos todas as condições de ampliar a produção sustentável em larga escala. Acredito que a lei de reciprocidade que tramita no legislativo deveria estabelecer uma metodologia de classificação global de sustentabilidade, onde ficaria claro quem é quem nessa guerra de informação, que só desvia o foco dos verdadeiros desafios. Somos alvos porque somos competitivos, temos biodiversidade e estamos na frente.
Diante deste cenário, de repetitivos e desrespeitosos ataques contra a pecuária brasileira, não seria hora de tirar o filé do prato dos franceses?
Não seria hora de ampliar a presença da carne de MT para outros mercados, em especial os da Ásia e Oriente Médio? Por que não competir diretamente com Estados Unidos e Austrália na venda de carne de alta qualidade para a China? Temos condições de oferecer não só um produto diferenciado, mas também sustentável, destacando nossa biodiversidade e capacidade de produção com baixo impacto ambiental. É isto que estamos fazendo no Instituto Mato-grossense da Carne (Imac).
Desde 2018, temos nos empenhado bastante para divulgar in loco a excelente qualidade de nossos produtos. Neste mês de novembro, no estande de Mato Grosso montado na Feira Internacional de Importação da China (CIIE), pudemos constatar mais uma vez o enorme interesse dos chineses pela carne mato-grossense. O local foi um dos mais visitados, formando grande aglomeração de consumidores curiosos e satisfeitos com a degustação do MT Steak, um corte suculento e versátil que representará o Brasil mundo afora.
Nossa missão é clara: assumir também o protagonismo do mercado de carne gourmet mundial, fortalecer laços comerciais, conquistar novos mercados e continuar mostrando ao mundo que a carne bovina do Brasil e de Mato Grosso não é apenas um alimento, mas um símbolo de excelência e comprometimento, que vai do pasto ao prato. É uma história de tradição, inovação e compromisso com o futuro e, por isso, devemos ser parceiros de quem respeita nosso trabalho. Brasileiros, orgulhem-se e defendam a nossa pecuária e o nosso modelo agroambiental de produção!
*Caio Penido é empresário, produtor audiovisual e rural e presidente do IMAC (Instituto Mato-grossense da Carne). Foi fundador da Liga do Araguaia, movimento que nasceu em 2014 visando a adoção de práticas sustentáveis e que em 2021 se tornou o Instituto Agroambiental Araguaia.
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