
O preço de caixas de 30 dúzias de ovos comerciais chegou a R$ 258 para pagamento à vista em Belo Horizonte, ontem (19), de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea Esalq/USP), de Piracicaba (SP). No início de janeiro, esses mesmos ovos, os vermelhos, custavam R$ 171 na capital mineira. As cotações dos ovos têm disparado em todo o Brasil nos últimos tempos e não apenas na capital mineira.
As causas são variadas, algumas se sobressaem, mas vale comparar com o que está ocorrendo nos EUA? A Forbes tem publicado frequentemente o que ocorre naquele país, que sofre com a gripe aviária. Veja o que ocorre no Brasil:
Demanda de ovos aumenta
Para 2025, a estimativa é de uma produção de 59 bilhões de unidades no ano, gerando um consumo per capita de 272 unidades, o que significa um consumo de cerca de 40 unidades acima da média global. Justamente, uma das resposta sobre o atual cenário é o aumento da demanda.
Além disso, há uma troca de proteína provocada pela pressão da carne bovina que pesa no bolso do consumidor. A troca é histórica, geralmente para uma proteína mais barata, como a carne de frango e ovos. Junte-se a isso o período da Quaresma, evento cristão que prega o não consumo de carnes por 40 dias, neste ano entre 5 de março a 17 de abril.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) reforça que a “alta registrada no preço dos ovos é uma situação sazonal, comum ao período pré e durante a quaresma”. Segundo a entidade, “após longo período com preços em baixa, a comercialização de ovos aqueceu pela demanda natural da época, quando há substituição de consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas e por ovos”.
E como fica a produção?
Outra questão é a atual oferta limitada. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a produção de ovos no Brasil em 2024 foi de 57,6 bilhões de unidades, um aumento de 9,8% ante 2023. O consumo per capita também cresceu. Ele foi de 269 unidades por habitante no ano passado, um crescimento de 11,2% ante 2023.
O aumento da produção no ano passado teve como consequência a queda dos preços nas granjas, principalmente no período final do ano, o que levou o setor a ajustar a oferta neste início de 2025.
Custos de produção em alta
O aumento nos custos da ração para as aves também tem impactado os preços dos ovos. O milho é seu principal componente. Neste início de 2025, os preços do milho no mercado interno estão acima dos registrados no começo de 2024.
Embora a estimativa seja de aumento da produção no final do ciclo, o Brasil deve exportar 34 milhões de toneladas entre fevereiro/25 e janeiro/26, com um excedente interno de milho que será o menor desde a safra 2020/21. No caso do milho verão 2024/25, o primeiro a entrar no mercado, a Conab estima uma redução de 1,9% na oferta em relação à safra anterior, com 22,53 milhões de toneladas. A área plantada de milho verão é a menor da série histórica da Conab (desde 1976/77).
Segundo a ABPA, os custos de produção “acumularam alta nos últimos oito meses, com elevação de 30% no preço do milho e de mais de 100% nos custos de insumos de embalagens.”
Clima mais quente, menos ovos
As temperaturas em níveis históricos também têm impacto direto na produtividade das aves, com reflexos na oferta de produtos, diz a ABPA. Nas altas temperaturas, o nível de desempenho em chocagem de ovos das aves de corte pode cair. Não por acaso, os aviários são climatizados. É essencial manter a temperatura ambiente dentro dos galpões entre 28ºC e 30ºC. Segundo a Embrapa, quando a temperatura ambiente atinge valores altos, entre 36ºC a 40ºC, há risco de taxas elevadas de mortalidade.
Impacto internacional
Nos Estados Unidos, um surto de gripe aviária levou ao sacrifício de milhões de aves, reduzindo a oferta de ovos e aumentando os preços no mercado internacional. Os preços disparando para US$ 8 a dúzia (R$ 45,60 na cotação atual), acima dos acima dos US$ 2,52 no início de 2024.
Embora o Brasil não tenha registrado casos de gripe aviária em aves comerciais, realizando um trabalho exemplar de proteção de suas granjas, o cenário global pode sofrer pressões por causa da busca por mercados mais seguros. O Brasil poderia ser um deles e está aberto. Em 2024, as exportações (entre in natura e processados) foram de 18.469 toneladas, volume 27,3% menor em relação ao ano anterior, o que dá espaço para retomadas. Vale registrar que as exportações de ovos têm efeito quase nulo sobre a oferta interna, por representarem menos de 1% da produção nacional.