
A Edible Brands, empresa controladora da rede de cestas de frutas Edible Arrangements, nos EUA, está dando uma mordida na indústria da cannabis. Sediada no estado da Geórgia (EUA), a empresa que teve US$ 500 milhões em vendas anuais em 2024 (R$ 2,8 bilhões na cotação atual), lançou nesta semana o site Edibles.com, uma plataforma de comércio eletrônico que vende produtos com THC derivado do cânhamo produzidos por algumas das maiores marcas da indústria da maconha, incluindo Wana, Kiva e Cann. A Edible Brands não está vendendo maconha, que é ilegal em nível federal, mas está focada em produtos com THC derivados do cânhamo — o “primo” menos potente da cannabis, e legal em todo os EUA.
Mas esses produtos ainda são potentes o suficiente para deixar os consumidores chapados. “Isso é algo muito natural para nós,” diz a CEO da Edible Brands, Somia Farid Silber, à Forbes. “Nós já somos chamados de ‘edible’ (comestível), certo? Sabemos que às vezes já há até uma certa expectativa do cliente por produtos [de cannabis].”
O site Edibles.com, que a empresa adquiriu no ano passado, será lançado primeiro no Texas, mas logo será expandido para a Geórgia, Flórida, Carolina do Norte e Carolina do Sul, com expectativa de alcançar todo o país ainda este ano. Com sua rede de mais de 700 lojas da Edible Arrangements, a empresa afirma que os clientes poderão fazer pedidos online e receber seus produtos de cannabis em casa mais rapidamente do que por meio de um agente à moda antiga.
“Temos uma rede de entrega incrível com nossos franqueados para realizar os pedidos — conseguimos alcançar 70% dos lares dos EUA em até uma hora,” diz Silber.
Como a maconha ainda é ilegal em nível federal, mas o cânhamo contém THC suficiente para causar efeitos psicoativos, alguns dos maiores nomes da indústria da cannabis começaram a vender produtos derivados do cânhamo fora dos dispensários. A indústria do cânhamo e da maconha costumava estar em conflito, mas ao longo do último ano algumas das maiores empresas do setor, como Curaleaf, Trulieve, Kiva e Wana, passaram a adotar a legalidade federal dos canabinoides derivados do cânhamo, graças à Farm Bill de 2018, e começaram a vender seus próprios produtos.
A Farm Bill (Lei Agrícola, em tradução livre) é a legislação que trata de políticas relacionadas à agricultura, alimentos, meio ambiente e desenvolvimento rural tem grande impacto em áreas como subsídios, programas de alimentação, conservação ambiental, seguro rural, pesquisa agrícola, produção de commodities, além das políticas relacionadas a produtos derivados do cânhamo e da cannabis.
No caso da indústria de produtos de cânhamo, que é ainda maior do que o setor de maconha, ela tem sido sufocada por um código tributário federal punitivo voltado a traficantes e por uma regulamentação excessiva em nível estadual. Em 2023, as vendas de produtos de cânhamo atingiram US$ 28 bilhões (R$ 159 bilhões), enquanto as vendas de maconha somaram US$ 26 bilhões (R$ 148 bilhões), segundo a Whitney Economics.
Joe Hodas, CEO da Wana, uma das fabricantes de comestíveis mais vendidas dos EUA, diz que vê o cânhamo como uma forma de expandir para estados que não têm leis que autorizam o uso recreativo da maconha. A Wana também começou a vender sua linha de bebidas com THC derivado do cânhamo nas lojas da Total Wine.
Edible Brands se aventura no mercado da cannabis
Esta não é a primeira vez que a Edible Brands se aventura no espaço da cannabis. Em 2019, a Edible Arrangements lançou sua própria linha de comestíveis com CBD, que não são psicoativos. Mas essa guinada para o THC é ainda mais ousada. E é um sinal de que os produtos de cannabis — especialmente comestíveis e bebidas — se tornaram parte do mainstream.
Em 1999, o imigrante paquistanês Tariq Farid lançou a primeira loja da Edible Arrangements em Connecticut. Agora sediada na Geórgia, a empresa se tornou a principal referência em presentes de cestas de frutas, vendendo morangos cobertos de chocolate, cookies e buquês de frutas cortadas para aniversários, casamento, funerais e outros marcos da vida. Além das lojas franqueadas nos EUA, a Edible Brands também é dona dos sites freshfruit.com e da Roti, uma rede de restaurantes mediterrâneos de fast-casual.
A Edible Brands está mergulhando de cabeça na batalha política sobre os produtos de THC derivados do cânhamo atualmente em curso no Texas. Mas o vice-governador Dan Patrick está liderando um esforço para fechar esse setor, composto por mais de 8 mil lojas de cânhamo em todo o estado.
Na quarta-feira (19), o Senado do Texas aprovou um projeto de lei que proibiria todos os produtos contendo THC, incluindo gomas, vaporizadores, flores e bebidas. A proposta ainda não virou lei, porque a Câmara ainda precisa votar sua versão do projeto, que visa regulamentar — e não eliminar — o mercado de cânhamo no estado. Mesmo assim, nada disso está impedindo a Edible Brands.
A empresa também está construindo uma loja conceito da Edibles no centro de Atlanta. Ela será proprietária das primeiras lojas de produtos de cânhamo sob esse conceito, mas eventualmente abrirá o modelo para franqueados. “Estamos tratando como uma loja estilo bodega,” diz Thomas Winstanley, vice-presidente executivo da Edibles.com. “Queremos que pareça uma experiência de consumo comum, mas elevada, premium, e que não passe a sensação de que você está entrando numa tabacaria ou posto de gasolina.”
Quando perguntada se a Edible Brands está apostando seu futuro na cannabis, Silber, filha do fundador, é clara: “Para nós, isso é apenas um dos pilares da nossa estratégia de crescimento,” ela diz. “Definitivamente não é algo de tudo ou nada. Vamos continuar diversificando e expandindo essa marca, assim como estamos fazendo com [nossas] outras marcas.”