Quando a australiana Alex Olsson, como é conhecida Alexandra Olsson, assumiu o negócio de sal da família em 1997, após uma carreira de 12 anos na área de hotelaria, encontrou a empresa em meio a uma guerra de preços. Uma marca norte-americana estava em seu país, importando da Ásia sal e seus produtos a preços muito baratos.
“Eles nos subestimaram por cinco anos, tentando nos quebrar,” diz Olsson. “Mas, obviamente, eles não nos conheciam. Apertamos os cintos, não pagamos salários à nossa família e os colocamos para fora do mercado. Meu pai tinha orgulho desse feito”.
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Seu pai Charles, e o irmão Donald, estavam na empresa desde a sua criação, em 1954. O grupo Olsson é atualmente a mais antiga empresa de sal de propriedade familiar na Austrália. O negócio começou quando o pai comprou uma prensa de sal de segunda mão na década de 1940, porque a ideia era substituir um negócio de transporte de gelo e carvão.
O plano tinha lógica. Na época, os Olssons eram donos de uma fazenda de gado que dispunha de áreas de pastagem próximo de Goulburn, ao sudoeste de Sydney, e sabiam que havia demanda por blocos de sal para o gado em fazendas da região afetadas pela seca. Goulburn é famosa por sua produção de sal de fontes naturais, especialmente em áreas onde há depósitos subterrâneos de sais minerais.
No início, a família comprava sal para fabricar os blocos, mas na década de 1960 já possuía suas próprias salinas – primeiro no sul da Austrália e depois em Queensland, vendendo o excedente para o mercado de baixo custo, como sal para piscinas, sal de mesa sem marca e sal industrial.
A Austrália tem um rebanho de cerca de 23 milhões de bovinos e o estado de Queensland está entre os maiores produtores, com fortes grupos. Somente a Australian Agricultural Company (AACo.), uma das maiores e mais antigas produtoras de gado e carne bovina do país, opera um rebanho de cerca de 500 mil bovinos.
Para a família Olsson, nos primeiros sete anos, o trabalho de Alex era vender aos fazendeiros o lucrativo carro-chefe do negócio – os blocos de sal para bovinos da marca Olsson’s, enriquecidos com minerais. Mas a guerra de preços trouxe à tona um outro ponto crucial: eles não estavam lucrando como fornecedores de commodities, eles não tinham uma marca.
“Empacotávamos muitas marcas genéricas para supermercados, quem quer que fosse. Perdíamos dinheiro em cada frasco que vendíamos. Estávamos subcotando todo mundo, sem pensar no quanto isso nos custava”, diz Alex.
Alex ainda conta ainda que a família estabelecia os preços, e não negociava. “Nós estabelecemos os preços. Foi uma decisão terrível arruinar o próprio negócio e prejudicar o potencial da linha de produtos sem pesquisa e com pouquíssima diligência.” Ela conta que no começo, o negócio perdeu muita receita, mas depois conseguiram recuperar as margens de lucro da empresa.
Seu pai, Charles, sabia que eles precisavam de um produto no qual o processo de fabricação não fosse algo simples. Foi assim que a família decidiu apostar em flocos de sal. Charles havia visitado as salinas de Languedoc, na França, e observado o fenômeno natural da formação de sal em flocos – em vez de cristais mais arredondados. O sal em flocos se forma quando um clima muito frio é seguido por uma onda de calor e uma brisa suave.
Charles queria replicar isso na Austrália e passou uma década experimentando, diz Alex. Até que enfim, em 2012, ele desenvolveu uma salina do tamanho de uma piscina, refrigerada por baixo, com um ventilador soprando por cima.
Ela conta que foi seu pai que lhe deu a missão de tornar a marca Olsson’s conhecida nas residências da Austrália, da mesma forma que os blocos de sal eram reconhecidos pelos pecuaristas do país. “Era minha tarefa embrulhar isso em marketing e vender”, diz Alex. “Procurei todos os meus amigos da área hoteleira e de restaurantes e enviei os flocos de sal a todos os chefs que conhecia. Conseguimos fazer isso com cerca de 500 restaurantes.”
Atualmente, os flocos de sal representam 10% da receita, enquanto os blocos para o gado continuam sendo a principal fonte de lucro da empresa, diz Murray Olsson, primo de Alex. Ele explica que os animais adoram lamber o sal da marca, que tem uma função nobre na criação. “Em algumas áreas, os animais lambem o bloco de sal como fonte de fósforo na dieta; em outras, o bloco de sal pode ser fonte de selênio ou outros minerais essenciais,” explica Murray.
Mas o sal em flocos se transformou em um case de sucesso, fez a família trafegar pela alta gastronomia e criar uma cultura de consumo personalizado para um produto tão básico como o sal. Nas mãos de Alex se tornou sofisticado e cobiçado.
O pai Charles faleceu em 2023, aos 82 anos. O pai de Murray, Donald, que administrava a parte do negócio em Queensland, havia falecido 12 anos antes. Quando a geração formada por Murray, Alex e Genevieve, irmã de Alex, assumiram o comando, não havia pressão por uma nova direção.
“Meu pai era um empresário incrivelmente bom,” diz Alex. “Ele era um comunicador maravilhoso, então já havia nos encarregado do que precisávamos fazer”. Hoje, a família é dona de um império do sal. Por exemplo, nas águas cristalinas do Golfo Spencer com mais de 300 dias de sol por ano está a segunda salina, perto de Rockhampton. Um dos produtos, retirado das águas intocadas da Grande Barreira de Corais, produz um sal naturalmente rico em minerais marinhos.