Cabo de guerra é aquele jogo de corda em que cada parte puxa para o seu lado. No caso da balança comercial do agro entre os dois países, a posição do país vizinho sempre foi de vencedora. Nesta quinta-feira (5), Brasil e Argentina são os dois atores principais da Cúpula do Mercosul, em sua 65ª edição. Em lados opostos, a relação tem se tornado difícil, com a Argentina declarando o desejo de fazer acordos comerciais fora do bloco, embora para este encontro afirmou que pode chegar a um consenso com a União Europeia via Mercosul.
Enquanto no cenário geral a Argentina perde em seu comércio com o Brasil, por ser uma grande compradora, ao colocar luz na relação comercial de produtos agrícolas o cenário é totalmente diverso. O comércio de produtos agropecuários entre os dois países é uma relação assimétrica. Enquanto o Brasil se destaca como um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, essa posição não se traduz em vantagem quando o assunto é o intercâmbio com o vizinho do sul. Neste ano, entre janeiro e outubro, a balança comercial já é favorável a eles em US$ 2,2 bilhões.
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De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o grande produto importado pelo Brasil são os farináceos, sendo a maior parte trigo em grãos e farinha de trigo, item essencial na dieta brasileira, principal exemplo dessa dependência. A maior parte do trigo consumido no Brasil é importada, e a Argentina lidera com folga como a principal fornecedora. Em 2023, foram importadas 3,6 milhões de toneladas, por US$ 1,508 bilhão.
Mas não é somente ele. Além do trigo, o Brasil importa da Argentina lácteos, bebidas, como sucos e vinhos, carnes, complexo soja, produtos hortícolas, leguminosas, raízes e tubérculos, chá, mate e especiarias, complexo sucroalcooleiro, couros, produtos de couro e peleteria, fibras e produtos têxteis, frutas (incluindo nozes e castanhas), fumo, pescados, plantas vivas e produtos de floricultura, produtos florestais, rações para animais, animais vivos e até café, cacau e seus produtos.
Neste ano, o total que o Brasil importou da Argentina, entre janeiro e outubro, já rendeu a eles o embarque de 6,178 milhões de toneladas de produtos, por US$ 3,436 bilhões. Isso representa mais do que toda a importação de 2023, que foi de 4,838 milhões de toneladas de produtos agrícolas e pecuários, por US$ 3,378 bilhões.
No sentido contrário, o Brasil exporta uma ninharia de produtos para a Argentina. Neste ano, de janeiro a outubro, o país exportou para lá apenas 859 mil toneladas, por US$ 1,217 bilhão. Em todo 2023, o Brasil exportou 4,879 milhões de toneladas, por US$ 3,490 bilhões, mas por um motivo muito pontual.
Desse total, 4 milhões de toneladas, por US$ 2,028 bilhões, foi de soja. A Argentina atravessou um severo período de estiagem e faltou grãos para sua fortíssima agroindústria de farelo de soja, uma das maiores do mundo, para processar o produto e exportar com valor agregado. Em 2022, por exemplo, sem precisar da soja brasileira, a Argentina comprou apenas 1,3 milhão de toneladas por US$ 1,8 bilhão e esse foi também o cenário de anos anteriores.
Um dos motivos da pequena necessidade de comprar produtos brasileiros é a proximidade da Argentina com grandes mercados consumidores e a existência de cadeias produtivas autossuficientes em diversas áreas, além das barreiras comerciais e da política cambial. Esse desequilíbrio é agravado por fatores estruturais e conjunturais. Enquanto o Brasil importa produtos essenciais, como trigo e leite em pó, a Argentina importa volumes reduzidos de produtos agropecuários brasileiros, muitas vezes optando por fornecedores locais ou alternativos.