
Centenas de frigoríficos dos EUA que receberam acesso à China em um acordo comercial da “Fase 1” de 2020 com o presidente Donald Trump devem perder a elegibilidade para exportação no domingo (16), ameaçando cerca de US$ 5 bilhões (R$ 28,6 bilhões na cotação atual) em comércio com o maior mercado de carnes do mundo em meio a uma nova guerra comercial.
Perder o acesso à China seria um novo golpe para os produtores americanos depois que Pequim impôs, no início deste mês, tarifas retaliatórias sobre cerca de US$ 21 bilhões (R$ 120,3 bilhões) em produtos agrícolas americanos, incluindo tarifas de 10% sobre as importações de carne suína, bovina e láctea dos EUA.
Pequim exige que os exportadores de alimentos se registrem na alfândega para vender na China. Os registros de quase 1.000 fábricas de carne bovina, suína e de aves, incluindo algumas de propriedade da Tyson Foods e da Cargill Inc, devem expirar no domingo, de acordo com os registros do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) e dados da alfândega chinesa. Isso representa cerca de dois terços de todos os registrados.
As empresas não quiseram comentar ou não responderam às perguntas da Reuters.
A China não respondeu às repetidas solicitações das agências norte-americanas para renovar os registros das plantas, disse o USDA em um relatório na semana passada, o que pode violar uma obrigação prevista no acordo da Fase 1.
Os registros de cerca de 84 fábricas expiraram em fevereiro e, embora as remessas das fábricas afetadas continuem a ser liberadas pela alfândega, o setor não sabe por quanto tempo a China permitirá as importações.
“O risco envolvido no envio de produtos com uma data de validade iminente é alto”, disse Joe Schuele, porta-voz da Federação de Exportação de Carnes dos EUA, à Reuters.
“A situação é certamente terrível (para registros) se essas plantas não forem renovadas. A situação chama a atenção de todos os exportadores.”
O USDA fez dos vencimentos uma questão prioritária nas discussões com Pequim, acrescentou Schuele.
O porto de Xangai também impôs inspeções e documentação mais rigorosas para as cargas de carne dos EUA, informou a Federação aos membros em um boletim visto pela Reuters, com alguns contêineres sujeitos a desembalagem e inspeção completas, aumentando o tempo de processamento e as taxas adicionais.
Para ter certeza, não há sinais que sugiram que Pequim esteja impondo uma proibição geral. Várias centenas de fábricas tiveram seus registros renovados até 2028 ou 2029, de acordo com um diplomata sênior baseado em Pequim.
Os EUA foram o terceiro maior fornecedor de carne da China no ano passado, depois do Brasil e da Argentina, respondendo por 590.000 toneladas ou 9% do total das importações.
O USDA e o Escritório do Representante Comercial dos EUA não responderam às perguntas da Reuters na quinta-feira (13). O Ministério do Comércio e o departamento de alfândega da China não responderam às perguntas enviadas por fax.
O Ministério das Relações Exteriores da China redirecionou as perguntas para outras agências sem nomear nenhuma.
O acordo comercial da “Fase 1”, assinado em 2020, encerrou a primeira guerra comercial entre os EUA e a China com a promessa de Pequim de aumentar suas compras de bens e serviços dos EUA, incluindo carne, em US$ 200 bilhões (R$ 1,146 trilhão) em dois anos. A China não atingiu a meta, que foi acordada pouco antes da chegada da pandemia.
Naquele ano, 1.124 plantas de processamento de carne bovina, aves e suína ou instalações logísticas foram registradas na alfândega chinesa para exportação, de acordo com o USDA, ganhando acesso ao maior importador de carne do mundo. Atualmente, há 1.842 instalações certificadas, mas um pouco menos da metade permanecerá se o lote de registros de domingo expirar.
De acordo com o acordo da Fase 1, a China é obrigada a revisar sua lista de instalações aprovadas dentro de 20 dias após receber listas atualizadas do Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar do USDA, de acordo com o Meat Institute, um grupo do setor para processadores de carne dos EUA. Não está claro se os atrasos atuais constituem uma violação do acordo.
O impacto potencial das licenças vencidas poderia totalizar até US$ 4,13 bilhões (R$ 23,6 bilhões) para o setor de carne bovina e US$ 1,3 bilhão (R$ 7,45 bilhões) para a carne suína, informou a Federação de Exportação de Carnes dos EUA em um boletim diário.
A perda de acesso à China seria um golpe especialmente duro para os exportadores de partes como pés de frango e miúdos de porco, que são menos consumidos no mercado interno.