
A Gás Verde, empresa brasileira que possui a maior planta de produção de biometano da América Latina, localizada no Rio de Janeiro, está lançando uma solução de ponta a ponta para impulsionar o transporte logístico com caminhões movidos a gás renovável, com objetivo de ajudar grandes indústrias a cumprir com metas de descarbonização, disse o diretor-presidente da companhia à Reuters.
O projeto começa com uma parceria com a Scania, empresa especializada na fabricação de caminhões pesados, ônibus e motores industriais e marítimos, prevendo a locação de 100 caminhões que serão abastecidos com o biometano da Gás Verde produzido em aterro sanitário. A previsão é de alcançar 2 mil veículos rodando pelo país em 36 meses.
Segundo Marcel Jorand, CEO da Gás Verde, a solução foi pensada para resolver riscos e questionamentos que costumam desestimular as indústrias a migrar para alternativas mais sustentáveis no transporte rodoviário de seus produtos.
“A gente entrega o caminhão alugado para o cliente — ele não precisa fazer o investimento —, a manutenção toda incluída e o abastecimento. Estamos com o pacote completo. Quem vai dirigir e operar é a indústria, nosso cliente final, que vai escolher”, explicou.
O executivo afirmou ainda que a solução ajuda as indústrias a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa do tipo “escopo 3”, que ocorrem ao longo da cadeia de valor da empresa, normalmente mais difíceis de monitorar e controlar pois dependem de terceiros.
O biometano é um gás de origem renovável que serve como substituto de combustíveis fósseis, como gás natural e diesel, e vem ganhando mais atenção diante da agenda de transição energética. Ele resulta do processamento do biogás, que por sua vez é obtido de resíduos orgânicos urbanos e agropecuários, como de aterros sanitários e da industria da cana.
A Gás Verde possui uma capacidade de produção de biometano somada 160 mil m³/dia em duas plantas, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A produção da companhia deverá subir para 650 mil m³/dia até 2028, quando mais dez unidades, em seis Estados, estarão em operação.
Os investimentos não foram divulgados, mas Jorand estimou que os recursos envolvidos na iniciativa irão superar R$1 bilhão, considerando os preços e a quantidade de caminhões previstos. Já o consumo de biometano para toda a frota de 2 mil veículos deverá ficar perto de 300 mil m³/dia.
“Virou uma célula nova, muito relevante, que provavelmente vai ser uma das maiores do grupo”, avaliou o executivo, acrescentando que o projeto deverá envolver veículos de diferentes portes, desde cavalos mecânicos grandes até caminhões de coleta de lixo e de pequeno porte que circulam nas cidades.
Alex Nucci, diretor comercial da Scania no Brasil, destacou a importância do gás para substituir o diesel na matriz de transportes. Segundo ele, essa é uma aposta da fabricante sueca desde 2018, quando trouxe os caminhões a gás para o mercado brasileiro, e que deve ganhar impulso com o aumento da produção nacional do biometano projetado para os próximos anos.
“A gente acredita que nos próximos cinco anos, de tudo que a Scania produz de caminhão no Brasil, de 10% a 15% pode ser a gás. Partindo do princípio que a Scania produz para o mercado brasileiro entre 15 mil e 20 mil caminhões por ano, nós temos um potencial de 1.000, 1.500 unidades anualmente sendo comercializadas”, estimou o executivo.
Nucci lembra ainda que o biometano já é usado em larga em escala nos transportes em países da Europa como Suécia e Alemanha. “O veículo 100% movido a gás entrega a mesma qualidade de um veículo a diesel. A gente acredita que agora daqui pra frente nós vamos ver um crescimento muito forte do gás, o biometano, aplicado a caminhões pesados”.