
A pecuária brasileira, especialmente a de Mato Grosso, tem uma oportunidade inédita de mostrar ao mundo que é possível produzir carne com responsabilidade ambiental, inclusão social e viabilidade econômica. Em breve, essa narrativa poderá ser contada com ainda mais respaldo, por meio de uma iniciativa inovadora: o Passaporte Verde.
Idealizado pelo Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), o Passaporte Verde é um programa pioneiro, criado com base no Código Florestal Brasileiro e nas diretrizes de monitoramento do Ministério Público Federal (MPF). Ele foi construído com diálogo e participação ativa de pecuaristas, frigoríficos, governo estadual e instituições públicas e privadas — e nasce com um objetivo claro: garantir que a carne de Mato Grosso continue acessando os mercados mais exigentes do mundo, com credenciais sólidas de sustentabilidade.
Ao contrário de iniciativas punitivas ou excludentes, o Passaporte Verde é um programa inclusivo, pensado para apoiar o produtor rural. Ele não chega para multar, mas para orientar. E mais do que isso: busca agregar valor à produção pecuária, reduzindo o desmatamento ilegal, valorizando a biodiversidade, melhorando o balanço de emissões por arroba e incluindo pequenos e médios produtores na agenda da sustentabilidade.
A lógica é simples: quem produz com responsabilidade precisa de uma chancela que comprove isso. O passaporte permitirá atestar que a carne mato-grossense foi produzida com baixa emissão de carbono, em conformidade com a legislação ambiental e tudo monitorado — atributos que o mercado internacional valoriza cada vez mais.
O programa se sustenta em dois pilares. O primeiro é o compliance ambiental, viabilizado pelo Programa de Reinserção e Monitoramento (Prem), que permite que o produtor irregular continue no mercado formal enquanto trabalha para se regularizar. O segundo pilar é a intensificação produtiva: incentivo à recuperação de pastagens, aumento da produtividade, redução da idade de abate e melhoria da qualidade da carne, com impacto direto no balanço de carbono do rebanho.
Outro diferencial é o sistema de monitoramento. Ao contrário de modelos atualmente utilizados, como o Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (Sisbov), o Passaporte Verde traz uma abordagem mais prática, com regras de identificação simplificadas e substituição de brincos de forma rápida e eficiente.
Para os produtores, os benefícios vão além da valorização do produto. A adesão ao Passaporte Verde amplia o acesso a crédito rural, facilita a regularização ambiental com apoio técnico e cria oportunidades no mercado de carbono — além de contribuir para a reputação do setor e do estado como referência global em pecuária sustentável.
A meta é clara: monitorar os animais desde o nascimento até o abate, com total transparência. Mas o caminho será construído em etapas, respeitando o tempo de adaptação de cada produtor. Ninguém ficará para trás.
Essa proposta não surgiu do nada. Ela é fruto de articulação entre diferentes setores, com uma visão pragmática e moderna da produção rural brasileira. Mato Grosso, que já é protagonista na produção de carne, se fortalece também como referência em sustentabilidade, legalidade e inovação.
O Passaporte Verde representa uma nova etapa para a pecuária brasileira — uma etapa que concilia produção, preservação e prosperidade. Que outro país consegue produzir uma carne com tanta qualidade e responsabilidade ambiental?
A expectativa é que o projeto de lei que formaliza o programa avance na Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso nas próximas semanas. É hora de o Brasil comprovar que tem, sim, a carne mais sustentável do mundo.
*Caio Penido é pecuarista e presidente do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac).