Milhões de abelhas já morreram nos Estados Unidos neste inverno (que começou em dezembro e vai até março), em um evento sem precedentes, resultando em perdas recentes de mais de 50% e prejuízos financeiros superiores a US$ 139 milhões (R$ 792,3 milhões na cotação atual), de acordo com uma pesquisa realizada por grupos da indústria de apicultura, que reúnem 234 apicultores e que foi divulgada na última quinta-feira (6).
Os novos resultados surgem justamente quando a temporada de cultivo de amêndoas na Califórnia está prestes a começar – um evento massivo que exige praticamente todas as 3 milhões de colmeias de abelhas melíferas do país, que são transportadas para polinizar as árvores. “Há um verdadeiro pânico agora para descobrir o que está errado e quão grave será a situação”, disse Danielle Downey, diretora executiva do Project Apis m. (batizado com o nome científico da abelha europeia, Apis mellifera), um dos grupos envolvidos na pesquisa.
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Quando os apicultores retomaram suas operações após o inverno, notaram que metade ou mais de suas abelhas estavam mortas ou haviam desaparecido. No final deste mês de janeiro, eles procuraram pesquisadores que pudessem ajudar a entender o que estava acontecendo.
As amêndoas são o problema mais urgente no momento. Depois delas, as abelhas serão necessárias para polinizar outras frutas, incluindo mirtilos, cerejas, cranberries e maçãs. Para os consumidores, a morte em massa das abelhas – cuja causa ainda é desconhecida – pode resultar na escassez desses alimentos nos supermercados ou preços mais altos.
As perdas durante o inverno, somadas às perdas anteriores ao longo do ano, dizimaram de 70% a 100% das colmeias de muitos apicultores, segundo os pesquisadores, que representam a American Beekeeping Federation e a American Honey Producers Association, que reúne os produtores de mel, e a Adee Honey Farms, uma das maiores empresas de apicultura dos Estados Unidos, especializada na produção do melado e na prestação de serviços de polinização para a agricultura.
Diante disso, alguns apicultores se perguntam como vão sobreviver, enquanto produtores agrícolas enfrentam dificuldades para conseguir abelhas para polinizar suas plantações.
Blake Shook, apicultor comercial em Leonard, no Texas, disse que tem recebido ligações de colegas em todo o país, muitos preocupados com a possibilidade de terem que fechar suas operações. “O setor está cambaleando, tentando entender o que está acontecendo. É bem assustador.” Os sintomas dessas perdas lembram os do Distúrbio do Colapso das Colônias (Colony Collapse Disorder), que ocorreu entre 2007 e 2008, quando abelhas desapareceram repentinamente de suas colmeias, escreveram os pesquisadores.
Durante inspeções recentes conduzidas por cientistas de campo, muitas colônias mortas ainda tinham grandes reservas de mel, restando apenas pequenas porções de ovos, larvas e pupas, enquanto a maioria ou todas as abelhas adultas haviam desaparecido. Shook afirmou que as perdas atuais são mais preocupantes do que as registradas na época do Distúrbio do Colapso das Colônias. “O que torna isso pior é que, antes do Colony Collapse, nossa taxa média de perdas era de 15%, e de repente saltou para 45%”, disse ele. “Agora, já começamos com uma taxa de perda de 45% e ela aumentou ainda mais.”
Estudos do laboratório de pesquisa sobre abelhas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA-ARS), em Beltsville, e entrevistas realizadas pelas organizações de apicultura determinaram que as perdas são severas e ocorrem em todo o país, mas sua causa ainda não foi identificada. As explicações comuns de mortalidade das abelhas, como um parasita agressivo conhecido como ácaro varroa, aparentemente não são responsáveis desta vez. Os pesquisadores planejam análises adicionais de amostras para investigar vírus, parasitas e resíduos de pesticidas a fim de entender o que está acontecendo.
As abelhas podem sofrer com várias doenças, incluindo uma infecção bacteriana devastadora chamada American Foulbrood, doença altamente contagiosa que afeta larvas jovens de abelhas-melíferas, intoxicação por pesticidas, nutrição inadequada e o estresse causado pelo transporte constante pelo país para polinizar culturas, além da infestação pelo ácaro varroa.
“Não há nada óbvio que explique por que tantas colônias foram perdidas”, disse Downey. “A cada ano, nos aproximamos cada vez mais do limite e sabemos que isso não é sustentável. As abelhas melíferas são fundamentais para a polinização dos nossos alimentos. Precisamos protegê-las melhor.”
Se haverá escassez ou aumento de preços de amêndoas e outras frutas dependerá do clima e de outros fatores, mas a redução no número de abelhas representa um grande risco. “Não há abelhas suficientes para polinizar todas as amendoeiras”, disse o apicultor Shook, acrescentando: “Essa é a primeira polinização da temporada, então não é um bom começo.”
Tim Hollmann, apicultor da Dakota do Sul com mais de 40 anos de experiência, disse que gastou US$ 250 mil (R$ 1,425 milhão) no ano passado para repor abelhas após uma perda de 70% e que está enfrentando um nível semelhante de mortalidade este ano. Ele administra o negócio com sua esposa e dois filhos e teme pelo futuro. “Já passamos por tempos difíceis na apicultura antes, mas esta situação parece ser algo diferente do que já enfrentamos, e não tenho certeza se todas as fazendas familiares como a minha conseguirão sobreviver”, afirmou.
Além disso, Hollmann destacou que a concorrência do mel estrangeiro barato – que representa cerca de três quartos do consumo nos Estados Unidos – agrava ainda mais as dificuldades. “Mesmo que consigamos manter as abelhas vivas e produzir mel, estamos sendo pressionados de todos os lados”, disse ele.
Com produtores agrícolas buscando desesperadamente abelhas que não existem, Danielle Downey, do Project Apis m., afirmou que alguns apicultores estão recorrendo a medidas extremas, como o roubo de colmeias.
A California State Beekeepers Association, uma organização que representa os apicultores do estado, estima que a região tenha registrado um aumento de 87% nos furtos de colmeias desde 2013, com prejuízos superiores a US$ 3,5 milhões (R$ 19,95 milhões) para os apicultores. A entidade anunciou nesta semana um novo esforço para combater esses crimes em parceria com uma agência de detetives especializada em crimes agrícolas. “Eles entram nos pomares, carregam as abelhas de outra pessoa e depois as alugam”, disse Downey.